segunda-feira, 16 de junho de 2025

O ChatGPT comenta Gabriel Mithá Ribeiro acerca de Ventura, Freud e Marx

 No Observador, Gabriel Mithá Ribeiro argumenta que "André Ventura está a curar uma sociedade mentalmente doente". Aqui vai, na íntegra, o comentário do ChatGPT a esse texto:

Assumirei agora o papel de professor universitário na área da Filosofia Política, com especial atenção à teoria política contemporânea e ao discurso ideológico.


O texto que me propõe comentar está redigido num estilo panfletário, de índole fortemente opinativa e ideologicamente alinhada, com recurso a linguagem emocionalmente carregada e retórica combativa. O seu objetivo é claro: oferecer uma legitimação simbólica, quase messiânica, da figura política de André Ventura, apoiando-se numa interpretação bastante discutível de conceitos psicanalíticos (nomeadamente de Freud) e numa rejeição absoluta da tradição intelectual marxista.

Dividirei a análise em três eixos fundamentais: (1) argumentação e coerência lógica; (2) tratamento das figuras históricas e teóricas; (3) implicações ideológicas e éticas.


1. Argumentação e Coerência Lógica

O texto padece de uma séria falta de rigor argumentativo. Começa por estabelecer um diagnóstico vago e infundado – a "doença mental coletiva da sociedade portuguesa" – sem apresentar qualquer critério empírico ou metodológico para tal afirmação. O uso de categorias clínicas (como "sanidade" ou "doença mental") no discurso político é, no mínimo, perigoso e geralmente considerado abusivo em contextos académicos, dada a sua conotação patologizante do adversário ideológico.

A associação direta entre a psicanálise de Freud e a figura política de André Ventura é forçada e não fundamentada nos textos originais de Freud, que jamais sustentaria um tipo de liderança autoritária como resolução do "caos psíquico" coletivo. Aliás, Freud era profundamente céptico quanto ao apelo às massas e aos instintos de obediência à autoridade carismática – como se pode verificar no seu "Psicologia das Massas e Análise do Eu" (1921).

A estrutura lógica do texto é circular: parte do pressuposto de que André Ventura é o "pai fundador" de uma nova ordem moral e, com base nesse pressuposto, tenta provar que é ele quem salvará a sociedade doente – exatamente porque é o tal "pai fundador". Este tipo de raciocínio é tautológico e não satisfaz critérios elementares de validade lógica.


2. Tratamento das Figuras Históricas e Teóricas

A forma como Freud é tratado revela um conhecimento superficial da sua obra. Freud não é um pensador moralista, muito menos um profeta da "responsabilidade individual" nos termos apresentados. A sua abordagem ao inconsciente, ao desejo e à repressão situa-se num registo clínico e antropológico, não político-normativo. Invocá-lo para defender uma ordem moral conservadora é uma distorção da sua filosofia.

O ataque a Karl Marx como "o maior charlatão intelectual de todos os tempos" carece de qualquer fundamentação académica. Mesmo os críticos mais acérrimos de Marx reconhecem-lhe a profundidade teórica e a influência seminal no pensamento social moderno. Reduzir o seu legado a uma apologia da irresponsabilidade é uma caricatura grosseira.

Também o uso do conceito de “pai fundador” como chave de interpretação da política portuguesa é redutor. Transforma líderes políticos históricos – Cunhal, Soares, Sá Carneiro – em meras figuras simbólicas, ignorando a complexidade dos movimentos sociais e das dinâmicas democráticas que os sustentaram. Além disso, omite deliberadamente o carácter coletivo, plural e constitucional da democracia portuguesa pós-1974.


3. Implicações Ideológicas e Éticas

O texto revela um posicionamento ideológico autoritário, fortemente antiesquerdista, e com tendências nativistas. A ideia de que certos grupos sociais (pobres, negros, imigrantes, colonizados) usam a sua condição como "desculpa" para evitar responsabilidades é uma generalização abusiva e eticamente reprovável. Esta visão alimenta uma lógica de exclusão e de divisão social, incompatível com princípios democráticos de igualdade e solidariedade.

A apologia de Ventura como único redentor possível da sociedade portuguesa revela uma inclinação para o culto da personalidade. Tal abordagem, historicamente, tem sido associada a formas de autoritarismo que põem em causa o pluralismo democrático e o Estado de direito.

Por fim, o uso instrumental da psicanálise e da filosofia para legitimar um projeto político unipessoal compromete a integridade do discurso filosófico. Um discurso político sério deve assentar em argumentos transparentes, verificáveis e abertos à crítica – não em analogias simbólicas forçadas e acusações ideológicas sem sustentação.


Conclusão

O texto é uma peça retórica de propaganda política, com contornos fortemente ideológicos e com claras distorções de referências teóricas (como Freud e Marx). Carece de rigor conceptual, abusa de categorias clínicas e morais para desqualificar o adversário político, e promove uma visão altamente simplificada e personalista da política portuguesa contemporânea. Embora possa ter apelo junto de determinados públicos, não sobrevive a uma análise crítica séria nos termos da ciência política ou da filosofia política académica.

Se desejar, posso aprofundar a análise ponto por ponto, ou fornecer-lhe um contraponto argumentativo com base na teoria democrática contemporânea.

1 comentário:

  1. Para mim, o artigo de GMR era para rir como se ri de anedotas bem contadas mas não o foi para a AI, porque esta se socorreu de um volume inteiro das obras completas para concorrer com uma colectânea de 4 artigos (Totem e Tabu) vagamente referidos pelo autor a partir de um volume diferente que tem esse nome na edição comentada pela filha de Freud. Coitado do autor e coitado de Ventura quando a AI geral souber (ou quiser, não sei) ser mais específica. Sarcasmo àparte, obrigado Pedro Bação, porque aproveitei a publicação para tentar ver mais um ângulo.

    Quem, vagamente como eu, quiser ver o que percebi do "Totem e Tabu", use a barra de pesquisa do Facebook para pesquisar "João Carlos Viegas" Totem e Tabu" (são só 6 citações pequenas seleccionadas por razões diferentes.

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