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quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Quem está convencido de que em 2008 o défice orçamental foi inferior a 3% do PIB está enganado
Como terá visto, um ilustre socialista, de nome Emanuel Santos, que tem obrigação de saber destas coisas, escreveu que o défice em 2007 foi de 2,6% ou 2,7%. Nestas coisas, os políticos sabem que os portugueses tem fraca memória e abusam.
Tanto o Luis como o Emanuel Santos têm razão. Em 2007, à luz das regras então em vigor o défice foi de 2,7, tal como foi então reconhecido pelo Eurostat e pelo INE. É importante notar que os dados da Ameco, do Eurostat e do INE, que hoje constam nas estatísticas oficiais recalcularam os défices de 2007 e 2008 (penso que recalcularam todos os défices desde 2006), à luz de novos critérios adoptados depois de 2011 pela UE (com um perímetro orçamental mais alargado). Os dados da AMECO apresentados estão correctos pois ao projectar para trás os mesmos critérios permitem uma melhor comparação. No entanto, é importante referir que os valores mais atrasados (entre 1990 e 2005) também deviam ser maiores, mas a estes como não foi possível recalcular e estão ainda com critérios antigos. No fim fica a questão: qual o défice que é mais correcto considerar em 2007? A resposta à bom economista é: depende. Se quisermos discutir se Portugal cumpriu os critérios, tem que se comparar os resultados à luz das regras em vigor - e aí o Emanuel Santos tem toda a razão. Se se quiser comparar séries de vários anos para estudar a evolução dos défices, então os dados aqui apresentados são mais correctos, mas seriam ainda mais correctos se estivessem expurgados de medidas extra-ordinárias - que por exemplo diminuiriam bastante o défice de 2010 (BPN e submarinos) - que ficaria nos 8 e tal por cento, e aumentariam o de 2011 (fundos de pensões), que em vez de 4,3 seria 7,3% do PIB. Fazendo uma alegoria desportiva, diria que julgar resultados de um jogo de há 7 anos de acordo com as regras de hoje pode ser problemático. Seria como dizer que o jogador que fez uma falta aos 25 minutos (que hoje daria cartão amarelo) e apanhou um cartão amarelo aos 50 minutos, devia ter sido expulso e já não marcaria o golo que fez aos 90 minutos e que decidiu o jogo. Mas a questão é que se o homem soubesse as novas regras podia não ter feito a falta aos 25 minutos, e se tivesse já um cartão amarelo poderia ter tido mais cuidado ao 50 minutos, e podia ter sido substituído, e etc, etc... Se as regras fossem outras, a estratégia também seria. E tal como temos de aceitar os resultados dos jogos que já terminaram, também temos de aceitar que, em 2007, se as regras fossem outras o Governo de então teria feito o esforço de uma ou outra medida adicional para baixar o défice em uma décima. A verdade é que em 2007 Portugal cumpriu as regras do défice então em vigor. A verdade também é que entre 2001 e 2007 só a Espanha e a Irlanda cumpriram a regras do défice público e divida em todos os anos, com todos os outros países - onde se inclui Portugal, mas também a Alemanha, França, ou a moralista Finlândia a não os respeitarem em vários anos (a Alemanha em 5 dos 7 anos). O mais curioso é que Irlanda e Espanha estiveram entre os países resgatados - terem cumprido as regras de pouco lhes adiantou.
Como terá visto, um ilustre socialista, de nome Emanuel Santos, que tem obrigação de saber destas coisas, escreveu que o défice em 2007 foi de 2,6% ou 2,7%. Nestas coisas, os políticos sabem que os portugueses tem fraca memória e abusam.
ResponderEliminarTanto o Luis como o Emanuel Santos têm razão. Em 2007, à luz das regras então em vigor o défice foi de 2,7, tal como foi então reconhecido pelo Eurostat e pelo INE. É importante notar que os dados da Ameco, do Eurostat e do INE, que hoje constam nas estatísticas oficiais recalcularam os défices de 2007 e 2008 (penso que recalcularam todos os défices desde 2006), à luz de novos critérios adoptados depois de 2011 pela UE (com um perímetro orçamental mais alargado). Os dados da AMECO apresentados estão correctos pois ao projectar para trás os mesmos critérios permitem uma melhor comparação. No entanto, é importante referir que os valores mais atrasados (entre 1990 e 2005) também deviam ser maiores, mas a estes como não foi possível recalcular e estão ainda com critérios antigos.
ResponderEliminarNo fim fica a questão: qual o défice que é mais correcto considerar em 2007?
A resposta à bom economista é: depende. Se quisermos discutir se Portugal cumpriu os critérios, tem que se comparar os resultados à luz das regras em vigor - e aí o Emanuel Santos tem toda a razão. Se se quiser comparar séries de vários anos para estudar a evolução dos défices, então os dados aqui apresentados são mais correctos, mas seriam ainda mais correctos se estivessem expurgados de medidas extra-ordinárias - que por exemplo diminuiriam bastante o défice de 2010 (BPN e submarinos) - que ficaria nos 8 e tal por cento, e aumentariam o de 2011 (fundos de pensões), que em vez de 4,3 seria 7,3% do PIB.
Fazendo uma alegoria desportiva, diria que julgar resultados de um jogo de há 7 anos de acordo com as regras de hoje pode ser problemático. Seria como dizer que o jogador que fez uma falta aos 25 minutos (que hoje daria cartão amarelo) e apanhou um cartão amarelo aos 50 minutos, devia ter sido expulso e já não marcaria o golo que fez aos 90 minutos e que decidiu o jogo. Mas a questão é que se o homem soubesse as novas regras podia não ter feito a falta aos 25 minutos, e se tivesse já um cartão amarelo poderia ter tido mais cuidado ao 50 minutos, e podia ter sido substituído, e etc, etc... Se as regras fossem outras, a estratégia também seria. E tal como temos de aceitar os resultados dos jogos que já terminaram, também temos de aceitar que, em 2007, se as regras fossem outras o Governo de então teria feito o esforço de uma ou outra medida adicional para baixar o défice em uma décima. A verdade é que em 2007 Portugal cumpriu as regras do défice então em vigor. A verdade também é que entre 2001 e 2007 só a Espanha e a Irlanda cumpriram a regras do défice público e divida em todos os anos, com todos os outros países - onde se inclui Portugal, mas também a Alemanha, França, ou a moralista Finlândia a não os respeitarem em vários anos (a Alemanha em 5 dos 7 anos). O mais curioso é que Irlanda e Espanha estiveram entre os países resgatados - terem cumprido as regras de pouco lhes adiantou.