segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Os NINJA da zona do euro

A crise financeira internacional, que começou em 2007 nos Estados Unidos, e a crise das dívidas soberanas da zona do euro têm na sua origem o excesso de endividamento.

Nos Estados Unidos um dos segmentos que mais cresceu foi o do crédito à habitação a famílias de baixos rendimentos, o chamado mercado subprime. Ficariam conhecidos os empréstimos NINJA: No Income, No Job and No Assets. Este milagre do crédito foi tornado possível graças à invenção da titularização – o seu criador Lewis Ranieri foi considerado, em 2004, pela revista Business Week como um dos maiores inovadores do século XX, ao lado de Bill Gates e de Steve Jobs. A titularização permitiu reduzir o risco e, assim, abrir as portas dos mercados financeiros a milhões de famílias.

No período anterior à crise financeira internacional deixou de se aplicar a definição de acordo com a qual um banco é alguém que está disponível para emprestar um guarda-chuva quando está sol, mas que o pede de volta quando começa a chover. Com o mercado subprime e os empréstimos NINJA os bancos passaram a emprestar dinheiro quer chovesse quer fizesse sol. Foi precisamente nos mercados subprime e nos empréstimos NINJA que a crise financeira internacional começou no verão de 2007.

Lembrei-me desta história quando estava, mais uma vez, a tentar perceber o que terá levado os mercados financeiros a cederem-nos crédito a jorro, mesmo depois de se terem tornado evidentes os bloqueios estruturais que conduziram à estagnação da nossa economia desde o início do século XXI. O rendimento de Portugal deixou de crescer, o desemprego não parou de aumentar e os activos da economia portuguesa desvalorizaram-se, mas continuaram a emprestar-nos dinheiro.

Conclusão, nós fomos os NINJA da zona do euro.

10 comentários:

  1. Os mercados acreditavam, provavelmente, que se alguma desse para o torto, a Europa nos poria sempre a mão por baixo. Acreditaram os mercados e acreditou muita gente.

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  2. Bem, mas pelo menos no que à dívida pública diz respeito, os mercados até estavam certos, não? Isto, a Europa efetivamente pôs-nos a mão por baixo e penso que nenhum credor do Estado português (ao contrário de, p.ex., na Grécia) ficou por receber.

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    1. É verdade, se calhar, nem foram assim tão irracionais, como parece à primeira vista

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  3. No caso dos empréstimos NINJA os culpados foram os bancos e seus gestores e administradores que se fartaram de ganhar dinheiro. Com os NINJA soberanos os culpados são os salários elevados as pensões elevadas e mania de viver acima das possibilidades.

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  4. O problema principal é tu teres muitas poupanças a nível mundial e não teres sítios bons onde as investir. Tens os fundos soberanos, os fundos de pensões, os hedgefunds, o chamado "dinheiro gerido", etc.: quem quer risco investe nos EUA; quer quer segurança investe em dívida soberana europeia, especialmente coisas garantidas pela Alemanha, como era o caso da dívida dos países periféricos da UE.

    Se fores à Holanda, por exemplo, também encontras empréstimos imobiliários malucos. Há pessoas e empresas que compraram casas em canais, como investimento, com empréstimos em que só pagam os juros; não amortizam o capital emprestado. Só se safam agora porque as taxas Euribor estão super-baixas; mas se as taxas subissem, terias muita gente em sarilhos na UE. Não tens margem de manobra para uma segunda crise mundial.

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  5. "Conclusão, nós fomos os NINJA da zona do euro."

    Mas é claro, sempre se soube isso. A crise das dívidas soberanas está para a Europa como o colapso dos "subprime" para os EUA.

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  6. Caro In fact,
    o que quer dizer com 'sempre se soube isso' - toda a gente ou só o In fact? e já agora, soube isso desde sempre? se não, desde quando soube?

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Exercício analógico muito interessante.
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    o que terá levado os mercados financeiros a cederem-nos crédito a jorro, mesmo depois de se terem tornado evidentes os bloqueios estruturais que conduziram à estagnação da nossa economia.
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    R: especulação à la Georges Soros, de modo a maximizar os ganhos de curto prazo, em vez de, vg. investir à la Waren Buffet.

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    os bancos passaram a emprestar dinheiro quer chovesse quer fizesse sol.
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    Dado que o imobiliário tinha preços com tendência crescente há mais de 30 anos seguidos acreditavam que sempre haveria uma garantia implícita, porque o "acreditar" valia comissões muito elevadas e certos créditos chegaram a ser transaccionados 50 vezes. Do lado dos economistas mais conhecidos poucos foram capazes de fazerem avisos sérios, com um mínimo de antecedência, e claramente perceptíveis.

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    No período anterior à crise financeira internacional deixou de se aplicar a definição de acordo com a qual um banco é alguém que está disponível para emprestar um guarda-chuva quando está sol.
    ...»
    R: foram extintos ou drasticamente reduzidos os departamentos que analisavam a concessão de crédito substituindo-os por algoritmos que passaram por ciências que não eram. Ora, nos EUA, e ao contrário da Europa, as práticas de concessão de crédito à produção já incluíam, e bem, um factor explícito de "confiança" no empresário ou no gestor. Só precisaram de inventar uma maneira de transformar 50% em 100%.

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    Nos Estados Unidos um dos segmentos que mais cresceu foi o do crédito à habitação a famílias de baixos rendimentos.
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    Ponderando que metades das “famílias de baixos rendimentos” terão comprado habitações e o seu peso no Rendimento Nacional chega-se a uma perda potencial que está muito longe de poder explicar a crise do "Subprime". Usando linguagem moderna, muito se mentiu "dizendo verdades".

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    A crise financeira internacional, que começou em 2007 nos Estados Unidos, e a crise das dívidas soberanas da zona do euro têm na sua origem o excesso de endividamento.
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    Em Portugal poucos de aperceberam que, a partir de determinada data, a Agitação e Propaganda sobre o endividamento público era uma maneira de evitar referir algumas anomalias do endividamento privado que bem poderiam ter sido a primeira prioridade e não foram.

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  9. Caro Isidro Dias,
    agradeço os comentários.
    Só algumas notas: em Portugal o sector da construção entrou em contracção no início do século XXI. Não houve aqui bolha nesta fase.
    De facto, o sistema bancário cometeu muitos erros, e está a pagá-los com os elevadíssimos números do incumprimentos.
    Tendo Portugal violado o PEC todos os anos desde 2001 (e foi o primeiro a violá-lo) e tendo nós tido de recorrer a um resgate porque ninguém nos emprestava dinheiro, não consigo perceber o argumento ainda muito usado da desvalorização do endividamento público.
    Por último, o endividamento privado foi em parte determinado pelo endividamento público (voltarei a este tema).

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