Gostei ontem do
discurso de Passos Coelho. No entanto, teve vários problemas. Se no início do
discurso esteve muito bem ao explicar como a acção do governo ficou limitada
pela decisão do Tribunal Constitucional, ao fim de 2 ou 3 minutos, esperava-se
que a lamúria acabasse. Foi lamúria sobre lamúria até ao fim. Tanta acrimónia foi
excessiva. Quem passa a vida a dizer que os portugueses têm de enfrentar as
dificuldades de frente, que não devem ser piegas, que devem ver o desemprego
como uma oportunidade, bem que pode aplicar a mesma receita a si próprio, transformando
o acórdão do TC numa oportunidade.
Em primeiro
lugar, estando este governo a meio do mandato (e com maioria absoluta), começa
a ser um pouco absurdo esta coisa de apenas conseguir reduzir a despesa (e
aumentar a receita) à custa de medidas temporárias e extraordinárias. Este
acórdão dá ao governo a oportunidade de dar um passo em frente.
Segundo, numa
negociação entre devedor e credores, a única arma negocial do devedor é,
precisamente, a possibilidade de não pagar. É triste, mas é assim mesmo. Uma
decisão destas dá força negocial ao governo para exigir melhores condições. Se
as consegue ou não, depende da sua habilidade. Ora o discurso de ontem foi a antítese
disso. Transformou uma oportunidade num castigo. Pareceu quase um convite à tróica
para que nos punisse por sermos tão pobre e mal-agradecidos. Já não estamos nos
tempo de Egas Moniz, que foi com a corda ao pescoço oferecer a sua vida e a dos seus ao rei
de Leão e Castela.
Fiquei sem
perceber uma coisa. Muita gente estava à espera que fosse anunciado que o
Estado estava sem liquidez e que, portanto, os subsídios de férias seriam
parcial ou totalmente pagos em Obrigações do Tesouro, Certificados de Aforro ou
algo do género. Adicionalmente esperava-se que aumentasse algum imposto — por
exemplo a sobretaxa de IRS passar de 3,5 para 5 ou 6%. Ora, nada disto foi anunciado.
Pelo contrário, o que foi dito é que o cheque da tróica dependia destas medidas
agora chumbadas pelo que nos arriscávamos a nem esse cheque receber dentro de
uma semana. Se nada disto é necessário para atingir as metas, para que é que andaram
a cortar salários e pensões? Para se divertirem?
"Gostei ontem do discurso de Passos Coelho."
ResponderEliminarCom tanta crítica que lhe diriges o máximo que podes dizer é que gostaste dos primeiros 3 minutos. Ou seja, não gostaste de quase nada!
Paulo Santos
:)
EliminarRespondendo agora a sério. Penso que ficaram claras as dificuldades adicionais que Portugal terá de enfrentar por causa deste chumbo. É importante que todos nós tenhamos consciência dessas dificuldades.
Eliminar"Gostei do discurso de Passos Coelho"
ResponderEliminarUm verdadeiro couce de mula!