A semana passada saiu a revisão da estimativa para o crescimento da economia americana no segundo trimestre: o crescimento homólogo do PIB foi revisto de 2,3% para 3,7%. A Bloomberg teve logo uma peça em que se aconselhava cuidado com o número do PIB porque o Rendimento Doméstico Bruto apenas aumentou 0,6%. A verdade deve estar entre um número e o outro. Entretanto, em Agosto, os americanos estão um bocadinho deprimidos, pois onível de confiança dos consumidores caiu.
Talvez se recordem que a economia alemã expandiu a 0,4% no segundo semestre, depois de ter expandido a 0,3% no primeiro. A The Economist denota o desempenho robusto da Alemanha, que contribuiu para o maior crescimento da Zona Euro. O governo alemão também está feliz com o resultado. Deus abençoe a Alemanha, que eu não tenho uma bênção aqui à mão. Depois de ler a Bloomberg, fiquei confusa com a definição de "robusto". Das componentes do PIB da Alemanha, as exportações cresceram 2,2%, mas o terceiro parceiro comercial mais importante para a Alemanha é a China. Hmmm, será isto robusto?
Já sei que, de acordo com algumas pessoas, os problemas da China têm a ver com o mercado bolsista, não são reais. Na realidade, construir cidades vazias é uma óptima alocação de recursos. Ter terras agrícolas tão poluídas que os agricultores e os seus filhos têm cancro, mas continuam a comer o arroz porque arroz poluído, que eles sabem que os mata, é melhor do que morrer de fome também é óptimo. Construir escolas que "obedecem" a leis de qualidade de construção civil tão más que elas caem com crianças lá dentro também é bom. E que dizer de usar imobiliário para garantir empréstimos para se "investir" na bolsa? A realidade é aquela coisa que nos morde de vez em quando, não é?
Os gregos continuam a desapontar: não bastava terem sido chamados de uma oddity pelo The Economist, quando se anunciou o seu crescimento de 0,8% no segundo trimestre, como agora o seu crescimento foi revisto em alta para 0,9%. A maior causa deste desempenho foi a descida das importações, que contraíram 4,9%. A Bloomberg diz que os economistas ficaram chocados com estes números e estão a contar com más notícias no terceiro trimestre para o tradicional "I told you so..." No entanto, os números foram cozinhados pela própria Grécia, logo sabe Deus se são confiáveis ou não.
Rita, o grosso da exportação alemã para a China são máquinas, sendo que muitas delas não se destinam tanto ao "consumidor final" (malgrado os Audi e Mercedes - a BWM é mal-vista na China) mas sim a processos produtivos. Ou seja, enquanto a China fabricar "coisas", os alemães vendem máquinas - isto, obviamente, até ao dia em que copiem a totalidade das referidas máquinas e/ou o seu mercado de exportação cesse.
ResponderEliminarÉ exactamente esse o problema. Como os custos do trabalho na China aumentaram muito (quadruplicaram entre 2009 e 2014), muitas empresas estão a ir para outros países asiáticos (Índia, Bangladesh, Cambódia, etc.) para lá produzirem. Há também um aumento do número de companhias americanas a irem para o México ou até a ficarem nos EUA em vez de produzirem na China. http://ivn.us/2014/06/27/u-s-companies-leaving-china-mexico-home/
EliminarJá desde as negociações da NAFTA que se ouvem comentários em como as empresas americanas estão definitivamente a desmobilizar para o México. Na verdade nunca percebi a persistência desses argumentos. Se o retorno do capital é mais baixo nos EUA do que no México, não vejo onde é que está o problema do investimento seguir a rentabilidade mais elevada, antes pelo contrário. E se o argumento é sobre a destruição de emprego nos EUA, do que sabemos do comércio internacional é que as duas razões mais consensuais que explicam o FDI não são consistentes com a destruição de emprego: uma é sobre o contornar de tarifas e outras barreiras (pouco plausível no México); outra é com a procura de factores de produção mais baratos que complementem a produção doméstica (FDI vertical) o que, em vez de reduzir, aumenta a procura doméstica de emprego (a Apple é o exemplo típico). Estudos empíricos a nível empresarial concluem que empresas activas em FDI são mais produtivas e maiores que empresas que apenas exportam, que por sua vez são ainda mais produtivas e maiores que empresas que baseiam as suas actividades exclusivamente no território doméstico.
EliminarPara finalizar, talvez seja instrutivo o debate entre no Charlie Rose entre o Sir Goldsmith (não faço a mais pequena idea de quem é este sujeito) e a Laura Tyson (na altura economista chefe da administração Clinton). É interessante que esse debate tenha mais de 20 anos (pode ser encontrado no youtube).
Sim, Rita, mas isso é indiferente para os alemães. Sejam as fábricas Chinesas ou Vietnamitas, as máquinas continuam a ser alemãs.
EliminarIrá depender da produtividade também. Uma máquina alemã nos EUA ou no México se calhar produz mais do que uma máquina alemã na China.
EliminarGostei muito deste post. :)
ResponderEliminarMas eu até tenho uma dúvida sobre este tema: o PIB é suficientemente bom para calcular a riqueza de um ano num país? Será que um país que produz 1000 num ano é tão rico como um que produz outros 1000 nesse ano?
É uma dúvida porque se Moçambique produzir o mesmo PIB per capita que a Noruega no próximo ano, suponho que economicamente a Noruega ainda dispunha de maior riqueza. Parte com mais estruturas, etc.
Ou numa caricatura micro, mesmo partindo do zero, não é igual ter estes mesmos países:
A) Produz durante um ano: 500 alimentação e 500 habitação. Teve 4 terramotos que destrui por 4 vezes as habitações totalmente, tendo de se reerguer pelo valor total de 100.
B) Produz durante um ano: 900 alimentação e 100 habitação. Não teve terramotos nem necessidades de reconstrução.
Certo. O PIB é um variável fluxo, é como os seus rendimentos anuais, a riqueza é uma variável stock, ou seja é um valor acumulado ao longo dos anos.
EliminarSe alguém tem exactamente o mesmo salário que eu, tal não implica que alguém seja tão rico como eu. Eu, por ter ganhado (ou poupado, ou herdado) mais no passado posso ser mais rico.
Um país pode ser rico em recursos, mas ser pobre em rendimento (PIB), porque não sabe monetizar esses recursos ou o mercado ainda não valoriza esses recursos. A riqueza da Noruega vem do stock de petróleo, mas a Noruega nem sempre foi rica. Só enriqueceu quando conseguiu extrair e monetizar esse recurso.
EliminarComo o João menciona, uma das críticas que se faz ao PIB é de que não leva em conta se a actividade contribui para a criação de nova riqueza ou é apenas recuperação de riqueza perdida--caso da reconstrução devida a um terramoto, dos gastos de tratamento de asma por causa da poluição, etc. Nesse sentido, ter legislação ambiental, de protecção de trabalhadores, etc. diminui o crescimento potencial do PIB. Isto significa que até é difícil comparar o crescimento de países diferentes porque têm legislação diferente.
Os EUA tradicionalmente têm muitas catástrofes naturais, o que também contribui para o seu crescimento; este ano ainda não sofreu nada de significativo.
Exacto, aliás a questão ambiental é uma das que me faz lembrar esta questão.
EliminarMas, se não for exigir muito, fica a minha outra dúvida: não é viável o cálculo da riqueza de um país para além do PIB? Ou já existe, mas também tem problemas de análise?