A
existência burguesa assentava na instituição da carreira – um caminho que se
percorria ao longo de toda uma vida de trabalho. As profissões e as ocupações
activas estão a morrer e, provavelmente, serão em breve coisas tão velhas e
arcaicas como os estatutos e as ordens dos tempos medievais. Em bom rigor,
ninguém sabe aquilo que o futuro nos trará. Tirando meia dúzia de lunáticos, já
ninguém acredita na possibilidade de planos de longo prazo. As carreiras, os
regimes de pensões parecem hoje um jogo de lotaria. Os (poucos) realmente ricos
são os únicos a salvo de uma queda brusca na pobreza. Os outros – que somos
todos nós – vivem incertos quanto ao dia seguinte. O igualitarismo do
pós-guerra foi apenas um interregno. Hoje, quase toda a gente vive em condições
melhores, mas a existência instável da maioria está tão longe das condições em
que vivem os mais abastados como na época vitoriana. O fim da classe média é
isto: a impossibilidade de fazer planos para o futuro, porque já não há
garantias de nada, nem ninguém pode garantir nada.
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