Como disse na minha entrada anterior, a saída do Gaspar, na minha opinião, só peca por tardia. A consequência mais visível desse erro é a dificuldade em encontrar um Ministro das Finanças com peso político, como era exigido em tempos como os actuais.
Nesta entrada gostaria de me debruçar sobre a carta de demissão de Gaspar. Dela, relevo três pontos.
1º Assumpção de responsabilidades (que só lhe fica bem). Escreve Gaspar:
O incumprimento dos limites originais do programa para o défice e a dívida, em 2012 e 2013, foi determinado por uma queda muito substancial da procura interna e por uma alteração na sua composição que provocaram uma forte quebra nas receitas tributárias.
Com esta frase, Gaspar assume que a terapia de choque e a superausteridade que defendeu fizeram ricochete. Os cortes de despesa e as subidas de impostos minaram a economia e a sua capacidade de gerar receitas fiscais. Matou-se o doente com a cura. É pena que não tenha percebido isso ao ver os resultados desastrosos do seu primeiro Orçamento de Estado.
2º Gaspar fez publicar uma carta de demissão que denuncia diversas falhas do Governo. A publicação da carta que Gaspar escreveu, objectivamente, dificulta substancialmente a vida deste governo para os próximos tempos. Esta atitude de traição é mesquinha e revela mau-carácter.
3º Já perto do fim da sua missiva, Gaspar explica os desafios imediatos que enfrentamos,
o nível de desemprego e de desemprego jovem são muito graves. Requerem uma resposta efetiva e urgente a nível europeu e nacional. Pela nossa parte exigem a rápida transição para uma nova fase do ajustamento: a fase do investimento!
Leio esta frase como uma demonstração de ironia e sarcasmo por parte de Gaspar — o ponto de exclamação final deixa-me muito poucas margens de dúvida. Na situação em que está o país, esta manifestação de sarcasmo que deixa como legado é lamentável e rancorosa.
Sai sem dignidade.
Concordo: sai sem dignidade. Mas chocou o ovo de uma cousa ainda pior, que é a ministra que aí vem...
ResponderEliminarJC
Tipico comentario de esquerda, atacar a pessoa e nao a politica. Voce nao e economista? Entao escreva la um comentario com mais substancia: o que e que teria feito diferente como ministro? E ja agora, criticar o falhanco na implementacao das politicas (TSU, chumbos do TC) e simultaneamente responsabiliza-lo pelos resultados dessa nao implementacao nao vale. A verdade e que Gaspar sai sobretudo por nao ter conseguido fazer aquilo que defendia. Por isso e que se quis demitir na sequencia do primeiro chumbo e da TSU.
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