Imaginem vós que uma razão pela qual os EUA conseguiram sair tão rapidamente da Grande Recessão foi porque os reformados absorveram grande parte do choque na procura. É verdade, a actual geração de reformados americana é a mais rica de sempre: foi a geração que beneficiou com a introdução de planos de poupança-reforma 401k (e 403b para os funcionários públicos) e alguns ainda têm benefícios de pensões pelo emprego. Estes planos de poupança reforma cresceram mais agressivamente durante anos de forte crescimento do mercado accionista; à medida que se aproximava a idade da reforma, os planos foram investidos de forma mais conservadora e não sofreram tanto da exposição à queda do mercado accionista. Quer dizer, tiveram a sorte de beneficiar dos anos de expansão e ter um risco reduzido aos anos de contracção.
Para além disso, quando muitos dos actuais reformados andaram na faculdade, não tinham de se endividar tanto para pagar um curso. Quando terminavam o curso, também beneficiaram de bons mercados de trabalho e tiveram bom crescimento de salários. Mas isso é parte da história; a outra parte é que, até recentemente, mesmo sem curso universitário, conseguia-se um bom emprego. Ou seja, tinha-se uma boa carreira entrando-se mais jovem no mercado de trabalho e investindo menos anos em educação.
Ao contrário de gerações anteriores, muitos dos actuais reformados têm casa própria já paga, logo não precisam de se preocupar com rendas. Mesmo os que vivem em grandes cidades, muitos beneficiam do aumento demográfico que tem acontecido nestas e conseguem vender as suas casas a preços muito bons, enquanto que nas zonas menos urbanas podem adquirir casa a preços muito mais baixos. Note-se que a Florida, popular com os reformados, foi um dos sítios onde os preços de imobiliário desceram mais, enquanto que sítios como S. Francisco, Houston, Nova Iorque, Los Angeles mantiveram bem o nível de preços do imobiliário ou recuperaram rapidamente. Ou seja, a recessão beneficiou quem se quis mudar para a Florida. Mas mesmo não tendo casa, nos EUA há sítios onde é muito barato viver.
Uma tendência mais recente e com menor impacto, mas que será crescente a longo prazo, tem sido a maior mobilidade de reformados americanos que vão viver para países como o México ou a Costa Rica, para assim esticar as suas reformas e poupanças e reduzir a sua exposição aos custos altos de saúde dos EUA.
E depois há uma razão muito óbvia: a esperança média de vida está bastante alta e os EUA estão a ficar mais envelhecidos, logo o número de adultos que não trabalham está a aumentar. Só na minha rua, há várias senhoras com mais de 90 anos. Mas não sejamos impressionistas e vejamos os números: de acordo com o Census.gov, nos EUA, entre 2000 e 2015, o número de pessoas com 70 anos ou mais aumentou 24,2%, mas o número de pessoas com 15 anos ou mais aumentou 17,3%. Notem que o número de pessoas com idade entre 15 e 69 anos inclusive, aumentou apenas 12.9%. É um bocado ingénuo pensar que uma população com mais pessoas com mais de 70 anos pode continuar a ter uma participação no mercado de trabalho na mesma proporção que antes, quando a população era mais jovem.
Viva a Goldman-Sachs: descobriram a pólvora. Esperemos que não destruam o mundo outra vez quando descobrirem os fósforos...
Não me parece que a continuada diminuição da participação na força de trabalho nos EUA se deva principalmente a factores demográficos como os que refere.
ResponderEliminarAtentemos, por exemplo, no caso britânico, onde decerto se manifestam tendências demográficas semelhantes às americanas:
«The number of people in employment jumped by 140,000, pushing the employment rate to 73.6 percent, the highest since records began in 1971.»
Há que reconhecer que muita gente nos EUA em idade activa pura e simplesmente desistiu de procurar emprego.
http://uk.reuters.com/article/2015/10/14/uk-britain-jobs-idUKKCN0S80R620151014
Realmente, ter a população reformada mais rica e envelhecida da humanidade deve permitir aplicar as mesmas inferências que se faziam para a geração anterior, menos rica e envelhecida. Porque é que os estatísticos ainda não se lembraram disso?
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