segunda-feira, 23 de maio de 2016

Escolas "caras" em Houston II

No primeiro post sobre este tópico falei-vos das escolas localizadas numa das zonas da cidade mais pobre da cidade. Hoje gostaria de vos falar da escola mais cara de Houston, a St. John's School, que é uma escola privada, com fins não-lucrativos, localizada no centro da cidade. Esta escola é também reconhecida a nível nacional, e não apenas em Houston, pelos seus altos critérios de excelência.

Se consultarem a página web da escola, saberão que o processo de selecção de novos alunos inclui, entre outros, critérios relacionados com notas, actividades extra-curriculares, cartas de referência, especialmente o serviço comunitário do aluno, entrevista, hereditariedade, maturidade da criança. A descrição do processo é a seguinte:

Various assessments, such as testing, observations, academic records, interviews, and recommendations from teachers, are used to provide information in the evaluation of admission candidates. In addition to academic readiness, social and behavioral maturity, motivation, and special talents in the arts and/or athletics are also considered. The composition of a given grade and the School as a whole influences the decisions of individual student selection throughout the entire admission process. Other criteria considered:
  • Affiliation with the School -- consideration for available space is given to qualified children of alumni, siblings of current students or graduates, and children of current faculty and staff who fit within the range of students best served by St. John’s
  • Gender and diversity in race, ethnicity, religion, and socio-economic background
  • Good character and leadership potential
  • Exceptional talents in the arts/and athletics
  • Appropriateness of match between family and the School - including a parental commitment to establish a supportive and constructive partnership with the St. John’s community

Fonte: St. John’s School Admission Philosophy and Policy

Se a vossa impressão é que estas crianças têm de ter um CV para entrarem, então estão correctos. Não há qualquer consideração pela situação financeira do aluno no processo de selecção, mas o objectivo da busca é seleccionar alunos que, quando crescerem, serão líderes do mais alto calibre, pois é esperado que estas crianças entrem nas melhores universidades do país. Todos os alunos devem desenvolver laços com a comunidade através de programas de voluntariado e de serviço à comunidade.

St. John's tem 193 professores e 1325 alunos e um orçamento de $39,5 milhões anuais, logo cerca de $29.874/aluno/ano. O Fundo de apoio (endowment) à escola tinha quase $70 milhões em Junho de 2015; em 2014-2015, o fundo anual tinha $4 milhões. Apenas 14,5% dos alunos recebem assistência financeira (mais factos se seguirem o link).

As propinas em St. John's School são caras, mas o aluno pode receber assistência financeira ou a escola pode facilitar um plano de pagamento a prestações. As propinas variam: $22.975/ano, da pré-primária ao quinto ano; $26.000/ano do sexto ao oitavo; e $27.545/ano do nono ao décimo segundo ano. (Como curiosidade, qualquer destes valores excede o que eu paguei por ano para obter o meu mestrado e doutoramento numa universidade pública americana.)

Para além das propinas, também é necessário pagar uma taxa de entrada (new student fee) entre $1.000 e $2.000, dependendo do nível. O aluno também tem de pagar taxas de actividade (activity fees), livros, visitas de estudo, actividades desportivas (depende da participação), actividades artísticas (depende da participação), testes de diagnóstico (Advanced Placement Testing Fee), e aulas privadas de música se desejarem.

As famílias também são encorajadas a fazer donativos ou voluntariado e a ter uma cultura de filantropia, o que também ajuda no planeamento de impostos ao fim do ano e do testamento (nos EUA, é normal quem morre fazer doações a universidades, departamentos dentro de universidades, hospitais, escolas, igrejas, etc.). A escola tem uma campanha de angariação de fundos "Opportunity of a Lifetime".

Há escolas privadas que, para além do tipo de programas da St. John's, têm outras formas para angariar fundos. Por exemplo, a Annunciation Orthodox School, uma escola da igreja grega ortodoxa, tem programas de compras com mercearias e lojas como a Amazon e a Target, há também uma gala anual, venda de material de apoio ao espírito da escola (sacos, toalhas de praia, ornamento de Natal, t-shirts, e sinais decorativos para colocar no jardim).

15 comentários:

  1. Ora, mas isso que faz tão luzidia escola de Houston não é mais do que o fazem aqui os colégios com contrato de associação. Uma seleção natural. A nossa originalidade é que cá essas escolas são pagas pelo Estado. Inventámos um direito fundamental e ao mesmo tempo uma corrente de liberalismo que não há em mais lugar nenhum.
    A regra, já agora, é que as crianças que entrem com tão bom CV sejam de classe média ou média alta e a excepção serão as pobres. Um gestor de uma tal escola terá também, por regra, melhores resultados. Estragar seria uma azelhice tremenda, que não está ao alcance de qualquer um.
    Dificil mesmo é elevar a Revere High School, no Massachusetts, de low performance school a melhor escola pública urbana, em dois anos, trabalho feito por um diretor cabo verdiano, com uma população escolar com grande percentagem de crianças negras e imigrantes. É ir ver.

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    1. Pelo menos de acordo com o que tenho lido, os colégios com contrato de associação não escolhem alunos, pelo menos para as turmas subsidiadas (embora o tal caso dos alunos que são de outros concelhos possa levantar suspeitas)

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    2. Pois eu sei que sim. Para além do que sei, pergunto, por exemplo, como conseguem os melhores colégios privados (aqueles que os pais, naturalmente, fazem tanta questão que os seus filhos frequentem) terem tão bons resultados no ranking com crianças com dificuldades várias, de aprendizagem ou de comportamento; pelo menos com a mesma percentagem que têm as escolas públicas. Mas esqueça o que eu digo: a melhor forma que tem o Miguel de saber é inscrever um seu filho num colégio com contrato de associação. Se não tiver, eu empresto-lhe o meu ;). Note que, como em tudo na vida, há a regra e há as excepções.

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    3. Eu frequentei uma escola com contrato de associacao. Ha 30 anos. Todos os que quiseram da minha turma do 4o ano (escola publica) entraram para essa escola. 30% dos actuais alunos da escola recebem apoio escolar. Sera essa escola a regra ou a excepcao? Alguem sabe? Porque se esta a meter tudo no mesmo saco se nao é uma decisao ideologica?

      Eu pessoalmente estou dividido neste caso. Apoio a minha escola, porque a conheco, mas nao ponho as maos no fogo por outras. Uma coisa tenho a certeza. É uma decisao apressada, sem numeros concretos a poucos meses do fim do ano escolar. É uma decisao burra para juntar a outras ainda mais burras de um Ministro tao inteligente como incapaz.

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    4. O Miguel Madeira tem razão. Os colégios com contrato de associação (ou melhor, as turmas com contrato de associação em colégios privados) são seleccionadas da mesma forma que na escola pública. Não há diferença de critérios.

      O que a Rita aqui coloca é o exemplo de uma escola completamente privada, como, aliás, há muitas cá (relembro que as escolas privadas com contrato de associação são uma minoria das escolas privadas). Convém não meter tudo no mesmo saco porque são, de facto, coisas distintas.

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    5. "Para além do que sei, pergunto, por exemplo, como conseguem os melhores colégios privados (aqueles que os pais, naturalmente, fazem tanta questão que os seus filhos frequentem) terem tão bons resultados no ranking "

      Mas as escolas com contrato de associação têm bons resultados no ranking? Pelo menos há uns anos nos Ladrões de Bicicletas fizeram um estudo e conclui-se que não - creio que nas escolas da companhia de Jesus, as que eram pagas estavam no topo dos rankings, mas as associadas estavam no mesmo sitio que as estatais vizinhas

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    6. Afinal foi o (defunto) Zero de Conduta:

      http://zerodeconduta.blogs.sapo.pt/543411.html

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    7. Pois, Miguel, não sei. Eu apenas conheço Coimbra, mas a minha cidade deve ser um caso muito anómalo. Rainha Santa Isabel em 2º e São Teotónio em 3º. No ranking 2015 Público/U. Católica. Nada mau.

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    8. Respondendo mais diretamente ao Daniel, só agora me dei conta que não expliquei que estava a falar das escolas privadas que vão deixar de ter contrato de associação. Não falo daquelas que estão em zonas onde não há escolas do Estado, em relação às quais o problema não se coloca, porque aceitam de facto todos os alunos. Em zonas pobres, essas escolas podem obviamente ter uma grande percentagem de crianças com apoio escolar ou com necessidades educativas especiais. Esses não têm alternativa do Estado. Aliás, a lei serve para isso mesmo.

      Já agora, Daniel, não é o seu caso, mas ideológico é assustar as crianças e os pais, como parece que interessa a muitos. Sabe qual é a percentagem de escolas que vão deixar de ter contrato de associação, em relação a todo o universo de privados com contrato de associação? E sabe que vai continuar a haver os chamados “contratos simples”, em função dos rendimentos das famílias? E será que é um trauma tão grande para as crianças terem de mudar de escola no fim de um ciclo escolar? Eu fiz isso, três vezes, o meu filho também, e nenhum de nós ficou traumatizado.

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    9. Do total de 86 escolas 39 escolas que vao deixar de poder novas turmas e 19 abrir com limitacoes. 21 escolas para ja (note-se o para ja) nao sao afectadas. Penso que o impacto é claro e relevante. A base da decisao do Ministerio: Estudo de distancias entre as escolas com contrato e escolas publicas e contas de merceeiro relativamente aos custos de absorver as criancas na escola publica. Nao me parece seria a forma como esta a ser gestionado tudo isto.

      Note-se que o governo tem toda a legitimidade para tomar a opcao politica de terminar com os contratos de associacao. Nao percebo é porque tem que a fazer à pressa, destruindo valor e postos de trabalho, criando divisoes e incerteza.

      Os meus filhos tambem alternaram sem traumas entre escolas. Privadas (nao subsidiadas) e publicas. Nao é essa a questao.

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    10. QSCC, não é essa a questão para si… Se quiser, posso citar-lhe imensos pais e até dirigentes políticos, para quem a mudança de escola das crianças seria como retirá-los do seio da sua mãe. E cartazes das crianças, a esse propósito, que fazem chorar as pedras da calçada. O grau de empolamento e chantagem emocional nesta matéria é um case study. Sim, incluindo essas "divisões e incerteza".

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  2. Eu acho que ficava melhor assim: "pois eu sei que sim" porque sim.

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  3. O objectivo do post era ilustrar que nestas escolas caras americanas, para além das propinas, os pais e os antigos alunos ainda têm de fazer doações. E depois ainda arranjam maneira de vender coisas ou cooperarem com lojas para arranjar mais dinheiro, por exemplo. Ninguém pode acusar os americanos de terem falta de criatividade.

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    1. Acho que não é só uma questão de criatividade, é uma questão cultural mais profunda. Vou dar um exemplo a contrario:
      Aqui há umas semanas (meses?) várias vozes se insurgiram no FB sobre a venda duma locomotiva do Tua para uma associação de amantes de ferrovias francesa (sendo o FB um desmemoriado, dava-me uma enorme trabalheira ir procurar exactamente quem). Entretanto a história chegou à imprensa, aumentando o escândalo:
      http://www.jn.pt/nacional/interior/cp-venda-de-locomotiva-historica-a-estrangeiro-5188867.html
      No entrementes, está a decorrer uma campanha de crowdfunding para levar outra locomotiva para o Museu Ferroviário:
      http://ppl.com.pt/pt/prj/drewry
      Naturalmente que eu comentei, num desses artigos dos jornais, que se estão tão escandalizados podem contribuir para a salvação dessa e apontei para o link acima. Naturalmente também que a primeira resposta foi qualquer coisa do género: "Não acha que é o Estado que tem de tratar disso?"

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  4. Os pais, para meterem os filhos num colégio que lhes promete um lugar na futura elite, fazem de boa vontade doações, organizam quermesses, etc. Não julgo que seja muito complicado e de qualquer maneira é questão de funcionamento interno de “clubes” privados. Falando na educação, no que os americanos se superaram, tornando-se uma nação civilizada, foi em terem formado redes federais, estatais e municipais de ensino público.

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