8. Manoel de Azevedo Fortes, engenheiro-mor do reino quando ainda havia um lá para os séculos dezassete e dezoito,
viva a república, e sobre quem encontrámos uma frase latina que diz assim Hoec Azevedi viva est scribentis imago sua... e que para quem não sabe latim, como é o caso de quem agora escreve, deve querer dizer alguma coisa como isto, ora aqui está uma imagem de Azevedo, sendo evidente que aqui não temos como pôr imagem nenhuma, foi ao que parece famoso no seu tempo, e persiste sendo famoso em certos trechos académicos. Da sua infância sabemos nada, nós que aqui escrevemos, esclareça-se, no trecho académico onde sobrevive é certamente uma coisa sabida, onde nasceu, quem foram seus pais, que brinquedos favorecia, se os desmontava mostrando-se precocemente engenheiro, se voltava a montá-los, confirmando a prematura inclinação, se espantou curas e padrinhos com as suas invenções meninis, se com as mesmas causou nas tias gestos de benzeduras e exclamações de t'arrenegos, quem foram os seus mestres das primeiras letras, se algum cometa nos céus anunciou o seu sucesso ou fez temer o seu fracasso. Da juventude somos forçados a dizer o mesmo, que se há quem saiba dela o que quer que seja, esse quem não somos nós, mas os académicos que dele preservam a memória, se lhe foi cultivado o talento para os mecanismos, se teve amores para além destes, onde estudou e com quem, que planos fez para o seu tempo futuro, se foram mecânicos estes planos, roda dentada movendo roda dentada movendo alavanca movendo roldana movendo a pedra que aumenta a parede da fortificação, mais uma pedra na fortificação, e mais outra. Não podemos deixar de confessar a ignorância em que estamos quanto à sua carreira adulta, quanto aos seus progressos práticos e feitos teóricos, aos seus lugares de residência, aos seus mecenas, aos projectos que lhe foram confiados, se em algum momento desesperou ou se sempre se manteve confiante no seu chamamento, o que pensava da construção de pontes, se não o incomodava a peruca na confusão do estaleiro, se antes via no pó das obras uma oportunidade de empoá-la. Sabemos, isso sim, que morreu, mas não fazemos ideia de como. De acidente numa obra, de gota, de velhice, de tédio. Não temos informação de onde está enterrado. Mas que morreu não é a única coisa que sabemos. Porque sabemos que quem disse que acreditava na sorte, ou de outro modo não conseguiríamos explicar o sucesso daqueles de quem não gostamos, não foi Azevedo, foi outro.
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