quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Terei descoberto o modelo de Vítor Gaspar?

Ontem fiz umas contas nas costas de um guardanapo, para explicar a uma amiga que estava de visita a Portugal o impacto recessivo das medidas de austeridade.
Imaginem um país com um PIB de cerca de 166.500 milhões de euros com um Estado que apresenta um défice orçamental de 10.000 milhões de euros, ou seja, com um défice orçamental de 6% (10/166,5=0,06). Suponham que o governo desse país resolve levar a cabo medidas fiscais de austeridade com um impacto imediato de 5.000 milhões de euros. Qual será o impacto de tal política no défice?
O impacto imediato é o da redução do défice de 10 para 5 mil milhões de euros. No entanto, é preciso ter em atenção que o PIB vai contrair como consequência desta política o que levará a uma diminuição das receitas fiscais. Já toda a gente sabe que, de acordo com o FMI, o multiplicador fiscal andará entre 0,9 e 1,7. Considerando o ponto médio, ou seja 1,3, é de esperar que a queda do PIB seja de 6.500 milhões de euros (5x1,3=6,5). Dado que as receitas de impostos representam um pouco mais de 35%, de uma forma bastante grosseira podemos estimar a queda de receitas que decorre desta quebra do PIB em cerca de 2,275 milhões de euros (6,5*0,35=2,275).
Juntando todas estas contas, e admito que tudo isto é bastante grosseiro, ficamos com um défice de (10.000-5.000+2.275)/(166.500-6.500)*100. Quanto é que dá? Como certamente já adivinharam, isto tudo acaba num défice de 4,5%. E esta?

8 comentários:

  1. Mas isso representa uma queda de 3,9% do PIB!

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    1. Vai daí e descobrimos que a Gaspar apenas interessa o défice orçamental e não o PIB!

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    2. Esta giro sim senhor.
      O problema é que a quebra de receita não é obrigatóriamente proporcional ao seu peso no PIB, e os ultimos anos sugerem que a relação com a quebra do PIB não é linear, mas antes mais a dar para o exponencial.
      Resultado a queda de receita será em geral maior do que 35% da queda do PIB.
      Isto acontece porque a descida de alguns impostos ser mais do que proporcional à descida do PIB, quer porque há progressividade (em alguns), quer porque uma descida de 2% nas vendas poder gerar uma quebra de 20% ou 30% nos lucros, quer também porque as pessoas diminuem mais do que proporcionalmente o consumo de bens mais taxados (centrando-se mais nos bens de 1a necessidade - com IVA mais baixo), etc.

      A evidencia recente (2009 e 2012) sugere também que para quedas do PIB mais acentuadas a proporção de perda de receita cresce exponencialmente.
      Assim:
      Uma queda de PIB de 1% pode gerar uma queda de receita 0,4% ou 0,5%;
      Mas uma queda de mais 1& já pode gerar uma queda adicional de 0,6 ou 0,7%
      Mais um ponto percentual e poderemos acabar muito perto de o efeito de medidas de consolidação que em primeiro impacto reduziriam o défice em 1% do PIB, com o multiplicador em cima e a redução de receita crescente poderem em nada contribuir para a consolidação.
      Esse é o drama da ideia da aceleração da consolidação.
      Em terreno lamacento acelerar mais só põem o carro a patinar, e a afundar-se, é um esforço que não o faz andar mais depressa.

      Com um abraço,
      Manuel Cabral

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  2. É o que dá fazer economia com modelos linearizados, não percebendo que são apenas aproximações locais, mas enfim, ... ...mas gosto de ver como já se mudou o tom com o Governo, ... amplamente contra a TSU e agora, ... , haverá coisas no horizonte?

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  3. As contas apresentadas no "post" não correspondem às efetuadas por Vítor Gaspar, pois o relatório do FMI, na sua p. 13, informa que foi considerado o valor de 0.8 para o multiplicador. Boa tentativa!

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    1. "As contas apresentadas no "post" não correspondem às efetuadas por Vítor Gaspar (...)"

      A sério??

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    2. A sério? Bem, eu não me reclamo detentor das mesmas capacidades divinatórias do Luís, mas a verdade é que na referida página 13 do relatório da troika vem escrito o seguinte:

      "How strong will the drag from fiscal adjustment be on growth? Previously, staff used a fiscal multiplier of 0.5, drawn from previous Portugal-specific empirical studies. But recent experience, both within Portugal and elsewhere, suggests the need for caution in this regard—indeed Portugal’s output has been broadly in line with projections but the degree of fiscal adjustment has been lower, suggesting the possibility of a higher multiplier. Staff and the authorities therefore agreed to use a higher multiplier for the incremental fiscal adjustment being undertaken in 2013, raising the average multiplier to 0.8."

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