quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Perversão...

Depois de escrever o último post, ainda continuei a ruminar esta coisa de um acordo não-publicitado. Quais as vantagens de o PS entrar num acordo não-publicitado com a Extrema Esquerda, pensava eu. A resposta é óbvia: não vale a pena publicitar um acordo que o PS não tenciona cumprir. Para além disso, esse acordo teria de ter contornos tão mirabolantes para agradar à Extrema Esquerda que toda a gente lhe cai em cima, especialmente a União Europeia.

Depois da nova coligação de esquerda formar governo, o PS não tem de aturar a Extrema Esquerda. Se passar medidas que agradem à UE e mantenham o país financeiramente a boiar, a PàF vai ter de votar a favor delas na AR. Se não o fizer e derrubar a nova coligação, o PS vai acusá-la de ser a má da fita, e a PàF não conseguirá bons resultados nas próximas eleições. Essa é a única oportunidade que o PS tem de enfraquecer a PàF e melhorar os seus resultados eleitorais.

Por outro lado, PCP e BE com aproximadamente 20% da AR não têm poder para derrubar nada que PS e PàF aprovem. O PS governa assim sozinho, sem que tenha obtido maioria nas eleições. O novo Presidente da Republica poderá dissolver o parlamento, mas esta estratégia do PS maximizará o desempenho do PS nas próximas eleições.

Numa das histórias de Sherlock Holmes, Holmes reconhece que tem uma mente brilhante e que daria um óptimo criminoso; mas ser brilhante não implica que tenha necessariamente de se dedicar ao crime, pois pode obter o mesmo "prazer" usando a sua inteligência para o combater. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a esta crise: como é que estas pessoas, que militam no PS, têm tanta imaginação para a subversão, perversão, e abuso do sistema, mas para fazer o país avançar num caminho sustentável ninguém dá uma para a caixa?

4 comentários:

  1. Sem se conhecer o acordo é mais difícil fazer contas independentes sobre o impacto que as medidas que estão a ser discutidas têm no déficit (como aconteceu na campanha, em que muito se discutiu o programa do PS). Deixa-se, como diz a Rita, essa discussão para o orçamento, já com o governo em funções.

    A ser essa a estratégia (aprovar o programa de governo à "esquerda", para depois colocar o ónus de aprovar orçamentos sobre a "direita") espero que PSD/CDS não alinhem. Têm mais 21 deputados que o PS, e mais 3 que PS+BE. Não tem qualquer tipo de obrigação de viabilizar um governo negociado à sua margem.

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    1. Pois é, mas isso é uma jogada que é defensável politicamente, mas é má para o país. A instabilidade política de não viabilizar um OE do PS que agrade à UE, ou seja, que não prejudique o país, vai associar-nos à Grécia depois de nós penarmos tanto para nos diferenciarmos deles. E as consequências disso vão provavelmente cair em cima da PàF. Não sei se os portugueses castigarão o PS por ser tão maquiavélico.

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  2. "como é que estas pessoas, que militam no PS, têm tanta imaginação para a subversão, perversão, e abuso do sistema, mas para fazer o país avançar num caminho sustentável ninguém dá uma para a caixa?"

    Excelente pergunta! O PS é um caso de polícia. A bem de país, tem de ser varrido de uma ponta à outra.

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  3. Rita, penso que de facto será essa a tática pretendida pelo PS. Mas seria/será também a mesma a tática seguida pela PAF se se mantiver no governo. Não vejo que seja "dar um cheque em branco", uma vez que não tendo a maioria absoluta no parlamento, as suas acções serão fiscalizadas pelos dois extremos.

    Na realidade não me parece uma perversão excepcional, uma vez que tem sido esse o "modus operandi" de ambos os partidos sempre que precisam do outro para aprovar qq coisa: usar a desculpa do "temos de fazer isto, não há alternativa".

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