Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Ferreira Leite, hemodiálise e a riqueza do país
Disse Manuela Ferreira Leite que o Estado não poderá pagar a hemodiálise porque "O país não produz riqueza para isso." Como economista, MFL deveria lembrar-se que a riqueza de um país nunca chega para todas as necessidades, reais ou imaginadas. Esse é o problema económico, o da escassez. E para lidar com esse problema, é necessário fazer escolhas. O problema com os gastos na saúde não é apenas um problema de "quanto se gasta" mas também um problema de "se gastarmos na saúde, onde teremos de poupar?". Pagar ou não pagar a hemodiálise não é um problema de não haver riqueza no país. É antes de sabermos em que nível de prioridade estão estes gastos. Quanto a mim, não tenho dúvidas sobre o nível em que estão.
Nao que seja de acordo com MFL. Geralmente nao ha coisa que a senhora diga com que eu acene a cabeca, e este caso da hemodialise e' um deles.
ResponderEliminarNo entanto, tenho que concordar que Portugal nao produz riqueza para suportar alguns tratamentos que oferece no SNS actualmente.
O caso da hemodialise vs melhor tratamento de suporte conservador, e' um exemplo famoso. Custa (custava) cerca de $USD 50,000/QALY (segundo avaliacoes economicas americanas feitas nos anos 80). Este valor, traduzido, foi visto como o limiar socialmente aceite pela sociedade britanica para pagar por ano de qualidade de vida adjustado ganho com uma intervencao de saude. (The guidelines manual, chapter 7, NICE, Jan 2009). O exemplo da hemodialise pode ser lenda urbana (Grosse, Pharmocoeconomics 2008) mas a verdade e' sao raras as tecnologias oferecidas no UK acima dos £30K/QALY porque e' considerado que o pais nao tem riqueza para as pagar.
Claro que estes custos (da hemodialise e outros) nao se transferem directamente de pais para pais, e claro que o que um pais considera que pode pagar nao e' o mesmo que outro. Dai que ilacoes directas dos casos americanos e ingleses nao se podem fazer para Portugal. No entanto, o que me parece mal, e' dizer-se que Portugal pode ou nao pagar tratamentos, sem qualquer estudo feito onde basear a decisao.