domingo, 5 de fevereiro de 2012

Para baralhar


Depois de expor a teoria do professor Professor Shane Frederick no post anterior, fui rever Blink! (piscar de olhos) de Malcolm Gladwell. Eis alguns excertos:

Blink! fala sobre o conhecimento rápido, sobre o tipo de pensamento que acontece num piscar de olhos. Quando vemos alguém pela primeira vez, quando entramos numa casa que estamos a pensar comprar ou lemos as primeiras frases de um livro, a nossa mente demora cerca de dois segundos a tirar uma série de conclusões. Bem, Blink! é um livro acerca desses dois segundos, porque penso que essas conclusões instantâneas que tiramos são verdadeiramente poderosas, francamente importantes e, ocasionalmente, boas.

Também poderia dizer-se que é um livro sobre intuição, mas eu não gosto dessa palavra. Na verdade, ela nunca aparece em Blink!. A intuição parece-me um conceito que usamos para descrever reacções emocionais, opiniões instintivas – pensamentos e impressões que não parecem inteiramente racionais. Porém, estou convencido de que o que acontece nesses primeiros dois segundos é perfeitamente racional. E o pensamento – é apenas pensamento que se processa um pouco mais depressa e um funciona um pouco mais misteriosamente que o tipo de decisão deliberada e consciente, que associamos normalmente ao “pensamento”. Em Blink! estou a tentar compreender esses dois segundos. Que se passa nas nossas cabeças quando temos um conhecimento rápido? Quando é que as avaliações instantâneas são boas e quando é que não são?

(…)

Vivemos numa sociedade devotada à ideia de que o melhor é reunir o máximo de informações possível e gastar todo o tempo possível em deliberação. Quando somos crianças, esta lição é-nos repetida vezes sem conta: a pressa é inimiga da perfeição, olha antes de saltar, pára e pensa. Porém, não acredito que seja verdade. Há muitas situações – especialmente em momentos de grande pressão e tensão – em que a pressa não é inimiga da perfeição, em que as
nossas avaliações instantâneas e primeiras impressões nos proporcionam um meio muito melhor de compreender o mundo.

Mas, por outro lado, Gladwell está também interessado:

(…) em compreender os géneros de situações em que temos de ter cuidado com os nossos poderes de conhecimento rápido. Por exemplo, há um capítulo onde falo muito acerca do que significa para um homem ser alto. Telefonei para várias empresas americanas da Fortune 500 e perguntei qual era a altura do seu director-geral. E a conclusão a que cheguei foi que eram quase todos altos. Ora, isso é estranho. Não existe correlação entre altura e inteligência, nem altura e avaliação, nem altura e capacidade de motivar e liderar pessoas. Porém, por algum motivo as empresas escolhem esmagadoramente pessoas altas para cargos de liderança. Penso que é um exemplo de conhecimento rápido: acontece alguma coisa nos primeiros segundos em que se conhece uma pessoa alta que nos deixa predispostos a pensar que essa pessoa é um líder eficiente.



Em suma, Gladwell conclui:

Com Blink!, estou a tentar ajudar as pessoas a distinguirem o seu conhecimento rápido bom do seu conhecimento rápido mau.

4 comentários:

  1. Não com o intuito de baralhar, gostaria apenas de referir que o assunto em questão é central na investigação no campo da ciência cognitiva realizada por Daniel Kahneman e Amos Tversky. Amos faleceu em 1996 e Kahneman foi prémio Nobel da Economia em 2002.

    Recentemente, Kahneman publicou "Thinking, Fast and Slow" um livro de divulgação trabalhos que realizou com Tversky ao longo de décadas.

    Ando a ler.
    Slowly.

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  2. O livro deve ser interessante. Vou já procurá-lo na Amzon.
    Fico a aguardar, com curiosidade, os seus comentários ao livro. Ó Rui, já agora, quais são as suas primeiras impressões?

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  3. O do Gladwell é excelente, como todos os seus livros o são. No entanto, ele muita vezes parece não distinguir entre correlação e causalidade, sendo que muitos dos estudos e situações que ele relata padecem de evidentes problemas de auto-selecção. Assim, apesar de entusiasmantes, os livros dele têm de ser lidos com um pé atrás. Em relação às conclusões e interpretações dele sobre o sucesso de pessoas altas, estudos posteriores à publicação vieram a mostrar que estavam, no essencial, erradas.
    O livro indicado pelo Rui Fonseca também já está dentro do meu ipad, mas ainda não o comecei a ler.

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  4. "quais são as suas primeiras impressões"

    Ainda estou no princípio, a sair das primeiras 100 páginas.
    Como já dei uma saltada a alguns capítulos seguintes, creio que o livro ganha cada vez mais interesse à medida que se avança na sua leitura.

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