Eu sou daqueles que nunca esperaram qualquer inflexão oficial na política externa alemã. Assim, o acordo entre CDU e o SPD não me surpreende. Aliás, penso que mesmo que houvesse esse objectivo, ele nunca seria anunciado publicamente. A ser alguma vez anunciado, sê-lo-á no quadro de uma dura negociação com os países sob auxílio externo (e aqui incluo também a Espanha e a Itália). Não é que discorde do Zé Carlos, mas simplesmente não atribuo grande importância ao que não foi anunciado no acordo alemão.
No entanto, algo foi anunciado que me parece da maior importância para Portugal. A instauração de um salário mínimo nacional na Alemanha. O principal problema de Portugal é o de competitividade. Desde que aderimos ao Euro que os nossos custos laborais têm aumentado relativamente aos dos nossos parceiros do Norte. É aliás esse o motivo por que muitos defenderam ser essencial baixar salários e muitos defenderam a descida da TSU. Se em vez de sermos nós a baixar os salários, forem os outros a aumentar os seus salários é mil vezes melhor para nós. A criação de um salário mínimo na Alemanha poderá ter esse efeito benéfico para nós.
Adicionalmente, a melhor ajuda que os alemães podem dar aos outros países é aumentarem a sua procura interna e, consequentemente, as suas importações. A criação do salário mínimo, que se estima beneficiar directamente 5 milhões de famílias, a juntar ao aumento de diversas transferências sociais e ao aumento do investimento público, pode ser um importante estímulo nesse sentido.
Concluindo, ao contrário do Zé Carlos, não dou qualquer importância ao facto de os alemães não terem anunciado qualquer inflexão na sua política externa. Quer haja quer não haja, ela nunca será anunciada pelo que não há qualquer motivo para alterar o nosso a priori com base nesse não anúncio. Em relação ao que foi anunciado, parecem-me óptimas notícias para nós. Não vejo como pudesse ser muito melhor.
Bem visto!
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