Talvez desde os tempos do PREC, este seja o momento da nossa
história política em democracia que mais deve provocar indigestões nas hostes
do PCP. E não é de criancinhas (ou leitões) ao pequeno-almoço!
O partido parece estar entalado. E mesmo auto-entalado, o
que é pior numa organização que nos tem habituado a um inteligente posicionamento
nas estruturas sindicais e a uma congruência (que roça o mantra) ideológica
assinalável, tanto como o é a circunstância de ser, na Europa a 28, dos poucos
partidos marxistas-leninistas que se mantém como tal, não abdicando da foice e
do martelo por outros instrumentos pequeno-burgueses, como tem acontecido com
os seus sucedâneos do Velho Continente, após a Queda de 1989.
Vocacionado para partido de protesto – e desempenhando
enquanto tal um relevante papel social –, julgo que era mais ou menos pacífico –
ainda que na lógica do “centralismo democrático” (expressão a merecer um “think
tank” urgente) do Comité Central, que o PCP (ou a CDU, essa transmutação “sexy”
em tempo eleitoral, com um PEV aprisionado e que nada tem que ver com o que
sucede, p. ex., na Alemanha) – que o partido tinha a sua história traçada para
as próximas “cassetes”.
E eis que se vê na contingência de apoiar um governo
socialista (inimigos fidalgais desde os tempos Cunhal/Soares), torcendo-se todo
com o cumprimento do Tratado Orçamental, em geral, das exigências em matéria
financeira da União e, pasme-se, mesmo com a NATO. Para uma boa parte (quase
todo?) do PCP, a Cortina de Ferro continua a existir, a Coreia do Norte é uma
democracia e o que sucedeu a Luaty Beirão é um problema interno de Angola, não
devendo Portugal ser uma “placa giratória de ingerência na soberania” daquele
país.
Já meteram Jerónimo dentro de fato e gravata, mas a dizer
que nunca apoiará medidas que representem perdas líquidas de remuneração para
os trabalhadores. Pudera! Se o PCP abandona o seu reduto, arrisca-se a implodir
como sucedeu com a maioria dos PC da Europa. Se inviabiliza um acordo “patriótico
e de esquerda”, fica com o ónus do bandido. A camisa tem muitas varas, ou
talvez a T-shirt de Che, mais ao gosto do ideário comunista.
Arriscada jogada, camaradas! Tudo indica que tirar o tapete
a Costa é uma opção muito viável e, até certo ponto, poderia ser um ajuste de
contas com o passado. O PCP é conhecido por ser mental, frio e implacável quando
toca aos dogmas. Esse é o seu maior defeito e, paradoxalmente, o seu seguro de
sobrevivência. Jerónimo e os seus camaradas já devem estar arrependidos das
jogadas de bastidores antes do acto eleitoral do passado dia 4/10, ainda que
candidamente desmentidas pelo Secretário-Geral, que, diga-se em seu abono, tem
pouco jeito para “inverdades”, como soe dizer-se em “politiquês”.
Ou então, isto é tudo uma efabulação e ressoa a voz
inconfundível do “olhe que não… olhe que não…”.
Eu não entendi totalmente a sua bem cuidada teoria, porque me falta saber a que se refere em ["...jogadas de bastidores antes do acto eleitoral do passado dia 4/10, ainda que candidamente desmentidas pelo Secretário-Geral...(do PCP)]
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