Sir Thomas More, autor de Utopia
(1515), termo inventado por ele e que tanto significa «um lugar bom» como «em
parte nenhuma», colocou a sua comunidade ideal numa terra longínqua. Mesmo
quando a ideia de Utopia é usada como um instrumento de reforma social, nem
sempre é revolucionária. Muitos utópicos não desejam destruir a sociedade mas
criar uma comunidade ideal que a sociedade possa usar como modelo. O utopismo
foi um movimento de retirada do mundo antes de ser uma tentativa de reformular
o mundo pela força.
Nos anos 1990, saíram do Tratado da
União Europeia duas utopias: a “cidadania europeia” e a “moeda única”. Os “grande
líderes europeus” da época, esses grandes visionários, munidos de uma “ideia de
Europa”, retiraram-se do mundo para imaginar uma comunidade ideal, feita de paz e harmonia. Tarde ou cedo, brotaria das brumas um “demos Europeu” e, provavelmente
num passe de mágica, irromperia uma democracia (demos-cracia) europeia. Em vez
disso, acirraram-se, como já não se via há muito, as divisões e os conflitos nacionais
(alguns preferem chamar-lhes “egoísmos nacionais”) e meio mundo queixa-se da
falta de “democracia europeia” e de “solidariedade europeia”.
No meio da confusão instalada, muitos
querem prosseguir na senda da utopia. Se os “grandes líderes” do passado recente
se colocaram fora do mundo, os actuais teriam agora de reformular o mundo pela
força, tipo ou vai ou racha. É a este tipo de “harmonia” que as utopias
costumam conduzir.
É curioso o JCA evocar Thomas More — porque passam hoje exactamente 480 anos sobre a sua morte, em 1535.
ResponderEliminarFoi coincidência, não me tinha apercebido desse pormenor.
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