Não sei se a maioria dos economistas tem noção da
importância dos estóicos (mais dos romanos do que dos gregos) no pensamento de
Adam Smith. Por exemplo, a visão de uma harmonia cósmica (estendida à sociedade)
ou a ideia de que a auto-preservação é a primeira tarefa que a natureza nos atribuiu
são influências notórias. Bem, mas não era disto que queria falar – acontece-me
sempre isto, começo com uma ideia e depois saem-me coisas que nem tinha pensado.
Voltemos aos estóicos. Acho muito interessante a sua ideia
de desprendimento. O célebre Séneca era acusado de incoerência. Tinha poder, influência,
vivia numa bela casa cheia de luxo. Ele, no entanto, explicava que o estoicismo
não defendia a pobreza. O ponto era outro. Se, por acaso, perdesse o poder, a
influência e a casa aceitaria tudo isso sem raiva, nem desespero. A vida
encarregou-se de pôr à prova a teoria do filósofo. Foi desterrado para uma ilha
durante anos, onde viveu muito modestamente, sem nunca se queixar. Voltou para
prelector de Nero. Este, um paranóico, mandou-o matar passado algum tempo.
Quando os centuriões chegaram, toda a família de Séneca entrou em desespero.
Uma vez mais, rezam as crónicas, Séneca, com uma grande dignidade, acalmou a
família e a seguir suicidou-se como mandava a praxe.
Acho tudo isto espantoso. Talvez por isso tenha achado tanta
piada a duas cenas que li há tempos a glosar os estóicos. Numa, Montaigne diz
que todo o seu estoicismo se esvai com uma simples dor de dentes - como eu o compreendo. Noutra, num
conto de Tchekhov, um médico, intelectual, exalta as ideias dos estóicos, argumentando que até vivendo numa gruta se pode ser feliz ou algo do género. Um
homem simples, mas dotado de bom senso, diz-lhe: pois, isso pode ser tudo muito
bonito na Grécia, mas o estoicismo não funciona aqui, na Rússia, com 20 graus negativos.
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