quarta-feira, 2 de maio de 2012

Grotesco*

Lembro-me de ter lido, há uns tempos, que ser de esquerda ou de direita eram simplesmente duas formas diferentes de ser estúpido.
Hoje, leio isto -- no extremo esquerdo no nosso espectro partidário -- e leio isto -- de uma governante no extremo direito do nosso espectro partidário -- e concluo que, em Portugal, ser de  esquerda ou de direita são simplesmente duas formas de ser igualmente estúpido.

* Título roubado ao André. Lamento o plágio, mas não encontro um título mais adequado.

16 comentários:

  1. E a escolha do 1 de Maio para sujeitar os trabalhadores a uma coisa destas, se não é grotesco é o quê?

    Acredite que no tempo em que ainda havia direita e esquerda, nenhum empresário se atrevia a confundir valores humanos com baixos preços. Com tantos dias por ano para fazer dinheiro, o 1 de Maio era um dia à parte. Sei que os tempos mudaram e que, aos olhos de alguns, isto possa mesmo parecer estúpido. Acontece que, por vezes, é necessária alguma dessa estupidez para mudar as coisas. Os tontos que em mil oitocentos e tal saíram à rua em Chicago, nada ganharam a não ser chumbo e porrada. Mas no final, ganhámos todos. Pelo menos um feriado, um feriado que há que respeitar.

    Jaime Carvalhosa

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  2. Todos, todos, não. Nos Estados Unidos, onde se deu o massacre, não se celebra o 1.º de Maio. Nunca percebi porquê. O dia do trabalhar celebra-se no início de Setembro.
    E eu e pelo menos mais 5 colegas que estavam comigo a trabalhar num projecto também não respeitámos o feriado. Ficámos a trabalhar o dia todo.

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  3. "E a escolha do 1 de Maio para sujeitar os trabalhadores a uma coisa destas, se não é grotesco é o quê?"

    A escolha do dia 1 de Maio é uma estratégia de marketing que, provavelmente, não estará desligada do facto de os sindicatos terem apelado ao boicote dos consumidores aos produtos desses supermercados nesse dia. Será de esperar que uma empresa que se vê alvo de pedidos de boicote não possa sequer reagir baixando os preços durante o aprazado boicote?

    Quanto aos trabalhadores forçados. Não conheço detalhes. Pelo que sei, mas posso estar enganado, receberam o dobro de um dia normal, terão um dia de férias adicional e poderão fazer as compras com desconto de 50% num outro dia, sem terem de enfrentar aquelas grandes bichas.
    Como disse, eu estive a trabalhar no 1 de Maio e ninguém me pagou a dobrar, não receberei um dia de férias adicional e perdi as promoções do Pingo Doce.
    A ama da minha filha, que recebe algo entre 500 e 600€ mês, líquidos, poupou 150€ no dia 1 de Maio.
    Ou seja, este mês, o seu rendimento líquido real foi 25 a 30% maior do que nos outros meses.

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    1. Investigadores universitários -- tal como um escritor ou um pintor --
      não devia sistematicamente gabar-se por trabalhar aos feriados e fins de semana sem receber horas extraordinárias e, ainda por cima, colocar esse seu PREVILÉGIO em paralelo com a condição laboral do tipo que trabalha num supermercado, ou outro que limpa as ruas ou outro que lhe limpa a casa de banho no departamento.

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    2. Miguel, expliquei-me mal (ou o Miguel percebeu mal).
      O meu objectivo não era o de fazer paralelos entre condições laborais. Era o de simplesmente dizer que há pessoas que não fazem do 1 de Maio o sabbath, em que não se pode trabalhar.
      E se há muitas pessoas que tratam o 1 de Maio como um Domingo ou um feriado qualquer, então é perfeitamente normal que haja trabalhadores do Pingo Doce que tenham ido trabalhar neste feriado, como o vão em quase todos os outros, sem que tal tenha sido o resultado de ameaças. Espero ter-me explicado melhor agora.

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  4. Alguém que assina como Maquiavel deixou um comentárioque, por qualquer motivo, não está a aparecer. Vou transcrevê-lo:

    Para escrever "estive a trabalhar no 1 de Maio e ninguém me pagou a dobrar, não receberei um dia de férias adicional e perdi as promoções" o sr. Luís deve ser empresário, logo trabalha quando quer e quanto quer, e o lucro que tiver é seu e só seu.

    Eu também sou empresário e trabalho por projectos, näo por horário continuado. E? É uma escolha, e näo me queixo, até cobro mais alto que a média, mas os meus clientes sabem que o trabalho aparece bem feito, a tempo e horas. Se näo gosta, pode até pedir emprego ao Soares dos Santos para ganhar o dobro trabalhando nos feriados.

    Näo é por pagar a 200% aos trabalhadores que se desculpa a coacçäo e ameaça se näo aparecerem, porque esse pagamento extra está definido na Lei, e näo é caridade dos patröes. Se a ama da sua filha gasta tanto no supermercado, comece a ir ao Lidl. É mais barato que o PD de 10 a 20% o ano inteiro.

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  5. "o sr. Luís deve ser empresário, logo trabalha quando quer e quanto quer, e o lucro que tiver é seu e só seu."

    Bem, basta seguir os links que aí tenho no lado direito para descobrir que sou funcionário público.
    Quanto ao 3º parágrafo, espero que entenda que a minha ama vai onde lhe apetece e você nada tem a ver com isso e é preciso ser-se bastante estúpido para pensar que pode dar conselhos sobre onde ela deve ir. Faz alguma ideia das ciscunstâncias dela?, se tem carro?, a que distância está o Lidl de casa dela?, a que distância está o Pingo Doce?, etc?

    Quanto à alegada coacção, se houve coacção, foi violada a lei da greve. Se foi violada a lei da greve isso tem de ser tratado nesses termos, e nos tribunais, e não com estas discussões grotescas em que se chama mortos-vivos aos clientes de um supermercado e se anda a prometer a proibição das promoções.

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  6. Só uma coisa acerca do pagamento extra definido na lei - eu não tenho certeza absoluta do que vou dizer, mas penso que o que a lei define é um pagamento adicional de 50% ou um dia de folga; se o Pingo Doce paga 200% e um dia de folga, parece-me que está efectivamente a pagar mais do que o mínimo legal.

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    1. Bem, de acordo com as últimas indicações, o pagamento será a 500%, o que deve incluir um dia de folga. Ou seja 400% mais um dia de folga. Requiem pelos "coitadinhos dos trabalhadores que foram explorados".

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  7. Obrigado pela sua resposta, Luís.

    "A escolha do dia 1 de Maio é uma estratégia de marketing (...)"

    Não insulto quem foi ao Pingo-Doçe na Terça-Feira. Como diz o Luís, quem vive com 500 euros tem, antes que tudo, que assegurar a subsistência. Mas chamar marketing a esta afronta é, ou simplista, ou hipócrita. É óbvio que o que o PD quis demonstrar é que é mais forte que os sindicatos, que os trabalhadores e mesmo que o Governo. Para tal socorreu-se de um expediente grotesco. Humilhou o Governo, incumprindo a lei da concorrência na cara da autoridade (daí a atabalhoada reacção de A. Cristas). Humilhou os sindicatos, deixando claro que a esmagadora maioria dos portugueses se está nas tintas para o 1 de Maio a troco de umas dezenas de euros. Prejudicou os trabalhadores que, para o ano que vem, se terão que habituar a trabalhar no "dia do consumidor"; possivelmente já sem horas extraordinárias. Sucesso a 100%!

    Há não mais de 30 anos, a ideia de tratar cada trabalhador como um agente livre que vende os seus serviços, tal qual um empresário por conta própria vende um produto, era algo saído dos livros de história do tempo da revolução industrial. De um tempo de Dickens. E atenção, este era o discurso de gente como Amaro da Costa, Sá Carneiro, Pinto Balsemão, sem nada que ver com esquerdismos. Hoje a intelectualidade portuguesa volta atrás na história e sai a terreiro como quem descobriu a pólvora para... defender os mercados: o que os mercados ditam é justo, manda quem paga e o resto são tretas. Entende-se e é simples. E voltará a parecer grotesco em meia dúzia de anos.

    Jaime Carvalhosa

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  8. "incumprindo a lei da concorrência na cara da autoridade "

    Que lei da concorrência é que foi incumprida? Pelo contrário, a reacção de Cristas mostra que, de facto, nenhuma lei foi violada. A única coisa que aconteceu foi a dessacralização de um dia que os sindicatos consideravam santo. Os sindicatos estão a ter a reacção que a Igreja teria se isto se passasse no dia 25 de Dezembro.

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  9. Faltam vírgulas e senso4 de maio de 2012 às 01:55

    que ser-se de esquerda ou de direita(,) era(m) simplesmente duas formas diferentes de se ser estúpido.

    estar num estado de estupor é a condição normal de qualquer humano

    há alguns que se estupidificam claro bye

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  10. Corrija não...admitir o erro dá azia4 de maio de 2012 às 21:27

    E precisa por bloque no blogue não
    Mim já leu tudo 124 postes...curtinhos

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  11. Admitir o erro dá azia? Só se fosse parvo. Muito pelo contrário, se não tenho medo de errar é porque estou sempre disponível para corrigi-lo.

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  12. Olhe, Aguiar-Conraria, topa-se logo os invejosos do dinheiro. Creio que há uma "verdade" desde há milénios – sem capital não há trabalho e sem trabalhador não há capital. Ambas as partes devem concorrer para a riqueza comum.
    Abraço de quem o estima, há anos, pela sua postura.

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