Fontes Pereira de Melo deve ser o único político do
século XIX de quem os portugueses ainda têm uma vaga ideia. O resto é uma longa
galeria de heróis e vilões votados ao esquecimento. Nem o espalhamento dos seus
nomes por praças, ruas, avenidas, pontes, edifícios (Mouzinho da Silveira, Saldanha, Passos Manuel,
Hintze Ribeiro, Rodrigo da Fonseca Magalhães, Costa Cabral, etc.) os salvou do
olvido. Não sei bem que significado atribuir a este facto.
Para
os gregos da Antiguidade, ser político significava alcançar a mais elevada possibilidade
da existência humana. Só a exposição da vida pública permitia absorver e fazer
brilhar através dos tempos qualquer coisa que os homens queriam salvar da ruína natural do
tempo - privado tem origem na aceção de “privação: estar privado de ser visto
e ouvido por todos.
A partir de determinada altura as coisas começaram
a mudar. A pretensão dos cristãos de seres livres de envolvimento em assuntos
mundanos, livres de todas as coisas terrenas, foi precedida pela apolitia
filosófica da última fase da Antiguidade, e nela teve origem.
A partir daí, a necessidade de
admiração pública passou a ser vista como vanglória, como lhe chamou Hobbes.
O tempo enterra tudo. Daqui a 100 anos, quantos dos
nossos heróis da III República serão ainda recordados pelo povo? Para já, penso
que Soares e Cavaco são os únicos candidatos sérios a ocupar um lugar semelhante
ao de Fontes Pereira de Melo - que nessa altura, provavelmente, já ninguém
saberá quem foi.
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