quarta-feira, 2 de outubro de 2019

À espera da resposta certa

Os empresários portugueses têm, ao longo do último ano, exibido publicamente uma peculiar dificuldade em perceber porque é que não conseguem recrutar trabalhadores em número suficiente. O primeiro artigo de que me recordo de ler sobre o assunto foi sobre o setor da hotelaria e da restauração, especificamente no Algarve. Mais recentemente, sai novo artigo, desta vez citando empresários do setor florestal, que se queixavam que “nem com salários de mil euros” conseguiam encontrar trabalhadores suficientes. Já esta semana, apareceu mais um artigo, novamente citando os empresários da hotelaria e restauração, mas agora de todo o país.  

É verdade que não é a primeira vez que portugueses fazem uma pergunta com resposta óbvia, e que isso faz notícia. Há sempre o exemplo de Cavaco, que um dia perguntou o que era preciso fazer para que nascessem mais crianças. O curioso não é que fazer uma pergunta óbvia seja notícia - o facto de um empresário assumir que desconhece noções básicas de Economia merece ser notícia -, mas que a pergunta continue a ser feita, que continue a ser notícia, e que ninguém lhes responda.

A explicação de primeira aula de Microeconomia para este fenómeno é muito simples: Um empresário que procura trabalhadores, mas os trabalhadores não querem trabalhar para ele, terá de subir o salário. Se não conseguir subir o salário, e se o seu negócio não sobrevive sem esses trabalhadores, então não são os trabalhadores que estão a menos: é o negócio que está a mais. Tudo isto é relativamente simples, não é? Então o que é que os empresários não compreendem? 

Se calhar os gestores não percebem mesmo nada de Economia. Isso é uma das primeiras coisas que se ensinam nas faculdades de Economia - ainda antes, se calhar, daquela lição sobre os salários. Mas não é lá muito plausível - ao contrário da teoria dos salários. Uma explicação mais convincente é que sabem a resposta, mas não gostam dela. Eu também sei porque é que tenho um Clio, e não um Maserati, mas preferia outra resposta. Em vez de ser sincero comigo próprio e com os demais, podia, por exemplo, querer que alguém pagasse uma parte do Maserati, de modo a que o pudesse comprar ao preço do Clio. Só que não há muita gente que alinhe nisso. 

Conscientes disso, os empresários prefeririam que outros pagassem os salários que eles não querem pagar. Que o governo baixasse impostos, ou que aumentasse os subsídios, para os salários mais baixos. Ou que se reduzissem as prestações sociais, para que os trabalhadores fossem obrigados a aceitar trabalhar por menos.  Deteriorar as condições laborais e sociais, ou atribuir subsídios a atividades onde já há tanta oferta, não soa lá grande ideia, pois não? Os empresários concordam que não soa. Daí continuarem a fazer a pergunta errada, à espera que alguém lhes dê a resposta certa. 

16 comentários:

  1. Bom texto.
    Os seus colegas aqui deste blog, por outras palavras, fazem eco constante dessa pergunta.
    E alguns ate ensinam em faculdades de Economia.
    Os empresarios fazerem as perguntas erradas e bastante compreensivel conforme exposto aqui.
    Mas... economistas? Caramba, nao sao "cientistas"?

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    1. Obrigado.

      Olhe que arriscaria dizer que tenho a certeza que todos os meus colegas deste blog concordariam com o que escrevi.

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    1. Olha que pena! Parece que a resposta ou nao foi compreendida, ou, compreendida, nao tera sido apreciada. Em todo o caso, certamente fora do espectro de respostas permissiveis a pergunta de algibeira do venerando senador deste blog...

      Perplexo e transtornado afasto-me cabisbaixo...

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    2. Coo já lhe disse várias vezes, volte rapidamente. Os seus comentários e (boas) provocações são muito apreciados. (Pelo menos por mim.)

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  3. Apercebo-me agora da possibilidade improvavel, mas nao negligenciavel, de que o (longo) comentario meu submetido entre 03-10-2019 e 04-10-2019 em resposta a perguntinha de algibeira do venerando senador LAC se ter perdido acidentalmente no eter internautico.

    Nao me repetirei, pelo menos para ja.
    Mas fica aqui a versao curta a ver se desta vez passa este denso eter...
    Em resposta a sua pergunta LAC, consigo citar assim de cabeca 3. Fernando Alexandre (o leitor de sinas residente - ja agora como vai a teoria dos feriados?) , Rita Carreira (a tudologa convidada - que nao sabe distinguir um quartel de bombeiros funcional de um cenario para um programa de TV) e Luis Aguiar-Conraria (o venerando senador desta casa - vera maquina salsicheira de producao de secretarios de estado e ministros de Estado).

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    1. Lamento mesmo que se tenha perdido a mensagem. Ainda vou procurar no spam do blogger, mas geralmente lá não encontro nada de relevante.
      Quanto a mim, engana-se. Estou de acordo com o Luís Gaspar. Até pode ver aqui a minha reacção à notícia que motivou este post do Luis Gaspar: https://www.facebook.com/luis.aguiarconraria/posts/10220526421854534

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    2. Não está nada no spam do blogger. Tenho pena, mas a sua mensagem nãochegou mesmo a este lado.

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  4. Olha afinal passou... tentemos entao agora um sopusitorio mais dificil de administrar.

    Para comecar tenho de reconhecer um erro: no meu enfado resignado com que escrivia o meu segundo comentario de resposta acabei por me esquecer (ao contrario da primeira vez) por esclarecer que a resposta do Luis Gaspar e a sua consequente perguntinha de algibeira encerram tresleituras.
    O meu ponto inicial foi este:

    "Os seus colegas aqui deste blog, por outras palavras, fazem eco constante dessa pergunta."

    E nao concordancia com este texto do Luis Gaspar em especifico.

    E o eco consiste nisto. A vossa economia politica, pelo menos de voces 3 assenta constantemente na reducao naquilo que denominam "reducao do factor custo trabalho" - constantemente - sempre (claro!) para promover o emprego, competitividade e outras expressoes treteiras do economes.

    Assim sendo, voces representam, precisamente, conforme o Luis Gaspar diz "a resposta certa" de que esta classe empresarial mediocre naturalmente procura.

    Folgo em notar que o LAC la se dignou a gastar 10 segundos do seu tempo a responder o que respondeu a entrevista - no facebook... onde depois uma catadupa de comentadores neoliberais se entretem a negar (sem contraditorio seu o que escreveu). Mais noto que para o LAC tem loja montada na retrete do Observador, um blog, aparicoes regulares na TV etc e mais nao sei que... mas quem no fim teve de fazer um texto pensado, estruturado e mais ou menos fundamentado, foi... O prestavel Luis.

    E neste pauperrimo campeonato o LAC ainda consegue a proeza de ficar uns pontos acima da Tudologa convidada e o Leitor de sinas residente.

    O vosso registo historico e silencio presente, sao o eco (ribombante) a que me refiro neste tema.
    Micro-textos no facebook nao alteram de forma substantiva nada de relevante.

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    1. Pode ler este meu artigo se quer ler um texto estruturado, e poderá ver que eu e o Luís Gaspar estamos de acordo:
      https://www.publico.pt/2019/04/24/economia/opiniao/problema-nao-salario-minimo-medio-1870175

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    2. "Olha afinal passou... tentemos entao agora um sopusitorio mais dificil de administrar."

      Lowlander, como já lhe disse mais do que uma vez, gosto muito de o ter por aqui a comentar. Gosto muito das suas provocações e tenho pena de não ter mais disponibilidade para lhe responder.
      Mas se volta a insinuar que lhe andamos a censurar os comentários, deixo de lhe responder totalmente. Simplesmente, não lhe admito isso.

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    3. Comecando pelo fim LA-C, o que "simplesmente admite" ou deixa de "simplesmente admitir" e o lado para onde durmo melhor - essa linha de resposta e pateta e patetica.
      O blog e seu e o criterio de publicacao tambem. Concomitantemente, o criterio dos meus comentarios e meu.

      Afirma que nao censurou? OK. O nosso historial testemunha em sua defesa e por isso estou disposto a acreditar em si. Fiz uma piada amigo - respire fundo e responda com um comentario jocoso a deficiente ortografia empregue.

      A unica real chatisse naquilo que me toca pessoalmente e que alguns comentarios que aqui escrevo demoram as vezes tempo a pensar e escrever (e mesmo assim saem com erros), e so por isso apreciaria que, caso decisoes censorias sejam feitas haja um pouco previsibilidade para quem comenta.

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    4. Quanto ao fulcro da discussao:

      Eu acima explico o meu raciocinio na forma como respondi a sua perguntinha de algibeira. REPITO:

      "O meu ponto inicial foi este:

      "Os seus colegas aqui deste blog, por outras palavras, fazem eco constante dessa pergunta."

      E nao concordancia com este texto do Luis Gaspar em especifico.

      E o eco consiste nisto. A vossa economia politica, pelo menos de voces 3 assenta constantemente na reducao naquilo que denominam "reducao do factor custo trabalho" - constantemente - sempre (claro!) para promover o emprego, competitividade e outras expressoes treteiras do economes."

      Ora o LAC insiste em linkar um texto sobre a concordancia pontual com o que aqui e discutido. Afinal gastou mais que os 10 segundos do facebook? Epah parabens! Que quer que lhe diga?

      No entretanto uma rapida pesquisa pelo google com as palavras-chave "salario" e "Luis Aguiar Conraria" revela artigos (de acesso gratuito) como estes:

      https://observador.pt/opiniao/a-vantagem-de-ter-mario-centeno-no-governo/

      https://observador.pt/opiniao/esquerda-salario-minimo-hipocrisia/

      https://sol.sapo.pt/artigo/413363/luis-aguiar-conraria-economia-ficaria-a-ganhar-com-alguns-milhares-de-refugiados

      http://destrezadasduvidas.blogspot.com/2013/11/sobre-o-aumento-do-salario-minimo.html

      https://www.esquerda.net/artigo/ao-cafe-com-vitor-bento-sobre-o-smn/46062

      https://expresso.pt/blogues/bloguet_economia/blogue_econ_aurora_teixeira/2017-12-01-Por-os-pontos-nos-is

      http://aliastu.blogspot.com/2008/03/t.html?m=0

      E ate um livro! Onde juntamente com o leitor de sinas justifica o descalabro da economia politica da Troika

      https://books.google.co.uk/books?id=B-AkDAAAQBAJ&pg=PT147&lpg=PT147&dq=luis+aguiar+conraria+salario&source=bl&ots=SbBlheiDW5&sig=ACfU3U3sYkiyUNRRwWT0gLJM1CGy7ENUig&hl=en&sa=X&ved=2ahUKEwiBgPvt6cblAhUHfMAKHabeAu44ChDoATAMegQICBAB#v=onepage&q=luis%20aguiar%20conraria%20salario&f=false

      Qual e o tema comum a todos? E preciso reduzir os custos com o "factor trabalho" para ..... (preencher com tema de economia politica)

      Um caso vero de uma solucao a procura de problemas...

      O LA-C representa a exaustao as respostas certas que esta mediocre elite procura.

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  5. Olha afinal passou... tentemos entao agora um sopusitorio mais dificil de administrar.

    Para comecar tenho de reconhecer um erro: no meu enfado resignado com que escrivia o meu segundo comentario de resposta acabei por me esquecer (ao contrario da primeira vez) por esclarecer que a resposta do Luis Gaspar e a sua consequente perguntinha de algibeira encerram tresleituras.
    O meu ponto inicial foi este:

    "Os seus colegas aqui deste blog, por outras palavras, fazem eco constante dessa pergunta."

    E nao concordancia com este texto do Luis Gaspar em especifico.

    E o eco consiste nisto. A vossa economia politica, pelo menos de voces 3 assenta constantemente na reducao naquilo que denominam "reducao do factor custo trabalho" - constantemente - sempre (claro!) para promover o emprego, competitividade e outras expressoes treteiras do economes.

    Assim sendo, voces representam, precisamente, conforme o Luis Gaspar diz "a resposta certa" de que esta classe empresarial mediocre naturalmente procura.

    Folgo em notar que o LAC la se dignou a gastar 10 segundos do seu tempo a responder o que respondeu a entrevista - no facebook... onde depois uma catadupa de comentadores neoliberais se entretem a negar (sem contraditorio seu o que escreveu). Mais noto que para o LAC tem loja montada na retrete do Observador, um blog, aparicoes regulares na TV etc e mais nao sei que... mas quem no fim teve de fazer um texto pensado, estruturado e mais ou menos fundamentado, foi... O prestavel Luis.

    E neste pauperrimo campeonato o LAC ainda consegue a proeza de ficar uns pontos acima da Tudologa convidada e o Leitor de sinas residente.

    O vosso registo historico e silencio presente, sao o eco (ribombante) a que me refiro neste tema.
    Micro-textos no facebook nao alteram de forma substantiva nada de relevante.

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  6. Olha afinal passou... tentemos entao agora um supositorio mais dificil de administrar.

    Para comecar tenho de reconhecer um erro: no meu enfado resignado com que escrivia o meu segundo comentario de resposta acabei por me esquecer (ao contrario da primeira vez) por esclarecer que a resposta do Luis Gaspar e a sua consequente perguntinha de algibeira encerram tresleituras.
    O meu ponto inicial foi este:

    "Os seus colegas aqui deste blog, por outras palavras, fazem eco constante dessa pergunta."

    E nao concordancia com este texto do Luis Gaspar em especifico.

    E o eco consiste nisto. A vossa economia politica, pelo menos de voces 3 assenta constantemente na reducao naquilo que denominam "reducao do factor custo trabalho" - constantemente - sempre (claro!) para promover o emprego, competitividade e outras expressoes treteiras do economes.

    Assim sendo, voces representam, precisamente, conforme o Luis Gaspar diz "a resposta certa" de que esta classe empresarial mediocre naturalmente procura.

    Folgo em notar que o LAC la se dignou a gastar 10 segundos do seu tempo a responder o que respondeu a entrevista - no facebook... onde depois uma catadupa de comentadores neoliberais se entretem a negar (sem contraditorio seu o que escreveu). Mais noto que para o LAC tem loja montada na retrete do Observador, um blog, aparicoes regulares na TV etc e mais nao sei que... mas quem no fim teve de fazer um texto pensado, estruturado e mais ou menos fundamentado, foi... O prestavel Luis.

    E neste pauperrimo campeonato o LAC ainda consegue a proeza de ficar uns pontos acima da Tudologa convidada e o Leitor de sinas residente.

    O vosso registo historico e silencio presente, sao o eco (ribombante) a que me refiro neste tema.
    Micro-textos no facebook nao alteram de forma substantiva nada de relevante.

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