Note-se que a Grécia vai ficar sem dinheiro com probabilidade 100%; a única incógnita é o dia em que tal irá acontecer. A Grécia até agora não anunciou uma estratégia de crescimento; mas, pela retórica do Sr. Varoufakis, sabemos que tem uma estratégia de manutenção de pobreza, como eu referi anteriormente.
Na semana passada, a intenção da Alemanha era deixar a Grécia enfraquecer ao ficar sem dinheiro, para lidar com os gregos. (Reparem que isto aconteceu a Portugal: em 2011, por não termos pedido ajuda mais cedo e termos esperado até o estado português ficar quase sem dinheiro, ficámos com muito pouco poder de negociação com a Troika.) Esta solução, que é uma solução descontrolada, é a que minimiza os custos da tragédia grega para a Alemanha, pois os custos são repartidos por todos os países da UE independentemente de estes estarem em melhor ou pior situação. Se ainda não repararam, a Alemanha está numa situação melhor do que Portugal. Daí o artigo da Bloomberg a dizer que, em caso de default da Grécia, Portugal seria o país que mais sofreria. O corolário evidente é que Portugal não pode ter a mesma estratégia da Alemanha.
Quais são as opções estratégicas de Portugal?
- Ficar calado e não revelar a sua preferência: esta solução não defende os interesses de Portugal, mas tem a vantagem de não revelar aos nossos adversários se nós temos estratégia ou não e, no caso de termos, a qualidade da mesma, i.e., se tivermos uma estratégia má, os nossos adversários não sabem que nós somos incompetentes.
- Seguir e apoiar a estratégia da Alemanha: esta estratégia, que é o óptimo para a Alemanha, maximiza as perdas de Portugal. Ao seguirmos esta estratégia também revelamos aos nossos adversários que nem temos noção que estamos a escolher o que é pior para nós. E ainda tem a desvantagem de poder haver fuga de capitais e de trabalhadores de Portugal em direcção à Alemanha, pois a Alemanha é um país de refúgio quando a crise se agrava e Portugal é um país a abandonar.
- Defender uma solução controlada para a crise: uma estratégia deste tipo seria do agrado da Irlanda e há muitas opções. Poder-se-ia tentar coordenar esforços com os outros países fracos da UE para pressionar os países que estão em melhor situação a permitirem um acordo novo, em que os custos de uma reestruturação da dívida grega (e/ou de mais países) seriam repartidos entre os países da UE de forma a que os mais ricos absorvam perdas mais do que proporcionais às dos mais pobres. Alternativamente, poder-se-ia dar mais tempo à Grécia e incluir no acordo exigências para que esta reforme a sua economia e siga uma estratégia de crescimento, ao mesmo tempo que a UE a mantinha debaixo de olho para se garantir que o acordo era seguido--a UE tem falhado sempre na área de supervisão. Até agora, ainda não ouvimos nem o Sr. Tsipras nem o Sr. Varoufakis dizer como é que a Grécia vai produzir mais e exportar mais; a única coisa que nos dizem é que precisam de mais tempo.
Rita:
ResponderEliminarBom post.
Obrigado por partilhar connosco as suas reflexões de forma tão aberta, tão politicamente incorrecta e nada calculista.
Sobre o cachecol do ministro Varufakis, até se esquecem de dizer que é feito em Portugal, na Têxtil Manuel Gonçalves, em Famalicão.