Andava já há algum tempo para escrever umas coisas sobre viagens.
Não sei se está muito dentro da ideia do destreza da dúvidas...
Mas as viagens que fiz exigiram destreza e foram realizadas em condições duvidosas, pelo que a coisa pode fazer algum sentido.
Tinha colocado na minha página pessoal um link com um título algo a puxar para a literatura de auto-conhecimento, que aqui repeti (12 viagens que mudaram o meu mundo).
A ideia quando as escrevi foi partilhar com os alunos uma forma diferente de viajar, que se usava em tempos remotos, e que alguns ainda usam, incluindo muitos alunos universitários de outros países europeus, e também uns poucos portugueses.
Esta primeira é curta. Mas serve para enquadrar as seguintes.
A primeira viagem sem pais.
Um dia o Luís (1) telefonou-me a dizer para ir ter com ele a São Martinho do Porto. Eu disse que sim. Isso foi o mais importante nessa viagem. Foi o ir, sair pela estrada fora no pior veículo imaginável (uma casal boss).
E lá fui. Carcavelos, Estoril, Sintra, Ericeira, Torres Vedras, Caldas da Rainha, São Martinho… onde encontrei o Luís e onde ficámos uns dias, antes de sairmos para São Pedro de Moel. Com uma passagem pela Nazaré e depois por Alcobaça.
E lá fui. Carcavelos, Estoril, Sintra, Ericeira, Torres Vedras, Caldas da Rainha, São Martinho… onde encontrei o Luís e onde ficámos uns dias, antes de sairmos para São Pedro de Moel. Com uma passagem pela Nazaré e depois por Alcobaça.
Tinha 14 anos. O Luís 16. Tínhamos duas casais boss. Éramos donos do mundo.
A viagem incluiu um cabo de acelerador partido pelo caminho, substituído por uns arames e um pau, que mantinha a mota acelerada, mas não desacelerava por si só, o que seria perigoso no caso da mota ter alguma potência - algo longe da realidade da Casal Boss.
Incluiu noites a dormir nas barracas da praia. Dias sem tomar banho. Uma volta completa às tascas da Nazaré à procura de cigarros Kentuky - para o Luís que eu nunca fui dado ao tabaco. Incluiu também um pneu furado e viagens de noite pelo meio do pinhal de Leiria com uma escuridão total pouco interrompida pela pequena lanterna que enfeitava o motociclo.
Esta foi a minha primeira viagem independente. Sem pais nem tios. Foi viajar sozinho, sem plano, sem rede. Com dinheiro contado e sem cartões ou telemóveis. Isso marcou-me para sempre e marcou as viagens que fiz a seguir. Quem faz 500 km numa Boss, faz qualquer coisa.
Esta foi a primeira de várias viagens de moto. Na Gilera 50cc (uma moto incomparavelmente melhor que a Casal Boss) fui de Lisboa até Caminha, e depois pelo Gerês e até ao Douro, descendo depois de Lamego para a Serra da Estrela, antes de voltar a Lisboa. Ainda com esta mota fiz algumas viagens pelo Alentejo (até Évora e Beja e várias pela costa), região Oeste e Serra da estrela. A estas viagens seguiram-se outras por Portugal, Espanha em motos mais decentes e outras por paragens exóticas, como Timor, Vietname, Marrocos, Malásia, Cambodja, Tailândia, Indonésia, Itália e Grécia, em motos alugadas, quase sempre de qualidade algo duvidosa. Mas tal como a Casal Boss, nunca me deixaram ficar mal.
Casal Boss – Uma maravilha da mecânica Portuguesa
Caixa: 2 velocidades. Velocidade máxima 50 Km/h.
(1)Nota: outro Luis que não o Aguiar-Conraria)
Sem dúvida que são essas viagens que marcam. Por não existirem planos, pelo facto de sabermos que pode acontecer tudo, e que teremos de arranjar solução para tudo. Mas são poucos os que tiram prazer deste tipo de viagens. E, logo na primeira aula que tive com o Professor, fiquei com a impressão que pertencia ao grupo dos aventureiros.
ResponderEliminarQue venham muitas mais.