"Daqui à lua não custa nada." Assim respondeu às perguntas dos jornalistas a.da f., durante a conferência de imprensa, convocada pelo próprio, onde anunciou o seu propósito de embarcar, ou enfoguetear, em direcção ao nosso único satélite natural.
"É já ali, já lá se foi antes, e é sempre a direito", explicou o astronauta, confiante. "Levo um capacete, pois claro", disse, "e umas botijas de oxigénio." Inquirido acerca do que faria no caso de deparar com selenitas, respondeu que, passo a citar, "tudo levava a crer serem pessoas razoáveis. Daqui nunca observamos explosões, nem se ouve gritos, ou loiça a partir contra as paredes. Parece-me seguro", concluiu. "Ainda assim, levo uma pistola, nunca se sabe", admitiu. "Há sempre um ou outro mais mercurial", e dizendo isto piscou o olho aos presentes, muitos dos quais, diga-se em abono da verdade, não perceberam a graça, já não se ensina astronomia como antigamente. Estes insistiram em inquirir acerca dos meios de comunicação com os lunícolas que a. da f. pretendia utilizar. "Bom, sempre ouvi dizer que as acções falam mais alto do que as palavras. E assim sendo, levo umas pulseiras de elásticos para oferecer, e uns livros do saramago para os mais intelectuais." De que cores, quiseram saber os repórteres acerca das primeiras. E em que língua, acerca dos segundos. "A minha experiência da lua tem sido fundamentalmente a preto e banco", partilhou, "mas de vez em quando a lua está vermelha, outras vezes amarela, há tons de cinzento e tem-se escrito que é da cor da prata." "Mas o vermelho e o amarelo podem ser só impressão nossa, por isso, levo uns elásticos coloridos num bolso, mais uma vez nunca se sabe, e uns elásticos a preto e branco no outro." E os livros, repetiu quem assistia, seriam em que língua. "Pois, isso foi difícil de resolver." Mas e então, pressionaram. "Não há na terra registo de ter alguma vez sido estudada a língua que se fala na lua.", informou. "Vou arriscar e levar um de cada, ou seja, um livro em cada uma das línguas terrestres, com todas as variantes ortográficas existentes." Suscitado o espanto na audiência com esta declaração, a. da f. partilhou com esta uma sua preocupação. "Vou ter que ir muito carregado." E quando lhe foi perguntado o que faria na eventualidade de os habitantes da lua, sendo capazes de compreender pelo menos uma das línguas que lhes serão apresentadas, não gostarem do saramago, ficou pela primeira vez atrapalhado o cosmonauta, que a isto respondeu nada.
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