Independentemente do curso dos acontecimentos na Grécia, a actual crise já pôs fim à crença da irreversibilidade do euro. Se houvesse dúvidas em relação a isso, as declarações de François Hollande e de outros líderes europeus, comentando o significado do referendo de 5 de julho na Grécia, dissiparam-nas.
A irreversibilidade do euro tem sido apontada como uma condição necessária para a credibilidade da União Económica e Monetária. No entanto, como todos sabemos desde o início da sua criação, a zona do euro tem muitas falhas no seu modelo de governação. A zona do euro não foi desenhada para acolher as chamadas economias periféricas, tendo a sua participação surpreendido os mentores do euro. Esta surpresa explica, em parte, a inexistência de instrumentos de política económica que permitam acomodar choques que afectem os Estados-membros da zona euro assimetricamente, bem como impedir a acumulação de desequilíbrios como aqueles que estiveram na origem da actual crise.
As soluções para as falhas no modelo de governação da zona do euro estão identificadas: aprofundamento da integração, isto é, uma maior centralização das políticas na União Europeia e no eurogrupo. De facto, as propostas consideradas essenciais à sobrevivência do euro – veja-se, por exemplo, a recente carta dirigida à Comissão Europeia por um conjunto de personalidades de vários países, em que se incluía Vítor Bento – vão no sentido de concluir a união bancária e de se avançar a breve trecho para uma união fiscal, orçamental e política.
O recrudescimento dos movimentos nacionalistas por toda a Europa não augura sucesso para uma estratégia que coarte a soberania dos países e que implique maior partilha de riscos. Apesar da defesa que o governo português e de outros países têm feito da via de maior integração para a resolução da crise do euro, os países do norte da Europa não vêem com bons olhos esses projectos, antecipando os custos que daí poderão advir no futuro para os seus contribuintes.
Como referi no meu post anterior, é verosímil que muitos representantes dos países do norte da Europa estejam dispostos a suportar os custos da saída da Grécia da zona do euro, esperando que a reversibilidade da participação na UEM funcione como instrumento disciplinador das políticas dos Estados-membros.
Depois desta crise, a UEM não será a mesma. Sendo a participação no euro reversível, os países voltarão a discutir as vantagens e desvantagens de participarem na moeda única. Os mercados também farão essa avaliação.
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