domingo, 24 de abril de 2016

"Fechamento" dos EUA

Os presságios negros continuam a fazer fila à nossa porta, são de várias espécies e geografias, muitos estão nas fronteiras europeias ou mesmo dentro das cidades europeias, mas continuo a pensar que o pior presságio está no fechamento da mente americana. Sem uma América vital não há Ocidente, sem Ocidente não há ordem internacional.

A crescente erosão da sociedade americana torna qualquer outro problema num pormenor, porque Washington é de facto a nossa Roma. E, se não se importam, não quero assistir à queda do império ocidental, não quero viver a desordem apocalíptica que acompanha o fim de uma Era.

Fonte: Henrique Raposo no Expresso

O Henrique Raposo acha que os EUA são Roma e estão em declínio, o que, a ser verdade, é um processo involuntário. Diz o Henrique que está a acontecer um "fechamento americano", o que, a ser verdade, é um processo voluntário. Não entendi, afinal os EUA são vítimas ou culpados?

Fala-se de a sociedade americana estar enfraquecida por ainda haver discriminação, pobreza, etc. Isso sempre houve nos EUA. Agora há muito menos do que havia antes; mas ainda há, logo ainda há pessoas que lutam para mudar o sistema porque a mentalidade americana é de que o país ainda está a ser construído -- está sempre a ser construído, nunca será um processo terminado porque haverá sempre em que melhorar. A única novidade hoje em dia é que os problemas dos americanos são mais visíveis para o resto do mundo, mas não são problemas novos.

Todos os anos, os americanos fazem previsões de longo prazo para ver se o país segue um rumo sustentável. É normal ouvir nos meios de comunicação as pessoas a falar da Segurança Social só ser viável a 100% até meados da década de 2030. Depois disso, é viável a 75% dos benefícios, ou seja, temos 20 anos para encontrar uma maneira de manter o sistema viável depois disso. As pessoas são aconselhadas a poupar e a gerir a sua vida a longo prazo, a pensar na sua reforma, na qualidade de vida que querem ter, a serem conscientes da maneira como gastam o dinheiro.

Ainda esta semana, no elevador do prédio onde eu trabalho, o écran de informação dizia que por cada $1 contraído em empréstimos à educação, o nível de vida da reforma diminuiria em 17 cêntimos, ou seja, quem contrai empréstimos para pagar o curso tem de pensar no retorno do curso -- isso é óbvio, mas quando se é jovem, o normal é não pensar na reforma, nem no retorno do curso. Mesmo assim, há pessoas que não seguem estes conselhos. Nos EUA ninguém é obrigado a ser responsável. Se as pessoas querem ser negligentes, estão no seu direito, mas não contem com o estado para repôr aquilo a que elas acham que têm direito. Falhar nos EUA não é uma fatalidade, há sempre oportunidade para se recomeçar.

A área mais fraca dos EUA são os cuidados de saúde e há muita gente que faz muito dinheiro à custa das ineficiências do sistema. Se se acabasse com o sistema actual de um dia para o outro, haveria uma grande recessão e o resto do mundo também sofreria. Por exemplo, os americanos pagam duas a três vezes o preço dos medicamentos que pagam outros países no mundo. São os altos preços pagos pelos americanos que permitem aos governo europeus negociar preços mais baixos com as empresas farmacêuticas porque o lucro dessas empresas vem principalmente dos EUA. Imaginem que, de um momento para o outro, este sistema terminaria. Os outros países teriam de pagar preços muito mais altos por medicamentos o que pioraria ainda mais a dívida pública dos países europeus e afectaria a qualidade de vida das pessoas em todo o mundo.

A passagem do Affordable Care Act vai permitir aos EUA transformarem o sistema de saúde de forma lenta num sistema de melhor qualidade, mais abrangente, e com menor custo porque exige que as terapias seguidas tenham taxas mínimas de sucesso e que todos tenham seguro de saúde. Isto irá permitir a que a indústria de seguros médicos, os hospitais, as farmacêuticas, etc., iniciem um processo de ajustamento que melhorará a sustentabilidade, mas que não causará rupturas tão extremas.

Os EUA estão sempre a mudar; haverá erros, mas esse é o preço da mudança.

1 comentário:

  1. https://www.washingtonpost.com/opinions/obamacare-disaster-will-be-obamas-enduring-domestic-legacy/2016/04/25/a8c09b38-0ae4-11e6-8ab8-9ad050f76d7d_story.html

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