Nas últimas décadas, o economista e
historiador americano Douglass North foi talvez quem mais chamou a
atenção para o papel das instituições no desenvolvimento económico. Em “Institutions,
Institutional Change and Economic Performance”, definiu-as assim (a tradução é
minha):
“As instituições são as regras do jogo de
uma sociedade ou, mais formalmente, são as restrições humanamente forjadas que
moldam a interacção humana. (…) Em consequência, as instituições estruturam os
incentivos da troca humana, seja ela política, social ou económica.”
Mais recentemente, teve grande êxito o
livro “Porque Falham as Nações, As origens do Poder, da
Prosperidade e da Pobreza” de Daron Acemoglu e James A. Robinson. Não li o livro,
mas conheço há alguns anos as ideias dos autores, graças a uma série de artigos
que o Fernando me enviou.
Os autores estabelecem uma hierarquia institucional. As instituições
políticas determinam as instituições económicas e estas o desempenho económico
e a distribuição de rendimento numa sociedade. As instituições políticas
incluem as formas de governo – por exemplo, democracia versus ditadura ou
autocracia e as coações impostas aos políticos e à classe política.
O que é que determina as instituições políticas? Daron Acemoglu e James
A. Robinson avançam com uma explicação, que tem, a meu ver, conotações
marxistas, apesar de os autores o negarem. As instituições seriam o resultado de uma
escolha colectiva. Todavia, não seriam escolhidas por toda a sociedade, mas
apenas pelos grupos que, na sequência de conflitos com outros grupos, controlam
o poder político em determinado momento.
Os grupos vencedores escolhem as instituições que maximizam os seus
rendimentos e benefícios. O problema é que as instituições económicas estabelecidas
– como, por exemplo, a estrutura dos direitos de propriedade privada e o nível e
concorrência dos mercados - podem não ser as mais favoráveis à maximização do
rendimento e da riqueza total numa sociedade. Ou podem funcionar bem até
determinado momento e, com o tempo, tornarem-se desajustadas.
Uma das características das instituições políticas é serem duradouras. O
grupo com mais poder político tudo fará para manter o estado de coisas, mesmo
que isso implique o prejuízo do resto da sociedade. Todavia, a mudança pode
ocorrer. Seja por motivos internos: surge outro grupo mais poderoso e
ameaçador; seja por motivos externos: devido, por exemplo, a uma revolução
tecnológica ou a uma mudança no contexto internacional.
Parece evidente a ligação entre
as instituições e o desempenho económico de um país. Todavia, daqui não decorre que
basta mudar as instituições ou copiar um modelo qualquer de um país em que as
coisas correm aparentemente bem. Se assim fosse, era fácil. As coisas são muito
mais complicadas. E a história mostra isso mesmo.
Para começar, este discurso sobre as
instituições não é original. No século XVIII, uma época de confiança no homem e nas suas possibilidades, os filósofos
acreditavam que se as instituições pudessem ser definidas correctamente, o
futuro da humanidade estaria garantido. As instituições poderiam sugerir,
estimular e provocar as melhores reacções dos homens. No século seguinte, vários filósofos e historiadores consideraram essa visão uma ilusão.
A título de exemplo, Gustave Le Bon achava
que é o carácter de um povo, os seus costumes e tradições que determinam as
instituições e não o contrário. As instituições só devem mudar em função da necessidade e
do tempo. A sabedoria dos políticos está precisamente em saber interpretar essas duas
variáveis e, claro, em conhecer muito bem a sociedade em que vivem. Na sua “Psicologia
das multidões”, Le Bon dá alguns
exemplos históricos para demonstrar as suas teses.
Por exemplo, a seguir à revolução
francesa, alguns "iluminados", contrariando as tradições e costumes do país, acharam que a França precisava de uma maior
descentralização do poder político. Resultado? Caos, guerras civis e, no fim,
uma centralização ainda maior. Tocqueville descreve também essa experiência nas suas obras.
Baseado na sua própria experiência
política, Tocqueville relata-nos que, durante anos, após a revolução, os políticos franceses
passaram grande parte do tempo a mudar o nome das coisas que vinham do antigo
regime, para, na prática, ficar tudo na mesma ou pior ainda.
Eis no que dão muitas das reformas políticas voluntariosas: sangue, suor, lágrimas e, no fim, fica apenas uma mudança do nome das
coisas.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.