Em, 1911, o
economista britânico Norman Angell publicou um livro intitulado "A grande ilusão", que se tornaria um grande
êxito, com edições sucessivas, publicadas antes da I Guerra Mundial, traduzidas
para várias línguas, ultrapassando um milhão de exemplares vendidos em todo o
mundo. Angell resume a opinião dos meios dirigentes da época: “ As finanças
internacionais estão hoje a tal ponto interdependentes e ligadas ao comércio e
à indústria que o poder militar e político não pode na realidade fazer nada.”
Uma afirmação demasiado peremptória. Passado pouco tempo, o título do livro
tornar-se-ia involuntariamente irónico. No fatídico dia 28 de Junho de 1914, o
arquiduque Francisco Fernando, herdeiro dos Habsburgos, e a sua mulher foram
assassinados em Sarajevo (capital da Bósnia), por um jovem sérvio de 20 anos, de
seu nome Gavrilo Princi, membro da “Mão Negra”, organização terrorista sérvia –
a província da Bósnia-Herzegovina havia sido anexada à Áustria em 1878 e era
reivindicada pela Sérvia.
Os
dois tiros de pistola em Sarajevo arrastaram inadvertidamente a Europa para a
mais terrível das guerras: nove milhões de mortos, a revolução russa em 1917
(por causa da guerra o czar Nicolau II viu-se obrigado a abdicar em março), a
extinção do Império Austro-Húngaro, da Alemanha imperial e do império Otomano e
o completo desmembramento da Europa Central. Tudo isto trazia o embrião da
guerra seguinte, ainda mais catastrófica do que a precedente.
No
mundo de 1911, quando Norman Angell publicou o seu famoso livro, nada parecia
anunciar os terríveis acontecimentos posteriores. Penso que se podem tirar,
pelo menos, duas conclusões daqui. Primeira, o mundo de 2013 também não anuncia
aquele em que viverão os netos e os bisnetos dos europeus de hoje - o erro de
toda a prospectiva é imaginar o futuro como um prolongamento do presente;
segunda, devemos, todavia, prestar atenção aos sinais – afinal de contas, dois
tiros de pistola podem ser o detonador de um cataclismo.
Este erro de previsão é candidato ao maior erro preditivo alguma vez produzido por um economista, não achas?
ResponderEliminarConcordo.
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