quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Na pele


As manifestações atravessaram hoje, com violência, toda a Europa do Sul: Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Prevê-se que em breve cheguem a França – o desemprego continua também aí a crescer. 

O que será estar na pele dos governantes destes países?

Com a excepção do Governo italiano, que é um governo de técnicos, todos os outros foram eleitos. Mas no fundo não há grandes diferenças entre eles. Todos procuram aplicar uma fórmula semelhante. Todos são acusados de se submeterem aos ditames de Angela Merkel. Todos tomam medidas de austeridade para controlar o défice e o crescimento da dívida no curto prazo e reformas no mercado de trabalho, segurança social, etc., esperando (ou acreditando) que estas tragam de volta o crescimento no médio/longo prazo.

Mas por agora só se sente a austeridade: redução de salários e aumento do desemprego. Em todos os países, todos protestam contra os cortes impostos pelos governos: funcionários públicos e de empresas públicas, jovens sem emprego nem perpsectivas. 

Desde o final do verão que todos perceberam que o potencial crescimento está num futuro muito incerto. E desde aí as manifestações sucedem-se.     

Distribuir reduções de benefícios é difícil para qualquer político, mas é-o muito mais para políticos que foram treinados a distribuir benesses. Poder-se-ia pensar que é menos doloroso para os ‘ministros técnicos’ – mas não creia que seja. Para aqueles que saíram das academias talvez seja ainda mais doloroso o choque com a realidade.

Uma condição necessária para as actuais políticas funcionarem é os cidadãos acreditarem que elas vão conduzir aos resultados esperados. Para os governantes que acreditam mesmo no caminho que está a ser seguido estas manifestações devem causar grande angústia. Até porque como alternativa eles só vêem o caos. E é esse, de facto, o vento que hoje se sente na Europa do Sul. E arrepia.

1 comentário:

  1. O vento que arrepia não se sente só na Europa do Sul, aí as rajadas são apenas mais fortes neste momento. Os europeus têm boas razões para andar arrepiados. A Europa é um continente em decadência e o euro é só mais um sinal dessa realidade. O mundo está a ajustar-se e a Europa, e os próprios EUA, estão a perder a olhos vistos influência no mundo. Há a montante problemas estruturais graves, como a demografia e a desindustrialização – penso que poucos mediram bem as consequências da abertura dos mercados europeus à China em meados da década passada. Uma sociedade de velhos não inova, é avessa à mudança; e com a desindustrialização vem o desemprego e não se gera o crescimento económico necessário para sustentar o Estado social. Enquanto foi possível, os aumentos brutais das cargas fiscais e, mais recentemente, o endividamento (mais no sul do que norte da europa) disfarçaram os buracos. Acresce a tudo isto uma europa paralisada politicamente, que balança entre o federalismo e as ameaças de desintegração de vários países. O caos espreita a cada esquina e, entre mortos e feridos, poucos escaparão ao doloroso ajustamento em curso.

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