28. Valodu não parara de tremer desde aquele dia.
Assim
que chegara à aldeia tinha procurado alguém que o levasse ao castelo, ou alguém
que lhe alugasse um cavalo ou uma mula. Mas quando dizia que precisava do
cavalo, ou da mula, para subir a colina, respondiam-lhe que não tinham o que
lhe alugar. Que os cavalos estavam cansados e as mulas ocupadas. Que as selas
estavam estragadas. Alguns nem diziam nada, voltavam-lhe as costas. Outros, de
cara repentinamente sombria, mudavam de assunto. Depois de uma manhã a procurar
em vão um transporte, Valodu decidiu partir a pé. Guardou nos bolsos do casaco
largo um pão, um pedaço de queijo e uma garrafa de vinho, e pôs-se a caminho na
direcção da colina. Reparou que, à medida que se aproximava da elevação, o
caminho ia desaparecendo. Cada vez eram mais altas e mais cerradas as ervas e
plantas daninhas, as urtigas e trepadeiras cheias de picos, as folhagens que
pareciam venenosas. E cada vez o silêncio era maior, o restolhar das lebres e
das raposas, os chilreios dos pássaros, os zumbidos dos insectos deixaram de se
ouvir. A certa altura já não havia caminho, e às ervas tinham-se sucedido
árvores altas e densas que pouco deixavam passar a luz do sol. O silêncio e a
escuridão aumentavam com cada passo de Valodu, que começava a ficar
desorientado e receava não ser capaz nem de chegar ao castelo nem de regressar
à aldeia. "E se estou a andar em círculos, e se estou sempre a voltar ao
mesmo lugar", perguntava-se. A certa altura, as únicas coisas que ouvia
eram os seus próprios passos avançando por entre folhas e ramos, e os
batimentos do seu coração. Andou assim durante muito tempo, pareceram-lhe
horas. Quando encontrou uma pequena clareira onde a floresta era um pouco menos
inquietante, sentou-se para descansar. Comeu, bebeu, encostado ao tronco de uma
árvore, e em breve o conforto do estômago e do álcool fizeram com que
adormecesse. Acordou de repente com um assobio insistente nas suas costas. A
princípio não conseguiu perceber de onde vinha, mas finalmente localizou-o e
dirigiu-se a um arbusto. Pôs-se a revolver as folhas, à procura de quem
assobiava, mas agora o assobio parecia-lhe vir de um sítio diferente, de outro
arbusto mais à direita. Vários minutos passaram com Valodu a correr de arbusto
em arbusto, e o assobio sempre a mudar de lugar, até que, com um salto,
conseguiu agarrar algo mais do que folhas e caracóis.
"Iiiiiiiiiiii!!!!!". O assobio transformou-se num guincho e Valodu sentiu debaixo de si um
espernear, ou esbracejar, aflito, acompanhado de pequenos murros, pontapés e arranhões.
"Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!" Os guinchos não paravam, por isso
Valodu decidiu dar algum espaço à criatura, até porque queria ver do que ou de
quem se tratava. Mal se sentiu livre, a coisa tentou fugir, mas Valodu
agarrou-a pelos colarinhos. "Bom, se tem colarinho, tem camisa. E se tem
camisa, é uma pessoa", raciocinou Valodu. "Pára!" "Não te
vou fazer mal nenhum." O homúnculo, pois era um homem em miniatura que
Valodu tinha capturado, continuava a dar pontapés no ar mas já não guinchava.
"Larga, larga, larga!" "Largo-te se prometeres que não
foges." "Larga, prometo, larga!" Valodu pousou-o, desconfiado, e
a primeira coisa que o homenzinho fez assim que se viu no chão foi correr. Ou
melhor, tentar, porque Valodu ainda o tinha agarrado, desta vez pela falda da
camisa, e o homenzinho estatelou-se ao comprido com um grande baque. "Nem
penses, seu espertalhão." Valodu despiu o casaco e usou-o para amarrar o
anão a uma árvore. "Agora vais-me dizer por que é que andavas a espiar-me.
E a assobiar."
A parte dos assobios vindos de trás dos arbustos e as corridas de Valodu, um para outro, lembrou-me a anedota velhinha do pastor alentejano que consultou o médico da aldeia por via de um problema que o afligia. Sentado em frente ao clínico, o pastor desabafou: -saiba vossa excelência que desde ha um tempo a esta parte, sucede que perdi a vontade de ter sexo co a minha Maria e só me chega a vontade quando ando a pastorear. Nessa altura, subo o monte a correr mas quando chego ao pé da minha Maria de tão cançado que vou, já se me passou a vontade. O que é que o senhor dotor me aconselha?
ResponderEliminar- Olhe lá ti Manel, você não tem uma caçadeira lá em casa?
- Ê tanho sim senhor, senhor dotor.
- Então você vai fazer o seguinte: combina com a sua Maria e quando sair com o gado, leva a caçadeira carregada. Na altura em que sentir a vontade a chegar, corre para trás de uma moita e faz um disparo para o ar. A sua Maria já sabe e assim que ouvir o tiro desce o monte e vem ter consigo. Vai ver que não falha e de hoje a 15 dias volte cá para me dizer qual foi o resultado!
Passados os 15 dias o ti Manel lá volta à consulta. Assim que o vê, o médico repara que o pobre pastor está com um ar mais triste que na primeira consulta e pergunta-lhe: - entãi ti Manel, o conselho deu resultado, ou não?
-Nã senhor, senhor doutor.
-Mas então você não seguiu as indicações que lhe dei?
- Pois segui sim senhor, senhor doutor.
- Então se seguiu, porque é que não deu resultado?!
- Ora senhor doutor, porque naquela semana abriu a época da caça e a partir desse dia a minha Maria não faz outra coisa que andar a correr de moita para moita...
A mim fez-me lembrar as "viagens de Gulliver" e os liliputianos!
ResponderEliminarFaz muito mais sentido que um liliputiano tenha feito uma expedição no Índico e entrando pelo Cáspio, mais uns pózinhos para Norte e acabasse por atingir a Rússia, que um alentejano. Até porque é bem conhecida a indolência dos nossos cumpadres em contrposição à hiperatividade dos minorcas de Liliput.
ResponderEliminarFaz muito mais sentido que um liliputiano tenha feito uma expedição no Índico e entrando pelo Cáspio, mais uns pózinhos para Norte e acabasse por atingir a Rússia, que um alentejano. Até porque é bem conhecida a indolência dos nossos cumpadres em contrposição à hiperatividade dos minorcas de Liliput.
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