A dívida ao nível mundial não tem um efeito negativo no mundo como pode ter a dívida nacional para um país. O que tem é um efeito redistributivo de riqueza, pois parte do rendimento futuro dos países devedores vai ser usado para pagar o custo de contrair a dívida, i.e., os juros. Esses juros serão contabilizados como rendimentos dos países credores. Para o mundo, saiu de um bolso e entrou no outro, logo do ponto de vista contabilístico fica-se na mesma.
Como se observou no programa, é mais relevante saber o que essa dívida compra e eu acrescentaria a saúde financeira de quem a contrai. O que a dívida compra informa-nos acerca da criação de riqueza na economia. Por exemplo, na China há dívida que é contraída para construir edifícios que ninguém usa, logo esse investimento não gera um retorno para a economia (em Portugal também há esta ideia que autoestradas e edifícios vazios geram riqueza ao ser construídos). O que é gerado é uma antecipação de rendimento futuro--isto é, tira-se rendimento do futuro para ser gasto no presente. No futuro teremos menos dinheiro porque parte do nosso rendimento é usado para saldar a dívida.
Outra forma de endividamento chinês é contrair dívida para comprar acções no mercado bolsista. Note-se que as empresas que estão cotadas na bolsa chinesa não têm o hábito de dizer a verdade nos relatórios de desempenho (a avaliar pelo BES, em Portugal também há esse problema). Muitas das empresas chinesas valem menos do que elas dizem. Há ainda a agravante de alguns dos empréstimos chineses que foram usados para insuflar o mercado bolseiro terem como garantias activos de imobiliário chinês, cujo valor é duvidoso.
Nós sabemos que o mercado imobiliário chinês é uma bolha, só não sabemos o seu tamanho nem quando irá estalar. Há quem diga que é desta que a coisa rebenta, mas um dos comentadores no Diane Rehm Show disse uma coisa que faz muito sentido: a China controla a saída de dinheiro, logo a maior parte das pessoas não consegue tirar o dinheiro da China, logo tem de o investir nacionalmente: ou investe na bolsa ou em imobiliário. Se o mercado bolsista está em sarilhos, as pessoas provavelmente irão tirar dinheiro da bolsa e metê-lo noutro sítio, i.e., em imobiliário.
A crise actual tem o potencial de insuflar o mercado imobiliário chinês ainda mais no curto prazo, fazendo com que o estalo da bolha imobiliária chinesa seja muito maior no longo prazo.
A ironia das ironias é ver um país tão endividado como Portugal doar 14 mil milhões dos seus melhores activos financeiros (Fidelidade) a especuladores das Bolsas chinesas.
ResponderEliminarhttp://olhodeboi.blogs.sapo.pt/como-comprar-a-maior-seguradora-86082
vale a pena ver o peso (%) das bolsas chinesas no conjunto mundial; vereficamos que mesmo que se ponham em bicos de pés, pouco mais que uma brisa mais forte representam.
ResponderEliminarAs repercussões vão para além das bolsas; por exemplo, a fraqueza da China está a afectar o preço das commodities agrícolas e do petróleo. Isso irá ter repercussões no Brazil, na Argentina, nos EUA, e a Rússia estava a contar com o mercado de energia da China. Ainda não vi nada a contabilizar a exposição da Alemanha ao mercado chinês.
EliminarPodemos saber porque não foi aceite o comentário com o link da entrevista do dono da Fosun ao Finantial Times em que este se regozija com a "disponibilidade" de 13 mil milhões de euros que encontrou na Fidelidade e que, já se sabe, foram empregues, em grande parte, em especulação na bolsa chinesa?
ResponderEliminarNão é o de cima? Acho que apenas houve atraso na aprovação do comentário.
EliminarFoi bom ter chamado à atenção, já estava perdido. Deverá ter ocorrido algum erro. Quando vi o novo comentário fui procurá-lo ao blogger.
EliminarObrigado pela publicação e pela mensagem
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