Os presságios negros continuam a fazer fila à nossa porta, são de várias espécies e geografias, muitos estão nas fronteiras europeias ou mesmo dentro das cidades europeias, mas continuo a pensar que o pior presságio está no fechamento da mente americana. Sem uma América vital não há Ocidente, sem Ocidente não há ordem internacional.A crescente erosão da sociedade americana torna qualquer outro problema num pormenor, porque Washington é de facto a nossa Roma. E, se não se importam, não quero assistir à queda do império ocidental, não quero viver a desordem apocalíptica que acompanha o fim de uma Era.
Fonte: Henrique Raposo no Expresso
O Henrique Raposo acha que os EUA são Roma e estão em declínio, o que, a ser verdade, é um processo involuntário. Diz o Henrique que está a acontecer um "fechamento americano", o que, a ser verdade, é um processo voluntário. Não entendi, afinal os EUA são vítimas ou culpados?
Fala-se de a sociedade americana estar enfraquecida por ainda haver discriminação, pobreza, etc. Isso sempre houve nos EUA. Agora há muito menos do que havia antes; mas ainda há, logo ainda há pessoas que lutam para mudar o sistema porque a mentalidade americana é de que o país ainda está a ser construído -- está sempre a ser construído, nunca será um processo terminado porque haverá sempre em que melhorar. A única novidade hoje em dia é que os problemas dos americanos são mais visíveis para o resto do mundo, mas não são problemas novos.
Todos os anos, os americanos fazem previsões de longo prazo para ver se o país segue um rumo sustentável. É normal ouvir nos meios de comunicação as pessoas a falar da Segurança Social só ser viável a 100% até meados da década de 2030. Depois disso, é viável a 75% dos benefícios, ou seja, temos 20 anos para encontrar uma maneira de manter o sistema viável depois disso. As pessoas são aconselhadas a poupar e a gerir a sua vida a longo prazo, a pensar na sua reforma, na qualidade de vida que querem ter, a serem conscientes da maneira como gastam o dinheiro.
Ainda esta semana, no elevador do prédio onde eu trabalho, o écran de informação dizia que por cada $1 contraído em empréstimos à educação, o nível de vida da reforma diminuiria em 17 cêntimos, ou seja, quem contrai empréstimos para pagar o curso tem de pensar no retorno do curso -- isso é óbvio, mas quando se é jovem, o normal é não pensar na reforma, nem no retorno do curso. Mesmo assim, há pessoas que não seguem estes conselhos. Nos EUA ninguém é obrigado a ser responsável. Se as pessoas querem ser negligentes, estão no seu direito, mas não contem com o estado para repôr aquilo a que elas acham que têm direito. Falhar nos EUA não é uma fatalidade, há sempre oportunidade para se recomeçar.
A área mais fraca dos EUA são os cuidados de saúde e há muita gente que faz muito dinheiro à custa das ineficiências do sistema. Se se acabasse com o sistema actual de um dia para o outro, haveria uma grande recessão e o resto do mundo também sofreria. Por exemplo, os americanos pagam duas a três vezes o preço dos medicamentos que pagam outros países no mundo. São os altos preços pagos pelos americanos que permitem aos governo europeus negociar preços mais baixos com as empresas farmacêuticas porque o lucro dessas empresas vem principalmente dos EUA. Imaginem que, de um momento para o outro, este sistema terminaria. Os outros países teriam de pagar preços muito mais altos por medicamentos o que pioraria ainda mais a dívida pública dos países europeus e afectaria a qualidade de vida das pessoas em todo o mundo.
A passagem do Affordable Care Act vai permitir aos EUA transformarem o sistema de saúde de forma lenta num sistema de melhor qualidade, mais abrangente, e com menor custo porque exige que as terapias seguidas tenham taxas mínimas de sucesso e que todos tenham seguro de saúde. Isto irá permitir a que a indústria de seguros médicos, os hospitais, as farmacêuticas, etc., iniciem um processo de ajustamento que melhorará a sustentabilidade, mas que não causará rupturas tão extremas.
Os EUA estão sempre a mudar; haverá erros, mas esse é o preço da mudança.
https://www.washingtonpost.com/opinions/obamacare-disaster-will-be-obamas-enduring-domestic-legacy/2016/04/25/a8c09b38-0ae4-11e6-8ab8-9ad050f76d7d_story.html
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