Quando hoje abri o meu email, lá dentro estava uma mensagem da Antropologie, uma marca americana que se destaca pelo seu design muito "earthy"--será que dizer terra-a-terra informa bem do que eles são? Já vos falei deles anteriormente. É uma especie de cultivo do ambiente orgânico e descontraído, que faz lembrar as visitas que se faziam às casas das nossas avós. Isto para quem foi neto na minha geração (anos 70); os netos actuais estão com azar porque as avós modernas já são--como dizer?--modernas e não usam nada destas coisas que se encontram na Anthropologie, como lençóis entremeados com renda, tapetes tecidos à mão, louças um pouco toscas, etc. Mas, talvez a próxima geração regresse ao que se era. "The times, they are a-changing," como cantava o Dylan...
Há muitas coisas feitas em Portugal à venda na Anthropologie e é uma loja que dá imenso prazer de se visitar--há uma em Londres. Mas, para além do design extraordinário que eles pedem emprestado aos tempos antigos e ao artesanato, agora deu-lhes para pedir emprestada a língua portuguesa e vendem artigos que têm nomes portugueses. No outro dia encontrei uns guardanapos que eles baptizaram de "Jantar"; hoje vi uma louça que se chama "Linhas"--imaginem , linhas, que tem o som "nh" que só nós escrevemos assim! Os franceses usam o "gn" e os espanhois o "ñ". Que malandragem... E nós a dizermos que a nossa língua é complicada e eles descomplicam a coisa e metem-na à venda.
Depois de ver o pseudo-roubo das "Linhas" e do "Jantar", que nem são fabricados em Portugal, decidi ir ver quais outras palavras portuguesas eles tinham usado. E, na lista de artigos feitos em Portugal, estão lá coisas (tapetes de banho, toalhas de banho, e uma cortina de banho) baptizadas de Agueda (nós escrevemos Águeda), Lagoa, Bordado, e Primula (prímula, para nós; primula também é usado em inglês).
Da próxima vez que vos disserem que o português não é boa língua para baptizar coisas para vender lá fora, lembrem-se que já ficámos sem jantar.
Ah, e como referiu a Sara no seu primeiro post, o design é essencial para as exportações modernas. E nisso, nós somos um dos países mais ricos do mundo--ver o que diz a CNN de nós: "fabulous design" e eles nem saíram de Lisboa. Quando chegarem ao Porto perdem a cabeça...
Pensando bem, se há alguém cuja opinião não é muito relevante sobre como criar marcas que singrem foram de Portugal, são exatamente... os portugueses.
ResponderEliminarSim, mas a língua portuguesa é dada como uma das culpadas e, no entanto, outros apreciam os seus encantos e arranjam maneira de ela funcionar.
ResponderEliminarRita, o problema cá - como referi num post anterior sobre a têxtil - é a parolada das nossas "ê-lites" ou o bom velho "parvenu". Escrevi, na altura, o caso da defunta Maconde e dos fatos Hugo Boss, mas o mesmo é extensível a outras coisas. Se vir, o que mais há são empresas portuguesas com marcas estrangeiradas porque, sei lá...
ResponderEliminarNesse aspecto - e pegando num post no blog "Educar" do Paulo Guinote - acho representativo a mania dos MBAs e Business Schools! Mestrados em Gestão de Empresas e Escolas de Negócios, sff (ou deixar as velhas e boas Faculdades de Economia e Gestão em paz e sossego). Uma coisa é alargar a oferta em língua franca (inglesa, nos dias que correm), outra coisa são paroladas nominativas.
É a nossa mentalidade "low cost" ;)