Este tipo de cenários me parece bastante irrelevante. Ninguém consegue prever o futuro (nem o passado, quanto mais o futuro). Parece-me óbvio que se o crescimento for mais lento do que o previsto, um governo PS desacelerará estas reposições. Se for mais rápido, um governo PSD/CDS acelerará o seu calendário. Portanto, as diferenças são meramente de discurso. Na prática, implementarão políticas semelhantes.
Há, no entanto, um aspecto que me parece importante realçar e que é o maior risco que este programa do PS enfrenta. Existem várias medidas de estímulo da procura que poderão levar a fortes aumentos das importações. No cenário central do PS, isso não é muito grave porque prevêem uma forte subida das exportações. Essa previsão é suportada por projecções publicadas pela Comissão Europeia. No entanto, estas projecções, feitas em Outubro de 2014, parecem ser demasiado optimistas. O que se tem passado desde então sugere que deviam ser revistas em baixa.
Ou seja, o principal risco das políticas propostas é o de disparem o défice externo, pecha estrutural da nossa economia. Gostaria de ver mais prudência e menos voluntarismo neste aspecto.
Caro Luís:
ResponderEliminarDeve deduzir-se das suas palavras, portanto, que a violência das acusações por parte de muitos apoiantes do actual governo contra o Cenário Macro do PS se deve apenas à luta política, pouco séria, diga-se de passagem.
Pois quanto à substância as diferenças são muito mais de caminho do que de chegada.
E ambos os cenários terão de contar com bastante incerteza.
Hmmm... para que o défice externo aumente, é preciso que haja quem o financie. Quem o vai financiar?
ResponderEliminarExplico-me: o dinheiro não cai do céu. Se há um défice externo, é porque há alguém no estrangeiro que está disposto a enviar dinheiro para Portugal. Se Portugal teve, durante muitos anos, um défice externo permanente, foi porque houve bancos estrangeiros que estiveram dispostos a emprestar dinheiro a bancos portugueses, porque houve estrangeiros dispostos a investir em Portugal, e porque houve emigrantes dispostos a enviar o seu dinheiro para Portugal.
Agora, creio, não há nada disso. Então, como poderá voltar a surgir um défice externo?
Se o Luís foi passar férias a Itália está a contribuir para o nosso défice sem precisar que ninguém o financie (isto se tiver dinheiro para passar férias, claro). Já se for comprar um carro novo também contribui para o défice externo. E se não tiver dinheiro para pagar verá que tem campanhas de financiamento para compra de automóveis muito agradáveis. Se pagar uma taxa de juro muito superior a 0% é porque está a deixar-se enganar.
EliminarJá agora, com taxas de juro tão baixas como as que existem neste momento (e com as quais os bancos também se financiam) onde é que foi buscar a ideia de que ninguém empresta? Se não emprestassem, as taxas de juro seriam elevadíssimas, tipo Grécia.
O Luís A-C está a cair no erro de reduzir a macroeconomia à microeconomia. Quando falamos do défice externo do país, temos de saber quem financia esse país. Não estou a questionar quem me financia para eu comprar um carro importado ou para eu ir passar férias ao estrangeiro; estou a questionar quem financia o país como um todo. O facto de haver quem me financie a mim, pessoalmente, não significa que haja quem financie o país como um todo.
EliminarAs taxas de juro estão baixas mas o facto é que não se empresta. É por isso que há hoje tantas pessoas a arrendar casa - porque não arranjam quem lhes empreste dinheiro para comprar uma.
"O Luís A-C está a cair no erro de reduzir a macroeconomia à microeconomia."
EliminarÉ verdade, eu passo a vida a cometer erros destes. É uma vergonha, a bem dizer. Como é que um professor de economia, aliás, de macroeconomia para ser mais precisa, comete erros assim tão estúpidos?
Deixe lá, é um erro que hoje em dia se comete frequentemente. Discute-se com gosto a economia de Robinson Crusoe numa ilha deserta, ou de um sapateiro e um merceeiro numa aldeia, sem se aperceber que nem toda a economia se reduz a isso.
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