12 anos antes de um destes dias, tive um rude awakening. Literalmente. Na altura vivia numa residência universitária, e uma colega americana batia-me à porta do quarto para me dizer, chocada, que eu não ia acreditar: o Bush tinha sido re-eleito. Foi a primeira coisa de que me lembrei, quando acordei hoje e vi as inúmeras mensagens no telemóvel que tinha por ler. É curioso como o sub-consciente encontra pontos de referência para que não nos dispersemos em racionalizações.
Os resultados confirmaram a minha teoria de que o fator mais importante para explicar o resultado do referendo seria o modo como a campanha gerisse a tensa relação entre Londres e Inglaterra. Londres, a Escócia e a Irlanda do Norte votaram amplamente pela permanência, Inglaterra votou massivamente pela saída. Também já se notou que houve uma diferenciação etária no voto, com os mais jovens a votar massivamente na permanência. Este é um caso, parece-me, de correlação espúria. Calha que, grosso modo, os mais jovens vivem em Londres e na Escócia, e os mais velhos em Inglaterra (onde continuo a excluir Londres). A única separação com interesse analítico é a separação entre Inglaterra e o Reino Unido, e sobretudo a sua capital. A Inglaterra é um país velho, que sente a energia a fugir para se concentrar numa capital que não é tida como sua. Uma cidade que é vista, mais do que uma capital, como uma colónia simultaneamente britânica e europeia, mas nunca inglesa. Um símbolo vivo daquilo que é necessário para manter a ligação indesejada entre Inglaterra e o seu espaço geográfico mais próximo, em vez de a ligar ao mundo.
A desagregação do Reino Unido parece um risco real. O SNP tem inscrito, no seu manifesto político, que qualquer alteração significativa face à realidade de 2014 significaria um novo referendo à permanência da Escócia no Reino Unido. O Sinn Fein já veio clamar por um referendo à re-unificação da Irlanda. Muita gente estará a ver o possível fim do Reino Unido como um custo da decisão inglesa de sair da UE. Uma espécie de apesar disso, ainda assim votaram pela saída. Eu não vejo a coisa dessa maneira, de todo. Acho que, mais do que um custo, é parte da motivação.
Os ingleses já estão assim tão desligados da sua história?
ResponderEliminarPS
Obrigado por ter confirmado noutra página que o seguinte gráfico faz sentido e que, neste artigo já englobara a sua análise. Nem de propósito. Faz-se uma pergunta e, antes disso, já alguém lhe respondeu. Como eu gosto da aldeia global e de saber onde é que existe uma boa probabilidade de encontrar contributos.
https://scontent.flis2-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/13511994_10153965462131263_5195254645798061766_n.jpg?oh=5642bdb250a60eb8a63a0a77bb9bc0bb&oe=58005E97
:) Obrigado eu, Isidro.
EliminarCaro Luís:
ResponderEliminarOntem, numa reportagem da RTP feita a partir de Londres, dizia-se que uma pequena parte dos analistas económico-financeiros da City está convencida de que, a médio prazo, a saída da UE será benéfica.
O RU (ou desunido, ver-se-á) ganhará, então, «músculo económico» e o país impor-se-é no contexto internacional.
Isto não passa de desejo, é análise errada ou resquícios de nostalgia de potência colonial?
Não tenho nenhuam convicção que seja assim. A economia inglesa é hoje, basicamente, a economia de Londres, e é difícil argumentar que a economia de Londres vive melhor sem o acesso ao mercado único e sem a livre circulação de capitais e de pessoas. Londres é, talvez a seguir à Alemanha, a grande benefiária das políticas da UE. Permitiu a vinda de milhões de trabalhadores altamente qualificados, formados a expensas de outros países, que permitiram alimentar um setor de serviços altamente sofisticado e bem sucedido; permitiu a vinda de trabalhadores pouco qualificados que permitiu manter a pressão sobre os salários e os preços; o acesso ao mercado único permitiu exportar os tais serviços; a circulação livre de capitais permitiu atrair investimento direito estrangeiro sem paralelo, que eu saiba, com nenhuma outra região europeia (bom, talvez a Irlanda).
EliminarTalvez tenha razão, mas não sei se é assim taõ espúria. O Carlos Duarte respondeu à minha surpresa: Baby boomers, never had it so good... Acho que, pelo menos em parte, ele terá razão. Do outro lado do gráfico, tem o post do Andé Gama.
ResponderEliminarIsabel, não há nada que me permita concluir, neste referedendo, que a divisão mais importante é a entre Londres e o resto de Inglaterra.
Eliminar*não é a entre Londres o resto de Inglaterra.
EliminarÉ verdade. Há que tirar o chapéu ao Luis Gaspar. Muito antes das sondagens e dos votos, você identificou com clareza os factores geográficos que condicionariam este referendo. Não vi em nenhum outro lugar uma análise tão certeira. Esta casa está de parabéns.
ResponderEliminarMuito obrigado, NG. Muito simpático da sua parte.
EliminarMero pormenor...
ResponderEliminar"De acordo com Sibila Marques, psicóloga social e autora do livro Discriminação na Terceira Idade, em países como o REINO UNIDO, o idadismo é sobretudo contra as pessoas mais jovens, enquanto em PORTUGAL atinge as pessoas mais velhas."
http://www.publico.pt/temas/jornal//velhos-nao-somos-todos-contemporaneos-26809407
[CATARINA FERNANDES MARTINS 14/07/2013 - 00:00]