quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Não perguntes...

"My fellow Americans, ask not what your country can do for you, ask what you can do for your country."

John F. Kennedy

Hoje, um amigo meu no Facebook, informou-me que eu posso votar nas eleições portuguesas para o governo e para a Presidência. Em 2010, quando eu renovei o meu passaporte português em Washington, D.C., eu tinha perguntado à empregada do Consulado se podia votar e ela disse-me que só podia nas eleições que não fossem para eleger o governo ou o Presidente. E, se não estou em erro, para votar nas outras era preciso ir em pessoa ao meu Consulado. Eu pensei para mim "Bela merda! Sai-se de Portugal e passa-se a ser um cidadão português de segunda categoria."

Respondi ao meu amigo que estava inscrita no consulado há mais de 10 anos e que ninguém se tinha dignado a informar-me que os meus direitos tinham sido aumentados, ao que ele me responde com a citação do JFK: "Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que podes fazer pelo teu país." E eu pensei "Bela merda! Estou farta desta mentalidade."

Eu faço pelo meu país. Saí do meu país em 1997 permanentemente. Assim que terminei os meus estudos e arranjei um emprego, também arranjei maneira de enviar dinheiro para Portugal e de pagar impostos em Portugal. Eu não consumo grandes recursos em Portugal actualmente e vejo o pagamento de impostos como um dever, pois durante um quarto de século, Portugal cuidou de mim e educou-me, logo acho mais do que justo que eu contribua, para que Portugal possa fazer por outros o que fez por mim. No entanto, eu não vejo porque é que os meus direitos de cidadão foram reduzidos porque eu estava fora de Portugal e quando foram reinstituídos eu não fui informada. Ainda no ano passado tirei o Cartão do Cidadão e tive de ir a duas Lojas do Cidadão e em nenhuma destas lojas me foi dito que eu podia votar mesmo estando fora de Portugal.

Ser emigrante é uma porcaria. Há sempre um espertalhão que aparece e nos diz que nós saímos de Portugal porque em Portugal não prestamos, não somos suficientemente bons, não teríamos tido sucesso nenhum, etc. Eu nunca vi um americano falar a outro americano assim. Quando um americano diz "Estive a viver no país X", o outro americano responde qualquer coisa como "A sério, que giro! O que é que gostas mais? É muito diferente? Conseguiste adaptar-te? Do que é que sentes falta?" Há um tipo de português que gosta de humilhar, como se tratar os outros mal o fizesse melhor pessoa.

No ano passado, uma amiga minha americana pediu-me para ajudar dois italianos que vieram a Houston. O rapaz tinha lavado o passaporte dele na máquina e precisava de um passaporte novo. Telefonou ao consulado da Itália em Houston e, inicialmente disseram que não o podiam ajudar. Depois disseram para ele vir a Houston que lhe passavam um papel para ele poder viajar. Quando ele veio foi ao consulado, mal conseguiu encontrar o escritório onde ficava: não estava identificado por fora, andou às aranhas até o encontrar. Depois de estar dentro do consulado, perguntou porque é que não havia identificação do sítio onde estava, disse que quando ele ia ao consulado americano estava tudo bem identificado. Responderam-lhe que um consulado não é uma embaixada, um consulado nos EUA é considerado solo americano, uma embaixada é considerado solo do país da embaixada--o que é que isto tem a ver com tratar as pessoas com dignidade e meter a identificação na porta? Referente ao passaporte, disseram outra vez que o não podiam ajudar, ao que ele respondeu que tinha sido informado por telefone que podia obter uma documento para viajar. Responderam-lhe que a carta só era passada poucos dias antes de ele viajar, logo ele devia voltar nessa altura. Ele respondeu que a viagem era mais de nove horas de carro e não podia estar a perder mais três dias para regressar. Lá lhe deram um papel para ele poder regressar à Itália.

Eu também tenho a cidadania americana e o passaporte americano. Demorei muito tempo a pedir a cidadania porque foi uma decisão muito difícil, talvez uma das mais difíceis que eu já tomei. Quando o recebi, abri-o para ver como era, pois nunca tinha passado grande tempo a estudar um passaporte americano. Numa das primeiras páginas está um pedido do Secretário de Estado americano a pedir protecção para o detentor do passaporte. As páginas estão cheias de citações de pessoas e documentos importantes da história dos EUA. Há americanos que não gostam deste passaporte, que o acham demasiado patriótico. Eu acho que não. O espírito do passaporte americano reflecte muito o que eu ouço os americanos dizer quando falam do seu país. O passaporte português é incrivelmente bonito, com imagens de poetas portugueses como Camões e Fernando Pessoa, mas não há qualquer menção de que as pessoas importam para Portugal. Aqui vos deixo as primeiras páginas dos passaportes americano e português. Vocês decidam o que pensar.

4 comentários:

  1. Bem, a funcionária disse-lhe ao contrário: SÓ pode votar nas eleições para o Presidente da República (voto é idêntico a cá) ou para a Assembleia da República (vota no círculo Fora da Europa, que elege dois deputados). Já agora, os seus digníssimos representantes são esta senhora e este senhor (ambos PSD):

    http://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Biografia.aspx?BID=4354
    http://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Biografia.aspx?BID=2104

    Quanto ao nosso funcionamento consular, com algumas honrosas excepções é de fugir.

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    1. Obrigada pela informação. Não acho o meu serviço consular muito mau. Sempre foi melhor do que os meus amigos italianos tiveram. Mas gostaria que acompanhassem mais a comunidade emigrante. A informação online do governo português não é muito boa, mesmo quando existe.

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  2. A ideia que tinha é que podia votar na AR mas não para o Presidente (eleições para o Governo é coisa que não existe).

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    1. Eu sabia que devia ter ido ao Google ver os termos técnicos exactos. Mas de vez em quando, gosto de ser preguiçosa, até porque há sempre reacções engraçadas à minha falta de conhecimento.

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