Eu expliquei o que era especulação de commodities porque é uma forma de gestão de risco, que é um tópico do qual eu gosto muito. E é um tópico importante para as empresas portuguesas, mas também para indivíduos. Em Portugal não se aborda questões de risco na comunicação social, a não ser quando há bronca. Ainda há dois dias falava eu com um amigo acerca da gestão do seu património. Ele dizia-me que não se sentia educado nas diferentes opções que tem para investir o seu dinheiro. Ele é uma pessoa de boa formação, se ele se sente incapaz, estamos numa situação péssima. Há uma grande falta de conhecimento nessa área em Portugal e depois acontecem coisas como pessoas perderem quase todas as suas poupanças na bronca do BES.
Conheço alguém que teve grandes perdas com o BES e aconteceu uma coisa interessante. A namorada dele, que é uma das minhas amigas de infância, disse-lhe que tinha lido algo que eu tinha escrito no Facebook a propósito de investir no BES, e aconselhou-o contra o investimento; ele achou que eu não estava em Portugal e não percebia nada do que se passava. Eu acho que a bolsa portuguesa não tem boas oportunidades para se gerir risco. Comece-se pelo facto de a banca e seguros ter muito peso e estas áreas são áreas que não produzem riqueza. A banca portuguesa foi cúmplice no empobrecimento de Portugal, ou seja, não geriu o risco. E notem que Portugal não entrou em crise por causa da crise financeira internacional: a crise financeira antecipou a crise portuguesa, não a causou.
Agora vão dizer-me que nos EUA também houve o Madoff e outras coisas assim. Os EUA não eliminam o risco completamente, mas há muita informação acerca de como gerir o património pessoal e risco na comunicação social. E há também uma coisa gira que os americanos fazem: há certos tipos de investimento que estão vedados a pessoas com pouco dinheiro. Por exemplo, para investir em certos tipos de investimento é preciso demonstrar que se é rico. Eu não posso investir directamente num hedge fund porque não sou rica e o governo americano acha que pessoas do meu calibre financeiro não devem estar expostas a esse risco. Mas posso investir num fundo de investimento que é gerido profissionalmente e que é regulado, pois as pessoas que lá trabalham têm de demonstrar certas aptitudes, tem de haver política de risco, "due diligence", etc. e eles podem meter o meu dinheiro em áreas mais arriscadas. Se houver bronca, eu não estou sozinha contra uma empresa enorme, pois o normal nos EUA é haver um "class action law suit" que defende os meus interesses. Notem que a legislação americana de mercados financeiros é muito mais apertada do que a legislação portuguesa e o sistema de justiça americano é muito mais ágil.
Quem demonstra ser rico pode investir em hedge funds ou nos Madoffs e o governo americano não se preocupa com essas pessoas grandemente, para além de ter um sistema de justiça que funciona bem. Presumem os americanos que um rico tem obrigação de fazer "due diligence", isto é, tomar precauções para não ser enganado e diversificar o seu risco. Se não as toma, e note-se que essas pessoas têm dinheiro suficiente para procurar conselheiros, advogados, bons contabilistas, etc., a culpa é deles e, se calhar, não merecem continuar a ser ricos. Mas podem sempre recorrer à justiça.
Finalmente, uma pequena provocação minha: as bolhas da crise financeira internacional foram insufladas parcialmente por fluxos de dinheiro vindo de fundos de poupança-reforma e contas de investimento da Europa. Porque é que os europeus dirigiram tanto dinheiro para os EUA? Porque é que não se sentem confortáveis em investir mais dentro da UE?
"Porque é que os europeus dirigiram tanto dinheiro para os EUA? "
ResponderEliminarO Varoufakis explica:
http://www.zedbooks.co.uk/sites/default/files/The_Global_Minotaur_sample.pdf
Obrigada pelo link. Tenho de ver se a teoria dele está de acordo com a minha. Mas o Varouzinho põe-me a dormir. Tem uma voz relaxante. Talvez lendo, seja mais excitante.
EliminarNao confunda falta de preparacao com crimes. Os swaps,risco do estado sao criminosos.
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