segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Tecnologicamente atrasado...

A expressão "technologically challenged" é usada nos EUA para indicar que algo ou alguém não se sente à vontade com a tecnologia: a tecnologia é um desafio (challenge) que custa ultrapassar. Como a tradução literal para português é ela própria "challenged", eu contento-me por usar "tecnologicamente atrasado", apesar de não ser bem descritivo da situação.

A tecnologia é uma faca de dois gumes. Por um lado permite-nos ser mais "produtivos", se a sabemos usar; mas por outro também serve para esconder falhas no sistema, especialmente quando a dita produtividade não é medida. Vou dar-vos dois exemplos: um português e outro americano.

Numa conversa com um amigo português, ele disse-me que sabia de pessoas que utilizavam Microsoft Excel para criar tabelas, mas os totais na tabela eram calculados com uma máquina de calcular. Essas pessoas não sabiam que o Excel tem fórmulas que permitem ao utilizador fazer cálculos directamente nas células da folha de cálculo. É por isso que se traduziu, e muito bem, o termo "spreadsheet" como "folha de cálculo", em português. O que está em causa aqui é ignorância e falta de treino adequado das pessoas.

No outro exemplo, o americano, já há uma tentativa deliberada de usar a tecnologia para esconder a incompetência da pessoa. Uma amiga minha contou-me a história da sua professora, uma senhora que já tinha o estatuto de "Professor" numa universidade americana, mas que não sabia usar o computador senão para ver o email, fazer buscas na Internet, e escrever em Microsoft Word. Não sabia usar o famigerado "Microsoft Excel", nem nenhum outro software de análise quantitativa, como por exemplo SAS, que é muito comum em universidades nos EUA, especialmente em Economia. Para esta pessoa, um computador básico serviria perfeitamente; mas quando ela foi para comprar um computador, ela quis um computador potente e caro, que estivesse ao nível dos computadores dos professores que faziam análise sofisticada. O objectivo era criar a ilusão que ela fazia esse tipo de análise. Felizmente, a Lei de Moore está do lado dos americanos...

Eu acho que há muitas coisas em Portugal que dão a ilusão que as coisas funcionam, mas não funcionam. E essa ilusão custa muito dinheiro a um país que não o tem. Já enviei três emails para a Câmara dos Solicitadores e não obtive resposta nenhuma. Já enviei emails a pedir ajuda por causa do meu cartão de cidadão ter ficado bloqueado e não obtive resposta nenhuma. Já enviei emails à Polícia Judiciária para fazer uma queixa e não obtive resposta nenhuma. Responder a um email deveria ser uma coisa perfeitamente trivial. Eu pergunto-me: se a prática é não responder a emails, para quê criar a ilusão que se responde a emails? Para quê criar estes formulários nas páginas da Internet se eles não são usados? Todos estes recursos custam dinheiro a criar e têm um retorno negativo: fazem os cidadãos perder tempo e esforço numa coisa que não produz resultados e criam a ilusão que funciona, quando na realidade não funciona.

O João Cerejeira da Silva ilustrou o uso ubíquo da palavra confiança nestas eleições. A única confiança que eu tenho é que quem governa e quer governar Portugal não tem o mínimo de respeito pelos portugueses. Esbanjar recursos que o país não tem é criminoso!

3 comentários:

  1. Muito bom post. Só uma nota: o cartaz da CDU é das últimas autárquicas. O do BE é anterior a esta campanha, e não tenho a certeza se está a ser usado.

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  2. Todos os dias, governo e reguladores, deixam de mostra eficiencia. Fiz uma exposição ao BdP, e recebi um resposta muitos meses depois; até já me e tinha esquecido.

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  3. A palavra que procuras deve ser "retardado(a)"...
    Até me animaste, acho que me substimo.
    ;)

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