Entre as inúmeras homenagens a Lou Reed, certamente uma das mais estranhas aconteceu sexta-feira em Lisboa, onde uma série de músicos portugueses interpretou canções óbvias do norte-americano. Interpretaram ou, pelo que testemunhei nas notícias, demoliram. Mas o mais espantoso foi contemplar indivíduos associados ao PCP e a partidos similares mostrarem devoção por um anticomunista primário, que é como todos os anticomunistas devem ser. Veja-se o papel de Reed na resistência checa ao totalitarismo soviético. Ouça-se Black Angel"s Death Song, tema do disco inicial dos Velvet Underground e de oblíqua repulsa pela URSS. Recorde-se o ataque ao terrorismo palestiniano no álbum New York. Ecumenismo? Hipocrisia? Provavelmente ignorância, que é do que a casa gasta. — Alberto Gonçalves.
Este trecho é extraordinário. Esta besta não consegue apreciar um dos melhores músicos do século XX, Zeca Afonso, por causa das suas inclinações ideológicas. Não consegue vislumbrar mérito literário em José Saramago, com certeza que por causa do que este fez enquanto director de um jornal, nos anos quentes da revolução. E lá porque este tipo é um quadrado, pensa que os outros também têm de o ser. Um comunista apreciar Lou Reed só se for ignorante. Não pode ser por gosto ou, simplesmente, porque sabe distinguir arte da ideologia. Este tipo é uma besta e é um quadrado. Uma besta-quadrada, portanto.
Há bestas para todos os gostos. Alberto Gonçalves deve ter um trauma que justifique a mistura de departamentos. Eu, por exemplo, não nada sou anti-comunista nem anti-anti-comunista. Mas reconheço que há em muitos velhos comunistas uma intolerância e uma falta de sentido de humor verdadeiramente impressionantes. Digo-o porque lhes tenho sofrido o efeito recentemente e não é nada agradável. Poderia responder na mesma moeda. Mas fica-se estúpido a tentar obter razoabilidade ao cão que nos não larga a canela, passe a imagem.
ResponderEliminar"fica-se estúpido a tentar obter razoabilidade ao cão que nos não larga a canela"
EliminarMuito bom. Vou passar a usar esta máxima.
Deduziu do texto e da expressão "isto não é o Zeca" que o Alberto Gonçalves "não consegue apreciar um dos melhores músicos do século XX, Zeca Afonso, por causa das suas inclinações ideológicas"?
ResponderEliminarQuando leio este tipo de comentários fico sem saber se a pessoa que comentou (1) não percebeu o fulcro do meu texto ou (2) se se está a fazer de desentendido.
EliminarSe o seu caso for o primeiro, deixe aqui uma nota que terei todo o gosto em responder à sua pergunta.