Oskar Schindler tornou-se célebre graças a um filme de
Steven Spielberg de 1993. Schindler é um membro influente do partido nazi. Ao
mesmo tempo, é apresentado com as cores de um homem que, por humanidade, salva
da morte, durante a guerra, perto de duas mil pessoas que estavam condenadas
por serem judias. Há uma cena interessante com o SS Amon Goeth, um psicopata (a
guerra é o paraíso para esta gente) que mata arbitrariamente prisioneiros, com
uma espingarda com mira do alto da varanda da sua vivenda.
Schindler aproveita um momento em que o psicopata está
bêbado para o tentar convencer a deixar de matar arbitrariamente os deportados. Obviamente, não podia usar argumentos humanistas para o efeito. Estes não teriam qualquer
hipótese de convencer este SS brutal (por sinal, a melhor interpretação de
Ralph Fiennes até ao momento). Além disso, poriam em perigo Schindler que
revelaria a sua verdadeira natureza.
Schindler utiliza outra táctica. Recorre a argumentos
compreensíveis e acessíveis para o SS. O que é o verdadeiro poder? Essa linguagem
o SS entende.
O verdadeiro poder não é matar. Matar um homem que cometeu
um crime não é poder, é justiça. O verdadeiro poder é termos todas as razões
para matar e, mesmo assim, não o fazermos. Schindler invoca um imperador. Um
homem é levado à presença do imperador, deita-se aos seus pés e implora
piedade. Tem a certeza que vai morrer. E o imperador perdoa-lhe. Goeth diz que
Schindler está bêbado. Schindler deixa de se inclinar para Goeth, abre os
braços e diz “É o poder, Amon, isto é o poder.”
Schindler usou um estratagema.
Justificou aquilo que ele próprio reprovava: a brutalidade assassina dos SS, a
que chama “justiça”, e o poder absoluto do chefe do campo. Como é evidente, Schindler não desejava reforçar ou legitimar o valor do poder total. E, no
entanto, por este preço, o preço da mentira e da dissimulação, obteve um
resultado: salvou mais algumas vidas. Deve ser por estas e por outras que nunca
nenhuma religião se atreveu até hoje a considerar a mentira um pecado mortal.
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