No
dia 30 de Junho p.p., publicou o “Diário Insular” um artigo intitulado: "Hajam novamente navegadores em
Portugal", do gestor Gustavo Neves Lima. O articulista cometeu um erro de
lesa-língua na conjugação do verbo haver, asneira cada vez mais ouvida e
escrita, para cúmulo em título, para melhor dar nas vistas a quem só lê os
cabeçalhos... São já tantas as cornadas na Língua Portuguesa, que, qualquer
dia, a nossa Pátria, na expressão de Fernando Pessoa (o único bem que ainda nos
resta), tomba, exangue, na valeta das inutilidades... Oxalá não caia sozinha,
mas, antes, acompanhada pelo Novo Acordo Ortográfico, uma das facadas mais fundas
no coração da Língua... O verbo haver, impessoal, e com o sentido de existir, só se conjuga na terceira
pessoa do singular, como toda a gente devia saber, muito mais uma pessoa com um
curso superior (ou talvez não!) e outros mal-afortunados jornalistas da
imprensa escrita, da rádio e da televisão, ministros, licenciados da mula ruça,
doutorados pela Internet, muitos dos quais pouco pescam das regras da língua falada e escrita, não só no que
respeita ao verbo haver, como a outros itens
fundamentais da gramática elementar…
O
verbo haver apenas se conjuga no plural nos verbos compostos, com o sentido de
ter: haviam feito (tinham feito), houveram feito (tiveram feito), etc… Na
forma perifrástica, porém, é que a porca torce o rabo e, não raro, o mais
letrado cai na esparrela: devia haver
mais espectáculos de teatro (a muito boa gente cai-lhe a boca para a asneira e
diz deviam haver); disseram-me que tinha havido muitas procissões no Verão
(e não tinham havido); para o ano vai haver muitas festas nas freguesias
rurais (e não vão haver)...
Agora,
alguns exemplos de haver, como verbo impessoal e com o sentido de existir:
houve um aluno que insultou o professor em plena aula; houve vários alunos que
insultaram o professor em plena aula (e nunca houveram); haja alguém
que conteste esta afirmação; haja
professores de Português que contestem esta afirmação e não hajam). Só na expressão bem haja é que o verbo se conjuga em
todos as pessoas do singular e do plural: bem
hajam os meus amigos por terem vindo ou bem
hajais (vós) por terdes vindo; bem hajas
tu pela informação que me deste... Quando se transforma o bem-haja em substantivo, grafa-se com um hífen: a todos quantos cá
vieram ouvir-me o meu muito bem-haja!
Termino
com o meu sincero bem-haja pelo tempo
que vos roubei ao lerem este artigo. Já agora, e passe a imodéstia, bem haja eu (sem hífen) por ter procurado,
através de um simples título de jornal, exercer um pouco de pedagogia, não sei
se barata, mas é de crer que sim!
Caro Cristóvão de Aguiar,
ResponderEliminarUm simples obrigado por esta pequena aula. O verbo haver, é um dos casos da nossa língua onde confesso sentir-me por vezes inseguro. Fiquei descansado por "bem hajam" ser execpção (não quis aqui abrir "execeção"), já é expressão que me apraz usar. Espero não andar a cometer erros de palmatória no meu Antologia de Ideias.
De resto, bem haja!
O Autor
Antologia de Ideias
http://antologiadeideias.wordpress.com/
PS: Se encontrar um bom ponto de consulta sobre pontuação - especialmente "vírgulas" - agradeço que indique. Por influência, tenho tendência para escrever "à inglesa", quase sem vírgulas.
Errata: onde está "execeção" deveria estar "exceção"; onde está "já é" deveria estar "já que é"
EliminarO Autor
Antologia de Ideias
http://antologiadeideias.wordpress.com/
Agradeço ao primeiro comentador as palavras que me dirigiu. Quanto a um livro de consulta sobre pontuação e outras matérias relacionadas com a Língua Portuguesa, aconselho-o o "Prontuário Actual da Língua Portuguesa, Guia Alfabético", de Olívia Maria Figueiredo e de Eunice Barbieri de Figueiredo, das Edições ASA. Com os melhores cumprimentos,
EliminarCristóvão de Aguiar
Magnífica explicação, obrigada pelos esclarecimentos!
ResponderEliminarPerfeito! Obrigada!
ResponderEliminarPerfeito! Obrigada!
ResponderEliminar