No primeiro debate com
Obama, Mitt Romney referiu o caso de Espanha para ilustrar aquilo que não quer
para os EUA. Segundo o candidato mórmon-republicano, a Espanha gasta 42% da sua
riqueza com o Estado, o mesmo acontecendo neste momento nos EUA – Obama não
contestou os dados.
À primeira vista, o
principal problema de Espanha não é o peso das despesas do Estado. Segundo dados do Eurostat, em 2011, os gastos públicos em
Espanha ascendiam a 43,6%, abaixo da média da União Europeia, que supera
os 49%, sendo a França, a Bélgica, a Dinamarca e a Finlândia os campeões nesta
matéria, com o Estado a pesar mais de 53%. O problema é que os gastos públicos
espanhóis são em larga medida ineficientes e, sobretudo, são incomportáveis para o rendimento
gerado pelo país. E, como relembrou Romney, numa situação de recessão, as contas públicas
não se equilibram com aumentos de impostos.
A referência a Espanha
como exemplo de um fracasso não é, todavia, novidade. Sarkozy fez o mesmo
recentemente na campanha eleitoral para as presidenciais em França. Obviamente,
este tipo de comentários não são fáceis de engolir num país que até há meia
dúzia de anos era apontado como um milagre. Andar de cavalo para burro é sempre
uma experiência dolorosa.
Na quinta-feira, Luis
Maria Linde, Governador do Banco de Espanha, e um economista respeitado em Espanha,
chamou a atenção, no Congresso, para a enorme probabilidade de não se cumprir o défice público
de 6,3% previsto para este ano. Em relação ao orçamento de 2013, considera optimista
a previsão do governo de queda do PIB de apenas 0,5% - sendo, na sua opinião, 1,5% o valor
mais realista. Em consequência, as receitas fiscais também devem estar sobrestimadas,
sugerindo Linde “medidas de ajuste adicional”. Ainda esta semana, um ex alto
dirigente da Moody’s afirmou que a Espanha tem o maior problema de dívida
soberana desde o caso da Alemanha em 1931.
Entretanto, paira a ameaça
de independência da Catalunha, que, embora improvável, tornou evidente para toda
a gente o fracasso de um modelo autonómico, consagrado na constituição de 1978,
e elogiado durante anos por muitos. De repente, os espanhóis descobriram um
Estado ingovernável, um labirinto de competências e autoridades, que devora
milhares de milhões só em despesas de funcionamento. A reforma deste modelo é
agora motivo para discussões acaloradas.
Como se tudo isto não
bastasse, segundo dados do Ministério de Empleo, referentes a Outubro
de 2011, 22% da população encontra-se abaixo do limiar da pobreza – essa percentagem
era de 18% em 2007. Por seu lado, na época de maior crescimento, a taxa de
desemprego rondava os 8% e agora ronda os 25%.
E é neste estado calamitoso
que a Espanha se prepara para receber a terapia de choque da troika. Para nosso bem, esperamos que resista ao tratamento.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.