Daqui a exactamente uma semana, mais minuto menos minuto, estarei na Filarmonia a cantar esta missa de Schubert.
Eu, e mais 999, e mais os solistas. Não se preocupem comigo, desta vez não me vou envergonhar, porque tenho o playback muito bem ensaiado: nas partes em que não estou segura, abro e fecho a boca dentro do ritmo e das vogais certas, e a coisa vai.
[ ouçam o "Domine Deus", a partir de 10:48, ouçam o - aaaaaah - "Miserere" ]
O meu coro teve cerca de dois meses para preparar a missa inteira. O nosso maestro deu-nos um plano muito exigente para prepararmos previamente cada ensaio, enviava-nos e-mails do género:
Seite Takt bis
1 Kyrie Christe 4 51 88
2 GloriaGratias 14 68 115
Domine Deus 19 151 229
ff. Fuge
Cum sancto 29 329 387
ff. 31 388 432
4 SanctusBenedictus (tutti)
68 26 35
Quem não tinha piano, podia usar este site: http://www.cyberbass.com/Major_Works/Schubert_F/schubert_mass_eflat_major.htm
(que é o perfeito antónimo de música, mas quem não tem cão. Além disso, pode-se reduzir o ritmo, o que dá jeito quando se está a aprender as passagens de fuga.)
Apesar do ritmo intenso do trabalho e de fazermos os trabalhos de casa, no último ensaio senti sinceramente pena antecipada do Simon Halsey, que no próximo domingo vai ter de apresentar uma missa de Schubert com duas dúzias de coros amadores, e mais o seu fantástico Rundfunkchor Berlin. Adoro o Simon Halsey, gosto imenso de trabalhar com ele (esta é a segunda e provavelmente a última vez, porque ele também se vai embora de Berlim, como o Simon Rattle) (desconfio que esses dois em Londres vão provocar uma bela subida do índice de felicidade na região) e deu-me pena: coitado, não merecia levar com uma como eu, que em dois meses o máximo que consegue fazer é preparar o playback na ponta da língua.
(que é o perfeito antónimo de música, mas quem não tem cão. Além disso, pode-se reduzir o ritmo, o que dá jeito quando se está a aprender as passagens de fuga.)
Apesar do ritmo intenso do trabalho e de fazermos os trabalhos de casa, no último ensaio senti sinceramente pena antecipada do Simon Halsey, que no próximo domingo vai ter de apresentar uma missa de Schubert com duas dúzias de coros amadores, e mais o seu fantástico Rundfunkchor Berlin. Adoro o Simon Halsey, gosto imenso de trabalhar com ele (esta é a segunda e provavelmente a última vez, porque ele também se vai embora de Berlim, como o Simon Rattle) (desconfio que esses dois em Londres vão provocar uma bela subida do índice de felicidade na região) e deu-me pena: coitado, não merecia levar com uma como eu, que em dois meses o máximo que consegue fazer é preparar o playback na ponta da língua.
E depois senti muita pena de mim. É que, no ensaio da semana passada, ficámos um pouco mais em duas passagens - uma que me cativou por parecer russa [ 30:10 ] e outra, quase renascentista, que me fez sentir em casa - e por termos parado mais nelas comecei a perceber o que o Schubert queria e a sentir-me encantada por estar em comunhão com ele; pelo meio o nosso maestro dizia gracinhas do género "isto não é erro de impressão, é mesmo maldade do Schubert", a seguir a maldade resolvia-se em beleza, e eu só pensava - cheia de pena - que mais seis meses, seis meses de entrega total e íamos entrar realmente nesta missa e no Schubert, íamos talvez conseguir tocar a alma desta música.
[ ouçam os solistas a cantar "e encarnou", a partir de 22:50 ]
Eu também fazia playback nas aulas de música do nono ano. E o meu era horrível! Que vergonha... Eu não sei cantar, nem tocar, nem ler música. A única coisa que sabia, na altura, era fazer as escalas na pauta porque isso só exigia saber contar minimamente bem.
ResponderEliminarAinda bem, ainda bem: estava a ver que não havia área nenhuma da vida em que não fosses extraordinária!
Eliminar:)
Cara Helena Araújo, como fui algo "cortante" num comentário a um post anterior (s/ a Fernanda Câncio), deixe-me dar os parabéns pelo escreveu - pelo talento musical que certamente tem e pela honestidade sobre o playback. As pessoas com talento musical sempre me causaram inveja - neste caso entenda-se como admiração. Idem para desenhar, pintar, etc. Neste etc. não incluo escrever porque felizmente sou capaz - andei em escolas públicas e privadas, já agora... Quanto a cantar, faço o playback do hino nacional desde criança e, actualmente, nem consigo chegar ao fim, engasgo-me naquela parte de marchar contra os canhões. Não sei se ria ou se chore, fraquezas de um moçambicano do tempo do Minho a Timor (e do Estado Português da Índia, como nos era ensinado) a quem mais tarde explicaram que andámos 500 anos a fazer patifarias pelo mundo fora...
ResponderEliminarEsta vida nos blogues é só supresas: uma pessoa esfalfa-se a escrever algo inteligente e ponderado, e leva um comentário cortante. A seguir, escreve sobre um "inconseguimento", e desperta simpatias. :)
EliminarOlha lá, queres cantar no lançamento do nosso livro no Porto?
ResponderEliminarQuem são os outros 999?
Eliminar( e que parte da missa queres? tendo em conta que se trata de um livro sobre a economia portuguesa, estou indecisa entre o "senhor, tende piedade de nós", o "dá-nos a paz" e o "de novo há-de vir em glória")
Antes da apresentação cantas "senhor, tende piedade de nós", durante em, voz muito baixinha, "dá-nos a paz". No fim, com todos os pulmões "de novo há-de vir em glória".
EliminarOK. Combinado.
EliminarMas não te esqueças que no fim ainda tenho de dizer aquela lista que já vai em 132.