Desde 2001, a última vez que Portugal cresceu acima de 2% foi em 2007, com uma taxa de 2,49%. No ano a seguir, cresceu a 0,2%, e depois em 2009 a -2,98%. As políticas actuais de crescimento do governo não são muito diferentes das anteriores, apenas não se irá gastar tanto em obras públicas. Reduzir os impostos, repôr salários públicos, aumentar o salário mínimo, etc., são choques que têm maior impacto no primeiro ano; em anos subsequentes, não têm impacto quase nenhum, ou seja, não são políticas de crescimento sustentável. São políticas que se utilizam para estimular a economia quando há uma recessão que não tem causas estruturais. Note-se que, no caso de Portugal, o aumento do salário mínimo até pode ser uma política de empobrecimento a médio e longo prazos.
Em Portugal, os problemas do fraco crescimento são estruturais, mas nada é feito para remediar as causas. Gosta-se muito de aumentar e diminuir impostos e subsídios; no entanto, acho que os impostos são demasiado altos em Portugal. Quando se endivida o país para financiar despesa corrente, essa dívida reduz as possibilidades de consumo no futuro. É por isso que, a meu ver, só faz sentido para um estado endividar-se por duas razões: justiça inter-geracional (obras públicas cujo retorno beneficie mais do que uma geração) e expansão da capacidade produtiva da economia (investimento público que gere retorno positivo para a economia). Todas as outras despesas deveriam ser financiadas pela capacidade da economia gerar impostos para as pagar.
Depois há aquela ideia que Portugal pode crescer pelo consumo. Em 2014, a despesa com o consumo em Portugal, foi quase 85% do PIB, mas a despesa com importações é 39% do PIB, logo grande parte deste dinheiro gasto no consumo sai de Portugal. Crescer pelo consumo só faz sentido se o consumo for financiado por aumentos endógenos dos salários e as pessoas compram português--se vão passar férias ao estrangeiro, "ciao, crescimento pelo consumo". Nos EUA também há a moda do crescimento pelo consumo e depois acontecem coisas más. Se o consumo é financiado por poupanças (EUA e Portugal), riqueza acumulada em casas(EUA), crédito bancário (EUA e Portugal), redução de impostos (EUA e Portugal), salários da função pública financiados a dívida (Portugal), transferências da UE (Portugal), a economia cresce por uns tempos e depois entra em colapso porque não é sustentável.
O crescimento de uma economia vem de duas coisas: ou a economia tem mais pessoas a produzir, ou cada pessoa a produzir é mais produtiva, ou as duas coisas simultaneamente. Portugal tem uma população a diminuir e trabalhadores cada vez mais velhos, que provavelmente se traduzirá numa baixa da produtividade. E também tem outro problema: muitos que poderiam ser mais produtivos, na força de trabalho portuguesa, acabam por emigrar. Ou seja, Portugal não vai ter grande crescimento com as políticas do costume. E é um grande insulto que até hoje não tenhamos tido um Primeiro Ministro que admita os graves problemas que Portugal tem, explique às pessoas o que o país irá enfrentar, e decida realmente pensar em políticas inovadoras porque o problema que enfrentamos é diferente dos que tínhamos no passado.
Nada do que este governo fez e quer fazer gera crescimento sustentável a longo prazo. Optimiza-se o curto prazo e no longo prazo continuamos lixados. O Keynes dizia que no longo prazo estávamos todos mortos, mas reparem: ele está morto, nós ainda estamos vivos.
"É por isso que, a meu ver, só faz sentido para um estado endividar-se por duas razões: justiça inter-geracional (obras públicas cujo retorno beneficie mais do que uma geração) e expansão da capacidade produtiva da economia (investimento público que gere retorno positivo para a economia)."
ResponderEliminarhttp://expresso.sapo.pt/economia/2016-01-02-Recorde-na-refinacao-e-exportacao-de-combustiveis
http://www.portugaldigital.com.br/economia/ver/20099756-producao-de-energia-eolica-em-portugal-ultrapassa-o-consumo-nacional
http://tviplayer.iol.pt/programa/ajuste-de-contas/55fac70c0cf212cf2b43e214/episodio/t1e2
Volta Sócrates, até no DdD te perdoaram.
Não foi isso que eu disse, mas cada um lê o que quer...
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