Ultimamente ando obcecado pelo Joe Rogan. O Joe Rogan é o comentador/entrevistador oficial da UFC (Ultimate Fighting Championship, "Vale tudo" em português). O Joe também faz stand-up, é obcecado por bilhar, caça (com arco e flecha), dietas e um milhão de outras coisas. E o Joe Rogan tem um podcast que é uma coisa do outro mundo (em parte porque de vez em quando fuma umas cenas engraçadas antes do podcast começar). Mas o PowerfulJRE não é um podcast como os outros. Em primeiro lugar, porque nunca dura menos de duas horas. E depois porque em 90% dos casos as duas horas parecem curtas. O que torna o podcast tão interessante é não só a habilidade do apresentador de discutir todo e qualquer tema (seja ele as semelhanças entre o Bernie Sanders e o Donald Trump, a incapacidade de levar a sério homens vítimas de assédio sexual ou o quão ridículo é algumas pessoas usarem cachecóis e t-shirts ao mesmo tempo), mas principalmente a sua capacidade de manter a mente aberta a qualquer ideia, sugestão ou contra argumento.
Há umas semanas Joe Rogan queixava-se da inabilidade das pessoas hoje em dia terem opiniões moderadas. Hoje em dia, segundo ele, e numa opinião que eu subscrevo na íntegra, nada é bom, jeitoso ou aceitável. Hoje em dia, tudo é terrível ou incrível. Hoje em dia ou se acha o António Costa o novo S. Sebastião, ou o Estaline português. Ou se gosta de carne como se fosse uma religião, ou se acha que comer carne é um crime digno da pena capital.
E em nenhuma outra esfera das nossas vidas esta tendência para o extremismo de opiniões se faz sentir tanto como na Internet (até mais que na política portuguesa José Carlos!). Há dias a ler uns posts da Rita reparei que a maioria dos comentários se enquadram numa das seguintes categorias:
- Ca burra, não percebes nada disto sua comuna/fascista!
- Muito bem Rita, toda a gente devia ser obrigada a ler tudo o que você escreve!
(Note-se que a predominância da primeira alternativa se deve a uma selection bias, já que pessoas que retiram prazer em implicar/discordar /insultar outras pessoas têm uma maior disposição para comentar online.)
Ora por muito que eu goste da Rita e do que ela escreve, a verdade é que ela, como todas as outras pessoas, na maioria das vezes tem alguma razão. Sendo uma pessoa com um nível de inteligência a cima de qualquer suspeita raramente está completamente enganada mas, não sendo o Cavaco Silva, raramente está 100% certa também.
Mas se lerem os comentários ao que a Rita escreve (ou qualquer outra pessoa, a Rita é só uma ilustração particularmente útil por ter opiniões fortes e bem fundamentadas, o que chateia muita gente), ficarão convencidas que a Rita ou é uma besta, ou a messias. (Qual é o feminino de messias?)
Mas a verdade, como a virtude, fica algures no meio. E isto, numa altura em que as pessoas estão cada vez mais predispostas a tomar lugar num dos extremos da escala de concordância, sem se darem ao trabalho de pensar pela sua própria cabeça (a la Joe Rogan), é muito difícil de engolir. Principalmente quando se trata de pessoas como a Rita ou o LA-C: pessoas cujas opiniões não se enquadram num paradigma político ou cultural em particular. Que às vezes concordam com a direita e outras com a esquerda. Que umas vezes fazem posts que deviam fazer parte do programa nacional de leitura e outras escrevem sobre coisas que não interessam nem ao menino Jesus.
Pessoas que regularmente me obrigam a puxar pela humildade de admitir que nunca pensei, li ou me informei suficientemente sobre o assunto em questão para ter uma opinião sobre o mesmo, seja ela contra ou a favor.
É a esta capacidade de admitir que, muitas vezes, temos de que aprender muito mais até termos a capacidade de formar uma opinião digna desse título que este elogio fúnebre se dedica. Este post é escrito em memória da falecida expressão: "Não sei".
E agora que esta cerimónia fúnebre chega ao fim, chega de novo a hora de escolhermos um lado da barricada. Porque por muito que não façamos a mínima ideia do que estamos falar, o importante é ter uma opinião. Porque nas trincheiras a fundamentação vale menos que uma flor em forma de canhão.
Muito bem!
ResponderEliminarE duques!
ResponderEliminarObrigada! :-)
ResponderEliminarTive sorte em descobrir este blog e são pessoas como a Rita que me fazem vir aqui, porque tem a capacidade de nos fazer pensar de forma diferente desde que sejamos humildes para aceitar isso.
ResponderEliminarMiúda do Texas com inteligência acima da média que ainda vai dar que falar. É só dirigir balística para o local certo e vamos ter consultora do Governo para breve
ResponderEliminarDentre as inanidades que li sobre esta matéria escolhi uma que usei para dar nome à pasta em que fui guardando recortes: "ESTANQUICIDADE intelecto-emocional" - estava escrito contra a Rita e não me lembro se o inane lhe imputava estanquicidade a mais ou a menos. Que diferença poderia fazer num contexto em que alguns quase só praticaram psicologia barata, filosofia barata e sociologia barata?
ResponderEliminarPS
Enviarei, em breve, para uma caixa de correio da Rita uma retrospectiva que foi publicada e muito pouco disseminada, para que possa ver, por si mesma, uma parte muito má da sua cidade-natal, e deste país. Sobretudo com o objectivo de informá-la que, ao contrário do que parece supôr, neste DdD, ela não está só, nem lá perto.