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sexta-feira, 4 de março de 2016
Criaturas metafísicas 7
Inflado como um balão, aquilo que o ser era, ou o que algo é, ou ainda aquilo por que uma coisa tem o ser algo, habita gatos, almofadas, despertadores, chávenas de café, cataratas e vulcões, bicicletas e australopitecos. Qualificados, os indivíduos existem mas não são, porque ser é ser algo que possa ser por si próprio, separável, independente. Uma casa verde é um acidente, um pato coxo também. O facto de já não existiram australopitecos não significa que o australopiteco já não seja, e o pepino rançoso no frigorífico, existindo rançoso, não deixa de ser pepino. Tudo o que é, é, mas apenas pode ser que exista. Como o livro que deixamos a meio, ou o telefone de que não pagamos a conta. Por falar em telefones, que é mais agradável considerar o ser e a existência de telefones do que de contas, eles são coisas que não existiam no tempo em que Aristóteles tentava explicar-nos que o ser se diz de várias maneiras. Os telefones, por mais que agora existam, não são o telefone, cuja ousia o Mestre Daqueles Que Sabem não pôde conjecturar. Já as contas, existem desde sempre, desde que, sem penas e bípedes, os australopitecos existiram com as suas mãos livres para transportarem frutos e pedirem satisfações.
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