A ETA proclamou recentemente um cessar de fogo. Em princípio, é uma boa notícia, depois de 50 anos de atentados, 800 vítimas e 100 sequestros.
Durante a ditadura, a luta da ETA recolheu muitas simpatias, a tal ponto que, ainda hoje, o brutal assassinato do putativo sucessor de Franco, o almirante Carrero Blanco, em 1973, é visto por muitos como um dos grandes serviços que aquela “organização” prestou à pátria.
Com a chegada da democracia, a ETA deixou de fazer qualquer sentido. Em 1982, houve uma autodissolução de um sector, os chamados "polis-milis", que optaram pela via política, enquanto o resto do grupo preferiu prosseguir com a luta armada (leia-se: terrorismo). Parece que estão profundamente debilitados, já que, por um lado, a esquerda “abertzale” (nacionalista) os pressionou bastante para porem fim à violência e, por outro, a cúpula, que agora está encarcerada, decidiu cessar os atentados (de facto, há dois anos que não havia nenhum).
Todavia, ainda não depuseram as armas. Esperemos que não aconteça o mesmo que em 1982: muitos fizeram da luta a sua forma de vida e não será fácil integrá-los socialmente. Como dizia um dos pais das vítimas: "espero não ter como vizinho o assassino do meu filho".
Em 1982, ninguém lhes exigiu que entregassem as armas nem que reconhecessem as vítimas. Foram simplemente amnistiados.
Que acontecerá agora com os 700 presos etarras e com os que estavam a ser perseguidos pelas autoridades? Que atitude terão os familiares das vítimas?
Não será tudo isto mais uma artimanha da ETA para ganhar tempo e reorganizar-se, como já fez em várias ocasiões no passado?
Esperemos que os políticos espanhóis estejam à altura das circunstâncias. Uma coisa é certa: ainda que a violência termine, o conflito político com os independentistas continuará.
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