Mas vou dar-vos um exemplo concreto, só para verem a subversão que se faz de como os EUA funcionam. Em 1956, os EUA embarcaram na construção do sistema de autoestradas inter-estaduais (Interstate Highway Sistem). O principal objectivo do mesmo era o de defender o país em caso de ataque, pois ainda estavam sob o estado de espírito da Segunda Grande Guerra Mundial. Foram os militares que decidiram onde colocar as autoestradas para melhor acesso a pontos estratégicos e protecção do país. Depois das autoestradas construídas, verificou-se que o comércio de bens e serviços e o movimento de pessoas foram também impulsionados porque a localização das autoestradas foi bem estudada e servia os interesses do país, o que facilitou o crescimento dos EUA. Notem que a maior parte do sistema de autoestradas americano é grátis, são muito poucos os sítios onde se cobra portagens.
Contrastem este enquadramento com a forma como se decidiu onde colocar autoestradas em Portugal. Houve alguma lógica subjacente? A única lógica que houve foi captar fundos comunitários, enriquecer as construtoras civis, e captar subornos para políticos corruptos. Para além disso, muitas das autoestradas portuguesas estão sujeitas a portagens que são muito mais caras do que em qualquer sítio nos EUA. Notem a diferença de salários dos EUA para Portugal e vêem como a política de infraestrutura de autoestradas portuguesa é um completo absurdo. Como é que isto gerou um sistema de autoestradas que serve os portugueses e os interesses de Portugal? Não gerou, o que gerou foi umas empresas que são parcerias publico-privadas e que vivem à custa do contribuinte português porque são mal geridas e quem as gere não tem capacidade para fazer lucro sem ter acesso a um estado que legitimiza a exploração dos portugueses. Gerou dívida; não gerou crescimento!
O caso do iPhone, que é apresentado por António Costa: mais uma vez foram os militares que desenvolveram muita da tecnologia para defender o país. Notem que os militares americanos usam programação matemática para optimizar a utilização de recursos já desde os anos 40 e estudos benefício-custo. Apresentem-me provas que Portugal desenvolve infraestrutura que obedece a critérios de boa gestão de recursos e que pondera os benefícios e os custos. Se isso acontecesse, como é que teríamos uma dívida pública de quase 130% do PIB? Num universo onde o investimento é feito de forma a que os benefícios excedam os custos, haveria alturas em que o rácio da dívida pública/PIB diminuiria porque o investimento criaria retorno, que se traduziria em crescimento mais acelerado do PIB. O investimento público não tem retorno em Portugal--notem que Portugal tem infraestrutura mais avançada do que a americana.
Os EUA não são propriamente um país que esbanja recursos, há notícias de recursos esbanjados porque nada é perfeito, mas também há casos como o da Bridge to Nowhere, que não chegou a ser construída, apesar de os fundos terem sido apropriados, mas o próprio Congresso cancelou o projecto. Esses exemplos são mencionados ad nauseum pelos americanos como lições para controlar a despesa e evitar situações de despesismo. Despesismo por causas políticas nos EUA é o chamado "pork barrel".
O investimento mais importante que Portugal deveria fazer era recolha e análise de dados e disponibilização dos mesmos às empresas portuguesas, ensiná-las a usar informação, e incentivar a cooperação entre as empresas para explorar infraestrutura e conseguirem atingir economias de escala. Para além disso, as universidades deveriam estar atentas aos interesses do sector privado, pois deveria haver uma maior cooperação e disseminação de conhecimento técnico--já sei pelo LAC que a Universidade do Minho faz isto, mas isto não é a regra. As empresas portuguesas andam às cegas e nem sabem como gerir informação e risco. O século XXI é o século da informação e Portugal não usa ou usa mal a informação. Se querem governar Portugal e fazer Portugal crescer deixem de repetir os mesmos erros do passado. E já agora importam-se de baixar as portagens?
Quando o Steve Jobs regressou à Apple, telefonou ao Bill Gates para o Bill Gates financiar a Apple. Em 1997, a Microsoft emprestou $150 milhões à Apple, que era sua concorrente. O Steve Jobs não telefonou ao governo americano a pedir um subsídio. Sem esse empréstimo, não teria havido estado empreendedor que valesse à Apple.
Cara Rita,
ResponderEliminarO nosso historial de investimento público não é mau por falta de planos (apesar que isso também acontece) mas por excesso de optimismo nos planos e captura dos mesmos por interesses privados. Por norma começamos a fazer coisas que são necessárias ou fazem sentido (autoestrada Porto-Lisboa, reabilitar as escolas) e acabámos a fazer coisas que não fazem sentido nenhum e custam balúrdios (A29, "Festa Nacional Parque Escolar").
Isto porquê? Pegando no exemplo das auto-estradas, na fase em que houve necessidade (maioritariamente justificada) de expandir a rede viária (de forma altamente subsidiada pela UE), se criaram os colossos da construção civil, que cresceram à sombra do Estado e necessitavam de ser alimentados. Esses colossos faziam ou controlavam eles próprios os estudos de viabilidade de novos investimentos públicos (que eram e são feitos em "outsourcing" porque, segundo percebo, não temos faculdades de engenharia e economia...) e que sobreestimavam os benefícios sem que fossem criadas redes de segurança PARA O ESTADO no risco.
Escreveu que os EUA são um país maior que Portugal, mas é em parte por isso mesmo que é natural o Estado Português fazer alguns investimentos (como as refinarias) que num país maior não tem necessidade, porque os privados se encarregam disso mesmo. O problema não está aí: o problema está na selecção e análise custo-benefício / retorno dos investimentos.
É natural que o estado português faça alguns investimentos, como as refinarias, mas note-se que a indústria energética americana também recebe muitos subsídios, logo não é tudo um resultado do sector privado. A questão das economias de escala é muito relevante porque Portugal não tem tanta margem para erro como tem os EUA. E note-se que os EUA investem pouco em infraestrutura, grande parte da infraestrutura física americana está extremamente envelhecida, mas o EUA crescem. Nós não podemos seguir a estratégia de um país enorme como os EUA. A maior parte da inovação americana vem dos militares, ora nós não temos o poder militar dos americanos, nem sequer faz sentido ter. Mas faz sentido usar os critérios de decisão que os militares americanos usam e Portugal não faz isso, nem nenhum político defende isso.
EliminarRita,
EliminarNão há por não se consegue (com algumas raras excepções) entendimentos de longo prazo. Os americanos - que têm uma política muito mais agressiva que a nossa - fazem uma coisa bem: bipartisan commitees. E nós por cá deviamos ter ideias, planos de longo prazo definidos de forma similar, envolvendo gente que (expectavelmente) vai esta no poder. Quando se discute algo como um novo aeroporto para Lisboa ou (e continuando na aviação...) a privatização da TAP, essas são decisões estruturais, de fundo, que deveriam carecer de consenso alargado em vez de (e concordando ou não com a ideia subjacente da privatização da TAP, nest caso) serem decisões implementadas a mata-cavalos porque daqui a 6 meses podemos não lá estar...