No âmbito da estratégia de promoção turística na Alemanha, uma das apostas estratégicas é a comunicação 'online', adiantou ainda o vice-primeiro-ministro. "Acho que mais vale uma estratégia digital, uma presença na Internet maciça, menções a Portugal nos líderes de opinião que influenciam as pessoas nas suas decisões, e que sejamos escolhidos como o melhor destino para viajar por revistas de alta qualidade na área do turismo, do que um 'outdoor' que mostre apenas a luz e o sol que temos", afirmou.Apoiado, mas reparem que ele não diz muito bem o que vende Portugal ao estrangeiro. Há assim uma ideia muito vaga-- a Internet vende!--mas nada de concreto. Acho que ainda estamos a pensar em como é que vamos partir esta noz. Eu como sou muito opinada, tenho umas ideias que gostaria de partilhar.
Por exemplo, ele fala em líderes de opinião, o que eu acho muito bem. A irmã dele, a Catarina Portas, é uma líder de opinião. Foi considerada pela revista Monocle uma das pessoas mais "trendy" do mundo (a Jenna Lyons adora a Monocle, que é uma revista inglesa--as coisas triviais que vocês aprendem comigo...). Foi ela que começou com a taradice dos pássaros por causa das andorinhas da Bordallo Pinheiro. E isto dos pássaros foi Hitchcockiano porque eles, como no filme, atacaram em todo o lado, ainda se encontram esses motivos aqui nos EUA, mas não tanto como antes. Já repararam que a Catarina Portas era irmã do Paulo Portas quando ele chegou ao governo?
No outro dia falei-vos da Mónica Pinto, não falei? O blogue da Mónica Pinto já apareceu em revistas alemãs. A sério! Olhem aqui. Mas seria super-giro ver um livro dela à venda numa livraria americana. E a Cláudia Casal, que eu adoro, também já teve fotos dela em revistas estrangeiras. A minha casa está cheia de fotos da Cláudia Casal e já sou cliente dela há vários anos: eu compro na loja dela na etsy e ela também está na Society 6. E a Cláudia, que tem uma história incrível, até tem um guia turístico de Lisboa online e já houve turistas estrangeiros que foram a Lisboa para serem fotografados por ela. E, como estas bloggers, há muito mais. As mulheres portuguesas estão em força na blogoesfera e muitas delas têm um sentido estético extremamente apurado. São mesmo muito boas e têm uma imagem muito internacional, como por exemplo a Constança Cabral, do Saídos da Concha. A propósito, já comprei o livro dela, só tenho pena que não tenham feito um livro em inglês para eu poder oferecer às minhas amigas que não falam português.
Por falar em livros, vou contar-vos uma história que me aconteceu em Setembro do ano passado, quando eu fui a Portugal. Durante a minha visita em Coimbra, visitei o Edifício Chiado, onde está instalada a colecção Telo de Morais. É uma coisa deslumbrante. Fiquei muito feliz; no entanto, senti um ligeiro ataque de ansiedade porque eu estive ali duas horas e não entrou mais ninguém para ver a colecção. E já sabem que a economista Rita nunca está verdadeiramente de férias, logo a certa altura eu estava a contabilizar o custo da minha visita na minha cabeça e deve ter muitos zeros à direita porque aquilo é muito caro de se construir e manter.
À saída, vi que tinham catálogos da exposição e quis comprar, até porque achei que seria uma prenda óptima para eu trazer para oferecer à minha supervisora, que é americana e gosta muito de arte. Não havia catálogos em inglês. Estava tudo em português. Achei um bocado estranho--a tal coisa da visão oportunista passar ao lado de alguém, ainda por cima com tanto licenciado em inglês e francês desempregado... De qualquer das formas comprei dois catálogos. Eu gosto muito de fazer compras em museus: ajuda-se uma boa causa e dá-se prendas educativas.
Quando saí do edifício, estavam dois turistas a olhar para o prédio, que é deslumbrante. Para quem não conhece, o Edifício Chiado em Coimbra é um prédio da arquitectura do ferro, como a Torre Eiffel, em Paris, as pontes D. Luís e D. Maria Pia, e a estação de S. Bento, no Porto. Estavam então os turistas especados a olhar para o edifício, com uma expressão confusa porque não entendiam o que era aquilo, e estava eu cheia de adrenalina porque quando visito museus fico assim--muito excitada--, e dirijo-me a eles e digo "You have to go inside and see the exhibit! It is simply breathtaking..." O que vale é que eu não tenho sotaque português quando falo em inglês, e as pessoas pensam que eu sou americana. Sendo assim, se os assustei, eles irão pensar que foi uma americana maluca que o fez e até nem estarão enganados de todo. E depois fui pela Rua Ferreira Borges, para gastar a adrenalina.
Nem sei se entraram ou não, mas reparei que não havia nada no exterior do edifício que informasse um estrangeiro que se podia visitar o interior nem que era um museu. Quando fui à Igreja de Santa Cruz, também em Coimbra, prestar a minha homenagem ao D. Afonso Henriques, não havia nada em inglês que indicasse que ali estava o nosso primeiro rei. Eu fiquei deprimida com a Igreja de Santa Cruz, pois não estava decorada como antigamente. Suponho que agora já não é usada para serviços religiosos e por isso não é mantido o esplendor que tinha no interior. Quando fui à Sala da Cidade em Coimbra, aconteceu a mesma coisa: estava eu e um outro senhor e mais ninguém, apesar da cidade estar cheia de turistas.
Perante isto, não é estranha a ideia do Dr. Paulo Portas de que devíamos ser conhecidos por outras coisas para além da luz e do sol, mas é um bocado difícil se as coisas não estão devidamente identificadas e convidam a pessoa a entrar. Mesmo assim, nem sempre se pode entrar: recordo-me de uma vez na Universidade de Coimbra encontrar uns turistas que queriam ir visitar o edifício que tinha uma cúpula bonita e estava dentro de uma muralha--pois, era a prisão, tive de os informar que esse não era para eles.
Mas não pensem que eu ataco apenas estrangeiros, também ataco portugueses. Uma das minhas últimas vítimas é o escritor António Gil. Ainda não consegui comprar um livro de poesia dele porque muitos, como o A Céu Aberto, que era o que eu realmente queria, estão esgotados. Suponho que só o último está disponível. E também não posso oferecer os poemas dele a ninguém fora de Portugal porque ainda ninguém se lembrou que poderia ser um bom negócio traduzi-los. E por isso já mandei emails ao Gil a perguntar como é que era, porque é que eu não posso comprar as coisas dele? Durante a minha visita à Livraria Lello, no Porto, encontrei um livro de poemas do Eugénio de Andrade bilíngue, em português e francês, e comprei-o para oferecer a uma amiga minha americana e é professora de francês numa escola particular em Dallas. Ela e eu temos um pacto: um dia eu mostro-lhe Portugal e ela mostra-me a França.
Os poetas Robert Browning e Elizabeth Barrett Browning eram fãs da poesia portuguesa, chegando ela a publicar um dos mais celebrados livros de poemas de amor em inglês: Sonnets from the Portuguese, em 1850. O Robert chamava à Elizabeth "My little Portuguese" e os poemas de Camões eram apreciados por ambos, ou seja, naquela altura a poesia portuguesa já era traduzida e conhecida lá fora. Hoje em dia, com a Internet, com tanta gente que fala outras línguas desempregada, não se traduzem muitas obras portuguesas, especialmente poesia, para além dos autores já conceituados, como Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, António Lobo Antunes, José Saramago. Ah, mas eu tenho um dos livros do José Rodrigues dos Santos em inglês... (Há sempre excepções às regras.) E notem que esta foi uma das conclusões do estudo do César Hidalgo, no qual participou o português Bruno Gonçalves: a influência da língua portuguesa (e de Portugal) seria maior se houvesse mais conteúdo original português traduzido para outras línguas.
Suponho que o que eu quero dizer é que, para além de tentar trazer mais pessoas, também podíamos fazer muito mais negócio com as coisas que já temos em Portugal. Andamos sempre à caça do que não temos, quando o que temos é mal aproveitado.
E deixo-vos com o poema mais famoso--o 43--da Elizabeth Barrett Browning, do Sonnets from the Portuguese, que decerto já ouviram:
How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of being and ideal grace.
I love thee to the level of every day’s
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for right;
I love thee purely, as they turn from praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood’s faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints. I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,
I shall but love thee better after death.
Hrm, a história que eu li é que a Elizabeth era morenaça e portanto ...
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