terça-feira, 12 de agosto de 2014

O ex-precog em recuperação teve uma recaída*

João Miguel Tavares continua errado, mas ao menos já escreve com um pouco de mais bom senso. No artigo de hoje no Público, procura emendar a mão mas falhou. De qualquer forma, parece razoavelmente óbvio que já mudou o tom da sua prosa, o que se saúda.

Em artigo anterior gozava, chamando-lhe precog lusitano, quem questionava a actuação do Banco de Portugal ao longo do processo que desembocou na falência do BES, com potenciais custos para os contribuintes de vários milhares de milhões de euros. No artigo de hoje, já nos dá autorização para discutir o que falhou. Mas, claro, insiste na sua ideia de que não se podem comparar as “actuações de Vítor Constâncio e de Carlos Costa”. O raciocínio de João Miguel Tavares é mais ou menos este:
  1. pondo de parte as fugas de informação que permitiram a algumas empresas pôr ao fresco centenas de milhões de euros antes da machadada final;
  2. pondo de parte as fortes evidências do crime de inside trading;
  3. pondo de parte as declarações do Governador do Banco de Portugal que disse ter conhecimento de operações fraudulentas desde Setembro do ano passado;
  4. pondo de parte os 3500 milhões de euros emprestados pelo Banco de Portugal a um banco que dificilmente se poderia considerar solvente;
  5. pondo de parte que os contribuintes já garantiram um empréstimo adicional de 4000 milhões de euros contra a promessa de retorno futuro, aquando da venda do Novo Banco;
  6. enfim, pondo de parte tudo o que correu mal e tudo o que pode vir a correr mal;
então a actuação do Banco Central nesta crise foi infinitamente melhor do que na anterior crise. E isso porquê? Explica João Miguel Tavares: porque a solução encontrada pelas instituições portuguesas e europeias para o BES, por muitas falhas que tenha e muitos problemas que possa vir a levantar, é, na sua essência, uma revolução (...) em relação a tudo o que se passou até hoje sempre que esteve em causa a falência de um banco sistémico.

Dado que a solução agora encontrada decorre do guião da união bancária, aprovado há poucos meses, ela seria impossível ou ilegal no quadro jurídico anterior. Ou seja, se levarmos João Miguel Tavares a sério, a actuação de Constâncio é muito pior do que a actuação de Carlos Costa porque Constâncio não aplicou uma solução que só se tornou legalmente possível vários anos depois.

E acusa o João Miguel Tavares de os outros se armarem em precogs.

7 comentários:

  1. Conhecerá o Luís a solução adoptada em Espanha, no caso Banesto, na década de oitenta? Pergunto isto por que a solução então adoptada tem a mesma génese/objectivo: responsabilizar o "sistema financeiro", livrar que os contribuintes inocentes de serem chamados a tapar o buraco e evitar a crise "sistémica". No caso do Banesto, como noutros casos semelhantes, deu certo e até os prevaricadores foram parar à cadeia. No caso BES/GES vamos ver o que acontece, para além de uns quantos chatearem os reguladores.

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    1. O meu ponto não é o de considerar a actual solução uma má solução. Pelo contrário, parece-me uma boa solução dadas as péssimas circunstâncias. Não me parece possível querer assegurar os depósitos e, simultaneamente, garantir que não há riscos para os contribuintes.

      O meu problema é de ordem retórica. Não aceito que se trate como tontinho quem quer comparar a actuação do BP nas duas maiores crises de bancos comerciais nacionais, só isso.

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    2. Eu também acho mal que se diga que a operação "BES/Banco Novo" é de risco zero para os contribuintes. O que digo é que esta decisão, comparada com com a que foi tomada no caso BPN, foi uma boa decisão, uma vez que a outra foi um erro grave, que, naquela época e infelizmente, passou despercebido a muito boa gente.

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    3. Dizer que é de risco zero é um erro actual. E isto não é uma questão de opinião.

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    4. Onde está "actual" devia estar "factual". Merda de corrector.

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  2. Caro LA-C,

    Uma questão, eu que não percebo nada disso:

    O Novo Banco (ou Nova Bronca, mais provável) recebeu injecção de dinheiro de dois lados: 3,5 M€ do BdP e 4 M€ do Fundo de Estabilidade do não-sei-o-quantos financiado pelos bancos, via Estado Português, via UE.

    O Estado pôs-se a fresco quanto aos 4 M€ (se der asneira, os restantes bancos ficam responsáveis pelo reembolso).

    Mas em relação aos 3,5 M€, o Estado serve de "garante" ao BdP. Se o NB não pagar, o Estado fica com o menino nas mãos. Mais, entre as duas verbas, qual delas terá senioridade? Não estou a ver a UE ficar sentada a arder 4 M€...

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  3. Tal e qual: A solução foi a que foi, talvez tenha sido a menos má.

    Péssima foi a actuação do regulador, tanto no tempo de Constâncio Primeiro como agora no de Constâncio Segundo.

    Mas talvez melhore. Acabam de admitir sem concurso, por grande mérito, Luis Durão Barroso para o Departamento de Supervisão Prudencial. Se o fenómeno sair ao pai o sr. Carlos Costa que se cuide.

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