Uma das maiores decepções dos brasileiros com o PT de Lula e Dilma, foi terem alimentado a expectativa de que tirando do poder os partidos "tradicionais" e colocando um partido liderado por um operário sério sem sinais exteriores de riqueza e movido por amor à causa comunista, a corrupção acabaria (ou pelo menos seria seriamente afectada). Isso não aconteceu. O PT já se viu envolvido em inúmeros escândalos, não só no Governo como nos municípios.
Esta lição pode também ser válida para os que alimentam esperanças em Podemos, Marinhos Pintos, Beppe Grillos, e outras alternativas radicais regeneradoras. Sobre o Podemos já surgem noticias de que a distribuição de lugares privilegiou mais a lealdade e amizades ao líder do que a competência ou a representatividade. Marinho Pinto destacou-se no Parlamento Europeu em faltas e baixo nível de intervenção.
Voltando ao Brasil, escrevi há três semanas no Jornal de Negócios (ver aqui) que a Corrupção não era tanto um problema do PT ou da sua alternativa (embora a permanência longa de qualquer grupo no poder possa agravar), mas antes algo que estava instalado num sistema fechado e pouco transparente:
"A excessiva burocracia, a falta de abertura ao exterior da economia e a limitada concorrência que existe em muitos sectores são também uma parte da razão por que a classe média brasileira paga tantas vezes preços europeus por produtos de baixa qualidade.
A questão que se coloca é se o Brasil realmente quer mudar este quadro. E esta divisão não é entre São Paulo e Ceará, ou entre os apoiantes de Dilma e os de Aécio. É entre uma classe média farta de pagar a mais por electrodomésticos, carros, apartamentos, estradas e estádios, e a mesma classe média pouco disposta a abdicar do falso conforto que a falta de concorrência, de transparência e de abertura da economia lhe dá ao seu emprego, ou a alguns dos seus privilégios.
O problema é que muitos destes aspectos estão intrinsecamente ligados. A maior abertura ao exterior é necessária para estimular o desenvolvimento tecnológico e o crescimento no Brasil, mas não se faz sem afectar empregos e privilégios da mesma classe média brasileira que por isso vai resistir à mudança. Maior abertura e desregulação são também determinantes para reduzir rendas e aumentar a concorrência em muitos sectores, onde os interesses protegidos alimentam a corrupção. Mas são estas rendas que alimentam o sistema partidário e estimulam a sua fragmentação, impedindo a mudança.
... O combate à corrupção tem de ser levado muito a sério. E tem de ser visto como um problema sério demais para ser tratado apenas pela via criminal e da justiça. A nova presidente tem de ter a coragem de combater a corrupção impondo transparência nas escolhas do Estado, mas também no funcionamento dos mercados e abertura da economia, diminuindo os incentivos e as rendas que alimentam o ciclo da corrupção."
Estes casos surgem em paralelo com os que foram revelados em Portugal. A corrupção no Brasil é bastante mais elevada do que em Portugal (No transparency international o Brasil surge na posição 72, enquanto Portugal está na 33 - uma posição mediana na UE). Mas lá como cá, a corrupção combate-se mais com transparência, com regras claras, com fiscalização, e com práticas de gestão preventivas, com imprensa livre e cidadãos intolerantes, do que pela via judicial, ou por milagres e reviravoltas politicas. É um combate de dia a dia, e não de soluções mágicas, ou de figuras populistas.
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